Correio da Cidadania

Pandemia avança e fim de governo Bolsonaro é cada vez mais urgente

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Foto: Reprodução / Coalizão Negra por Direitos

Nestes primeiros dias do mês de janeiro de 2022 os sites com informações atualizadas sobre a transmissão e número de óbitos causados pelo vírus SARS-CoV-2, ou Covid-19,  após dois anos de circulação entre seres humanos ao redor do mundo, dizem que já infectou mais de 297 milhões de pessoas, causou sequelas físicas e psicológicas em metade das vítimas e foi letal para cerca de 5.500.000.

O Brasil, que de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado era o sexto país em número de habitantes, é o segundo em número absoluto de óbitos causados por complicações pela Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos. O país guarda o luto de 620 mil vítimas fatais causada pela Covid-19 o que significa que 1 em cada 10 mortes registradas no mundo por Covid-19 ocorreu em solo brasileiro.

A desproporcionalidade de infecções e mortes causadas pelo vírus ocorreu também dentro do país, onde o caso do Estado de São Paulo é um dos mais cruéis. Detentor do maior PIB da federação e alçado em 2021 na 21a. posição entre as economias globais, isto não foi suficiente para proteger sua população mais vulnerável e São Paulo foi responsável por 1 em cada 4 óbitos por Covid-19  que aconteceu no país, mostrando que a questão econômica se sobrepôs à emergência sanitária.

A taxa de letalidade da Covid-19 no Brasil nestes dois anos de pandemia, portanto, é superior à média mundial e a tragédia brasileira, de acordo com estudos matemáticos e epidemiológicos, pode ser até 30% maior.

Os dados sobre a pandemia no Brasil estão desatualizados devido ao apagão nos sites de informação do Ministério da Saúde, o que dificulta o conhecimento mais preciso sobre a situação epidemiológica do SARS-CoV-2 no país.
 
Racismo, berço das desigualdades sociais no Brasil.

A pandemia não criou as desigualdades no país, mas a ausência de políticas públicas as expôs e aprofundou o quadro de pobreza extrema que jamais conseguimos resolver.

Calcula-se que metade das famílias brasileiras terminaram o ano com algum grau de insegurança alimentar.

A pobreza extrema, que atingia 10,3 milhões de pessoas há dois anos, dobrou durante a pandemia e hoje são 19,1 milhões de pessoas que vivem em condições de pobreza extrema no Brasil.

E a fome tem cor e gênero neste país.

Os lares onde mulheres negras são as responsáveis pelo sustento têm risco aumentado de insegurança alimentar. E são estas mulheres negras o segmento da sociedade que proporcionalmente mais contribui com as suas rendas para os cofres públicos.

A gravidade destes dados se repete em todos os aspectos da vida de negras e negros no país e alcançam até mesmo o acesso à vacinação contra Covid-19. Levantamento realizado pelo Instituto Pólis em São Paulo em junho do ano passado apontava que o acesso à vacina no sistema público de saúde priorizava a população branca em detrimento da população negra. Um dos efeitos foi que a taxa de imunização da população idosa negra foi menos da metade quando comparada com a população branca da mesma faixa etária.

O projeto político do atual governo, de orientação política de extrema direita, racista, fascista e que nega ainda hoje a gravidade da pandemia, é a chave para compreendermos os motivos pelos quais o país foi desastroso na condução da pandemia. O presidente da República, junto com seu ministério e sua base política no Parlamento, têm total responsabilidade pelo genocídio que vivemos no país. E a palavra genocídio não é uma mera expressão de revolta. Existem provas concretas de que se o governo tivesse trabalhado para combater a pandemia, milhares de vidas seriam poupadas, são as mortes por Covid-19 evitáveis. Dificilmente teremos o número exato, mas a estimativa é de que mais de duzentas mil vidas seriam poupadas.

As ações políticas e protagonismo dos movimentos sociais e do movimento negro foram decisivos para contrapor os horrores do governo. A Coalizão Negra por Direitos, frente de incidência política formada por organizações negras e aliadas da luta antirracista, denunciou o governo brasileiro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA e ONU, pela responsabilidade por milhares de óbitos por Covid-19 e pelas sistemáticas práticas de violações dos direitos fundamentais da população, em especial as de maior vulnerabilidade social.

A revogação, por parte do governo, da resolução que estabelecia a remoção de 792 famílias quilombolas de suas terras tradicionais, na região de Alcântara, Maranhão, nos primeiros dias do ano resultou no fim ao acordo assinado em 2019 com o governo estadunidense para ampliação da base de satélites e foguetes. Esta vitória é resultado da denúncia que o Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara - MABE,  com o apoio da CND, fez a congressistas afro-americanos sobre as violações dos direitos humanos, tão ao gosto do atual mandatário. O Congresso americano recusou financiar esta barbárie e forçou o governo a recuar.

E para dar fim a tantas violações, o povo brasileiro tomou as ruas exigindo o impeachment do presidente e fim deste governo nazifascista.

Mais do que uma emergência para o Brasil, derrubar este governo tornou-se uma necessidade para a humanidade, um avanço civilizatório.

Maria José Menezes é bióloga, membro da Coalizão Negra por Direitos e da Marcha das Mulheres Negras.
Confira o site da Coalizão Negra por Direitos.

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