Correio da Cidadania

Ser mulher favelada é resistir dia a dia!

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São os muros que nos cercam, são os tiros que atingem os nossos filhos, são as nossas casas que nos são tiradas dia a dia, somos arrastadas pela polícia. Ser mulher e favelada é lutar e resistir diariamente em uma vida que nos obrigaram a ter só por causa do espaço que nascemos, moramos e da cor que esta maioria tem.

 

Ser mulher e favelada é ser obrigada a lutar diariamente porque a escolha de ficarmos caladas nunca nos foi dada, já nascemos para gritar, nascemos literalmente gritando contra esta sociedade desigual! Descer o morro, andar pelas ruas da favela, resistir às UPPs, aos tanques guerra, à falta de saneamento e calçadas que não existem já é uma enorme resistência.

 

Chegando ao asfalto ou ligando a TV temos mais lutas, pois o que a gente vê são inúmeros estereótipos sobre nós. Infelizmente, até alguns dos nossos e nossas repetem, mas a culpa não é nossa. Afinal, é um trabalho diário e massivo para que a gente se sinta: fraca, feia, burra, preguiçosa, sem cultura, sem nome e sobrenome e aceite ainda o tapa na cara, para que aceite também a opressão do homem sobre os nossos corpos. A mídia ajuda muito nisso.

 

A gente entende bem o que é isso, nada mais do que preconceitos, machismo e racismo estabelecidos nesta sociedade do capital, feita para que a gente se sinta menor, inferior, triste, sem vida, sem nada, um nada, ferida, calada, culpada.

 

Entendemos ainda que todos os dias é dia de dizermos que temos que virar o jogo, virar a mesa mesmo, continuar gritando e dizendo que temos nome sobrenome e moramos na favela.

 

Gritamos contra todas essas formas de opressões há mais de cem anos, desde que favela é favela. Lembre que a gente nunca dormiu no ponto, não temos esta escolha, não dá, não podemos, não temos tempo. Saiba ainda que, nós mulheres faveladas, temos cultura, vida, lugar de fala e não precisamos da opinião desta sociedade que nos mata diariamente e até silenciosamente.

 

Nossos direitos dentro dos nossos espaços favelados são mínimos, já sabemos disso, e o que temos dentro dele, tudo o que temos foi construído por nossas próprias mãos e a gente se orgulha e muito disso!

 

Viva a luta e resistência da mulher favelada, esta que constrói cada pedaço desta cidade e com as nossas próprias mãos! Somos parte da cidade! Somos favela! Somos faveladas!

 

Gizele Martins é jornalista, comunicadora comunitária e moradora do Complexo da Maré.

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