Correio da Cidadania

O cúmulo do oportunismo

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Estou sempre pronto para aplaudir as posturas lúcidas e dignas, partam de quem partirem. Assim, não posso deixar de reconhecer que o Fernando Haddad vem sendo a principal voz petista na contramão do oportunismo sem limites que grassa no partido desde que passou a subordinar os interesses dos trabalhadores e da sociedade aos projetos megalomaníacos do ex-presidente Lula.

Ao entrar no sexto mês do governo ultradireitista de Jair Bolsonaro, o PT ainda não foi capaz de articular nenhuma resistência digna deste nome à escalada da intolerância, do arbítrio e da barbárie, muito menos de colocar as massas nas ruas pra valer.

Assim, tenta pegar carona descaradamente no movimento contra a destruição da Educação que professores e estudantes ergueram sozinhos, beneficiados pelo fato de que a maioria das pessoas de bem preza o ensino e reprova os excessos extremistas dos ministros que o Rasputin da Virgínia instalou no governo Bolsonaro.

E é neste momento que o PT tenta colar sua acentuada rejeição à boa imagem do movimento de professores e estudantes, o que inevitavelmente o enfraquecerá. Parece estar querendo dar razão a Bolsonaro, que reagiu ao megaprotesto de 15 de maio exatamente acusando os manifestantes de serem idiotas úteis teleguiados pela esquerda derrotada na última eleição presidencial.

"O PT não pode tutelar movimento social"

Ponto para o Haddad, que não compactuou com mais este desserviço petista à causa da resistência ao bolsonarismo:

"O PT não pode ter a pretensão de tutelar movimento social”.

“O movimento da educação é um movimento da sociedade, independentemente da posição que a pessoa tenha em relação ao PT e ao Lula".

E um conselho aos dirigentes petistas que, neste domingo (2), iniciaram a pregação divisionista, com afirmações do tipo "Lula e educação são inseparáveis. Essa moçada está indo às ruas pelo legado que Lula deixou nesse país" (Gleisi Hoffmann) e "A campanha do Lula Livre, que no nosso caso é mostrar o julgamento injusto que ele teve, se junta à pauta da educação" (Paulo Okamoto): desistam!

Chega de levarem água para o moinho do inimigo, como fizeram em 2013, quando voltaram as costas para o Movimento Passe Livre, permitindo que aqueles jovens fossem massacrados pela repressão de governos estaduais e sofressem chocantes perseguições judiciais.

E também na campanha presidencial de 2018, quando pavimentaram o caminho para a vitória ultradireitista:

• com a insistência na candidatura fantasma do Lula (que jamais teve a mais remota chance de vingar, não passando de um desagravo fora de hora que tirou o foco do objetivo principal de determos Bolsonaro);

• com o torpedeamento dos esforços para a união de forças da esquerda (que os mais lúcidos pregaram, mas o dono do partido abortou ao puxar o tapete de Ciro Gomes).

O PT tem o direito e até o dever de lutar pela liberdade do Lula. Mas precisa entender que a prioridade máxima da esquerda, neste momento, é evitar a fascistização total da sociedade brasileira. Todo o resto vem depois.


Celso Lungaretti é jornalista e ex-preso político.

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