Correio da Cidadania

100 afastados e 3 mortes nos Correios durante a pandemia: “temos de repensar o que é grupo de risco”

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Correios adotam novas medidas durante a pandemia da Covid-19 e ...

Um dos principais serviços públicos do país, os Correios seguem funcionando normalmente em meio à pandemia, com todas as agências abertas e suas modalidades de entrega, inclusive a que obriga seus funcionários a andarem pelas ruas. Como se pode imaginar, há casos de mortes e afastamento de trabalhadores na empresa, além de queixas sobre condições de trabalho e tratamento das chefias. É sobre isso que entrevistamos Adriano Dias, funcionário dos Correios.

“O correto mesmo era colocar em quarentena todos os trabalhadores dos Correios e manter somente as entregas essenciais, garantindo o salário integral de todo mundo, e nas áreas essenciais garantir EPIs e condições sanitárias adequadas, incluindo redução da jornada (sem mexer no salário e direitos). Acredito que todos os trabalhadores que não estão de quarentena sofrem um grande risco, mais ainda um carteiro que percorre as ruas hoje sem EPI e condições adequadas. Sem falar no abalo psicológico que essa situação causa a todos nós. Ou seja, temos de repensar a classificação do que seja grupo de risco”, afirmou.

Na entrevista, além de mencionar que já há casos de mortes (a empresa reconhece dois) e afastamentos, afirma que os diretores da empresa não perdem a chance de analisar a possibilidade de aproveitar o momento para aplicar os choques de gestão tipicamente neoliberais. Ou seja, rebaixamento salarial, cortes, demissões e assédio moral. E nesse sentido não há dissonância entre o governo federal e congresso, como salienta Adriano, que também é membro da corrente sindical Combate.

“Os trabalhadores em plena crise sanitária estão perdendo direitos e tendo o salário reduzido. O governo Bolsonaro, os presidentes da câmara, Rodrigo Maia, e do senado, Davi Alcolumbre, querem aplicar um brutal ajuste sobre a classe trabalhadora, enquanto destinam trilhões para os bancos. Mais uma vez uma minoria rica vai ser beneficiada em plena crise, enquanto a ampla maioria da população vai perder renda e a própria a vida. Tudo com o aval de Bolsonaro”.

A entrevista completa com Adriano Dias pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: Vemos que os Correios estão funcionando normalmente e os trabalhadores mantêm o ritmo usual de entregas. O que você comenta da situação em meio à pandemia do coronavírus? Há condições saudáveis de trabalho?

Adriano Dias: Queria destacar que os Correios foram uma das últimas empresas a apresentar o plano efetivo de combate à pandemia do Covid-19. Isso já foi uma demonstração de que a direção da empresa não estava muito preocupada com o impacto da crise sanitária nos trabalhadores dos Correios.

Depois começou toda uma batalha para garantir Equipamento de Proteção Individual (EPI) e foi necessário que os sindicatos entrassem na justiça para garantir, ainda que parcialmente, o cumprimento das medidas. Somente agora, depois de um mês da crise, foi anunciada a compra de máscaras. Ou seja, as condições de trabalho não estão totalmente garantidas e teremos de continuar pressionando para que isso se efetive.

O correto mesmo era colocar em quarentena todos os trabalhadores dos Correios e manter somente as entregas essenciais, garantindo o salário integral de todo mundo, e nas áreas essenciais garantir EPIs e condições sanitárias adequadas, incluindo redução da jornada (sem mexer no salário e direitos).

Correio da Cidadania: Existem trabalhadores afastados pelo vírus? Qual a situação dos funcionários que fazem parte do grupo de risco?

Adriano Dias: Sim, existem. E temos dificuldade de saber o número exato porque a empresa não repassa essa informação para as federações. O último dado era de 91 infectados, mas não tenho dúvida de que já passou de 100. Mortes já são pelo menos 3 (oficialmente se reconhece duas).

O grupo de risco foi afastado, mas logo depois do afastamento a empresa anunciou o corte dos adicionais de carteiros, atendentes e Operador de Triagem e Transbordo (OTT), o que pode acarretar em uma perda de até 30% do salário. Ou seja, liberou, mas com essa medida faz pressão para que os empregados retornem.

Acredito que todos os trabalhadores que não estão de quarentena sofrem um grande risco, mais ainda um carteiro que percorre as ruas hoje sem EPI e condições adequadas. Sem falar no abalo psicológico que essa situação causa a todos nós. Ou seja, temos de repensar a classificação do que seja grupo de risco.