A entrevista do presidente da CUT e o papel das centrais diante de Bolsonaro
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- Paulo Pasin
- 12/01/2019
Causou forte indignação a entrevista do presidente da CUT, Vagner Freitas, que se diz arrependido do vídeo que gravou em Curitiba no dia 14 de novembro num ato em defesa ao ex-presidente Lula. Na ocasião, ele havia afirmado que: “todos sabem que Lula seria eleito em primeiro turno, por isso está preso. Logo, que fique muito claro que nós não reconhecemos o senhor Bolsonaro como presidente da República”.
Agora, ele afirma que mudou radicalmente de opinião: “Eu fiz uma fala e eu não penso isso. Sabe por quê? Porque eu preciso defender os trabalhadores, independentemente do que nós achemos sobre o Bolsonaro. Se o movimento sindical não fizer a representação direta dos trabalhadores perante o governo Bolsonaro, outros não farão e os trabalhadores ficarão desprotegidos”.
E quando questionado sobre o fato de que não houve qualquer diálogo entre o governo Temer e a CUT, respondeu: “Não havia, mas com o Bolsonaro vai haver porque ele é presidente eleito”.
O governo de Bolsonaro representa o aprofundamento do golpe parlamentar, jurídico e midiático. É a legitimação, por via eleitoral, da “ruptura das liberdades democráticas” iniciada com o impeachment. Esquecer isso é uma rendição criminosa.
O avanço da crise econômica, que havia tomado o centro do sistema capitalista, nos países da periferia foi decisivo para que frações das classes dominantes, suas ramificações financeira, bancária, comercial, de serviços, agroindústria, pelas corporações em geral, que se beneficiaram com os anos de PT no governo, rompessem com este partido, e definissem que, como sempre, o ônus da crise fosse jogado em cima dos ombros da classe trabalhadora, e que para isso seria necessário um regime político mais repressivo, autoritário, reacionário.
O pretexto: combate à corrupção. A realidade: “É a economia, estúpido!”. Frase utilizada nas eleições de 1992 pelo marqueteiro James Carville, que virou um mantra de marketing eleitoral porque o então desconhecido governador de Arkansas, Bill Clinton, venceu o favorito George Bush.
A farsa eleitoral de 2018, com a prisão arbitrária e exclusão do ex-presidente Lula e o megaesquema ilegal de fakes, foi mais um passo para mudar o regime político no Brasil. Encontraram na eleição de um neofascista, ainda que não fosse essa a primeira opção deles, a forma de extinção do ciclo de conciliação de classes.
Claro que lidamos com um cenário mais difícil, ainda que não seja eterno. Porém, não podemos abandonar nossas bandeiras, nossos princípios, nossa caracterização do que representa um governo neofascista no Brasil num cenário mundial de avanço da extrema-direita, como fez o presidente da CUT na entrevista. “Como vai ser o nosso comportamento em relação do governo Bolsonaro? Todas as vezes que ele fizer qualquer ação que seja contra os trabalhadores, nós denunciaremos e organizaremos os trabalhadores para a resistência. Se, por ventura, eles fizerem alguma ação que seja benéfica para os trabalhadores, nós não denunciaremos”. Alguém acredita que Bolsonaro pode tomar medidas favoráveis para trabalhadores, mulheres, negros, indígenas e LGBTs?
Todos os dias Bolsonaro e seus futuros ministros demonstram que estão se preparando para uma guerra contra os direitos trabalhistas, previdenciários, ambientais, sociais e democráticos. Devemos, isto sim, nos preparar junto à base das categorias para uma longa e dura jornada de resistência. Conversar pacientemente com os trabalhadores, mesmo com os que votaram no Bolsonaro. Propor ações que correspondam à realidade atual. Buscar densidade nas lutas sociais, sindicais e políticas a partir das bases. Mais organização de base, menos aparatos que perderam a credibilidade junto à nossa classe.
Encontro Nacional da Classe Trabalhadora
Mesmo porque o distanciamento das bases das centrais sindicais atinge patamares inacreditáveis, como novamente se viu nas pouquíssimas reações ao fim do Ministério do Trabalho. Todavia não se criam alternativas orgânicas de um dia para o outro. Não podemos pegar as ferramentas da classe fragilizadas e jogá-las fora.
Por isso é importante sim a proposta de “um grande encontro nacional da classe trabalhadora” já no início de 2019. Mas com o objetivo claro de organizar uma frente única antifascista que faça oposição sem trégua ou vacilação contra este governo que é inimigo declarado de nossa classe. Não nos cabe o papel de conselheiros ou mediadores do conflito com o capital.
Paulo Pasin é metroviário.