Correio da Cidadania

Não sou pardo, sou indígena: o ‘pardismo’ em debate

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Não sou pardo, sou indígena: o Pardismo em debate
11 a 18 de Abril

“O Bom senso afirma, somos muito mais. Estamos em cárcere privado de nossa existência, de nossa essência”, Julio Guató

Nos cinco séculos da invasão europeia ao território de Pindorama, foram empregados enormes esforços do invasor para apagar a presença dos povos originários nesse território, que eram milhões. Não podemos afirmar com certeza a quantidade, pois os dados sobre a população daquele período são desencontrados e assim foi durante todo período da colonização, império e república. Porém, o número de diferentes línguas ultrapassava mil, o que indica um grande número de povos que habitavam e andavam por esse território.

Essa deliberada ação de apagamento, que vai da manipulação de dados demográficos, passa pela escravização, deslocamentos forçados, estupros, eugenia, negação das memórias, imposição de uma determinada caricatura, foram sempre no sentido de apagar o rastro da destruição que a invasão provocou.

Tais processos demonstraram que os povos indígenas sempre tiveram grande capacidade de re(existência), capaz de suportar as dores impostas pelas violências do longo processo colonizador.

A negação das identidades dos povos indígenas e a afirmação de uma outra cultura, estranha aos que já estavam em Pindorama e Abya Yala, começou a ter reversão com a aprovação da Constituição Federal de 1988. Mas foi principalmente com a aprovação da Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), e graças à luta dos povos originários do mundo, que se reconheceram as identidades e o direito à autoidentificação, fatores fundamentais para que o processo de afirmação das identidades indígenas passasse a ocorrer e impedisse que o Estado, principal interessado no apagamento dos povos originários de Pindorama, a partir da definição de quem é e quem não é indígena, retirasse a sua autonomia em se autoafirmar.

É relevante entender que esse não é um processo fácil, ao contrário, mais ainda depois de séculos de massacres de todas as ordens. Trata-se principalmente do próprio processo desumanizador (amplos setores defensores da cultura colonizadora entendiam e ainda entendem o indígena como semicivilizado), que impôs em larga escala o etnocídio e em muitos casos nos fez negar a própria identidade. Ademais, em muitos outros casos determinou outra identidade para nós, diferente daquela que poderíamos afirmar, se tivéssemos tido a possibilidade.

Em Pindorama, as muitas memórias dos mais velhos nos fazem acreditar ser fácil reconhecer quem é indígena, mas foi colocado um enorme muro de dificuldades para que os filhos de indígenas se reconheçam como tais, tamanho foi, e é, o esforço do Estado brasileiro para que seja mantido vedado o acesso a essas identidades.

A proposta desse seminário é pensar um desses aspectos, que é o pardismo, ou a mestiçagem, como um dos fatores dessas táticas de apagamentos adotadas pelo colonizador para nos negar, nos invisibilizar e afirmar o seu projeto de mundo. Entendemos, assim, que elaborar e reelaborar esse conceito ajuda a pensar os processos e suas consequências, algo fundamental para que possamos afirmar qual mundo queremos construir.

PROGRAMAÇÃO

Dia 11 de Abril - 17h

Abertura
O Truque Colonial que produz, o pardo, o mestiço e outras categorias de pobrezas

- Ailton Krenak

Dia 11 de Abril - 18h30

1ª Mesa
A Retomada de Identidade Étnica Curando as Feridas do nosso ser

- Yakuy Tupinambá
- Náma Telikong Pury
- Luciano Kariri
- Marcia Mura
- Lincoln Péricles
- Mercês Gamela
Mediação: Karin Santos

Dia 12 de Abril – 19h

2ª Mesa
Experiências de Retomadas

- Vanda Kariri
- Cacique Ramon Tupinambá
- Opkrieka Juruna Xukuru
- Zélia Balbino (Ponan Puri)
Mediação: Cristina Pankararu

Dia 13 de Abril – 19h

3ª Mesa
Os dilemas jurídicos da Autodeclaração

-Pedro Peruzzo
- Arão Guajajara
- Rebecca Lemos Igreja
Mediação: Lorena Varão

Dia 14 de Abril – 19h

4ª Mesa
Resistência Cultural no processo de retomada e afirmação da identidade indigena

- Day Moreira
- Dayana Molina
- Yaguarê Yamã
Mediação: Moara Tupinambá

Dia 15 de Abril – 19h

5ª Mesa
Constatação do etnocídio

- Tabita Hunemeier
- Marcos Elder Tupinambá
- Tüny Cwe Wazahi Tremembé-Rosa Tremembé
- Vanessa Teixeira
Mediação: Juão Nyn

Dia 16 de Abril – 19h

6ª Mesa
Do pardo a (não) identidade indígena

- Prof. José Augusto Sampaio
- Prof. Estêvão M Palitot
- Profa. Lucia Helena Rangel
Mediação: Lilian Lírica

Dia 17 de Abril – 19h

7ª Mesa
Dilemas para a superação dos apagamentos

- Marta de Oliveira Antunes
- Marcos Aguiar
-Arnaldo Payaya
Mediação: Souto MC

Dia 18 de Abril – 19h

8ª Mesa
O preconceito Velado e os desafios para a superação do Etnocídio

- Fernando Tupinambá
- Ricardo Ventura
- Inaldo Kum’tum Akroá Gamella
Mediação: Jamille Anahata


Transmissão Tv Tamuya
www.youtube.com/c/TVTamuya 

Mais informações sobre o seminário:
https://www.instagram.com/p/CNHrMu_Mc7m/?igshid=5pdxmwnk1ri8  


A Coluna Imbaú é um novo espaço aberto no Correio da Cidadania junto de organizações e indivíduos indígenas de 13 etnias diferentes, com a finalidade de divulgar as produções e o pensamento dos povos originários brasileiros e suas pautas.

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