EUA: a recuperação da diretriz de Reagan
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- Virgílio Arraes
- 21/11/2024
Foto White House Photographic Collection
A chegada do Partido Republicano à Casa Branca a datar de janeiro de 2025 traz a expectativa do retorno de política econômica fundamentada no período duplo (1981-1989) de Ronald Reagan, vinculado à última fase da Guerra Fria, marcada, por seu turno, pelo acirramento da contenda amero-soviética.
Naquela época, Grã-Bretanha (1979), Estados Unidos (1981) e Alemanha (1982) envergariam de maneira pioneira a armadura neoliberal e se posicionariam no plano interno em desfavor da social-democracia – em essência, o estado de bem-estar social estruturado nos primeiros anos da rivalidade bipolar - e no externo incitariam o embate contra os países do socialismo real, capitaneado pela declinante União Soviética.
O ideário neoliberal, articulado no alvorecer do desentendimento entre a Casa Branca e o Kremlin por economistas da faixa norte-atlântica, ascenderia na década de 70, diante da incapacidade da social-democracia de reagir aos efeitos negativos derivados após o I Choque do Petróleo (1973), momento de elevação abrupta da cotação do produto por decisão de grandes exportadores como resposta ao resultado da Guerra do Yom Kippur (1973).
Como contraponto à política social do leste da Europa, o oeste do continente havia encorpado a presença no cotidiano e assim elevado a contribuição nas áreas de saúde, educação e previdência. O trabalho desenvolvia-se dia e noite, a fim de interromper a atração da classe operária e da camponesa pelo comunismo.
Com a crise financeira advinda de sucessivos e expressivos reajustes do preço do barril de petróleo, a proposta neoliberal teria a chancela do eleitorado das nações mais prósperas do arco capitalista, de sorte que a atuação do governo desde então deveria ser a de recolher-se de modo gradativo do dia a dia da cidadania.
O fruto da nova pregação se centraria na economia, ao defender ao eleitorado a limitação dos gastos da administração federal, por acreditar que ela despenderia mal os recursos arrecadados. Com a ocasional retração das despesas, Washington poderia diminuir o valor da alíquota de impostos aos contribuintes como seria a partir de 1986.
Observe-se que o encolhimento de verbas não se estenderia a demandas das forças armadas e do setor astronáutico; ao contrário, iniciar-se-ia, por exemplo, o projeto Iniciativa Estratégica de Defesa, conhecido como Guerra nas Estrelas, e se manteria o do ônibus (sic) espacial, interrompido em decorrência do acidente da Challenger em 1986.
Com menor tributação, segundo o governo, o consumo cresceria e por conseguinte haveria incentivo a maiores investimentos privados. Como desdobramento, haveria a ampliação de empregos e também da arrecadação, de forma que o retraimento das receitas seria temporário.
Na prática, a reaganomics acarretaria vultoso proveito a segmentos da sociedade de maior renda como corporações e desvantagem aos de baixo rendimento, ao afetar o funcionamento dos programas sociais. Outrossim, o déficit público iria subir bastante - https://treasurydirect.gov/government/historical-debt-outstanding/.
Assim, o populismo de Trump caso homenageie de fato o de Reagan, ao nele se inspirar, dificilmente trará benefícios sociais à população, ainda mais por já não existir contraponto ideológico como na época da concorrência entre Washington e Moscou.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.