Correio da Cidadania

Manifesto dos entregadores antifascistas

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Entregadores antifascistas: "Não quero gado. Quero formar ...
Foto: Guimel Salgado/Pandelivery

O movimento dos Entregadores Antifascistas nasceu da necessidade de organização da nossa categoria, com um programa de luta permanente que questione as estruturas que sustentam as opressões que caem sobre nós e vá na raiz do problema. Nós fazemos política de rua e defendemos a autogestão dos trabalhadores sobre seu trabalho.

Acreditamos que a única saída é a organização coletiva, a luta de rua. Temos a compreensão de que nossa luta não deve se prender somente às necessidades imediatas e mínimas de sobrevivência, e questionamos a ideologia de acúmulo capitalista, pois acreditamos que toda a renda produzida deve ser melhor distribuída, pensando no avanço da sociedade como um todo. Não somos iguais nem na pandemia. Não podemos esquecer que a primeira morte de COVID-19 no Brasil foi de uma trabalhadora doméstica que contraiu o vírus da patroa.

A burguesa pode se tratar nos melhores hospitais e sobreviveu, enquanto a trabalhadora não teve a mesma $orte de poder pagar por hospitais privados. O Coronavírus deixou claro mais uma vez que o capitalismo não é sustentável. Já estamos próximos da marca de 70 mil mortos no país e quem tem menos dinheiro está morrendo mais, temos que ir pra rua trabalhar e nos expor ao vírus se não perdemos nosso teto.

Não foi possível garantir aos trabalhadores brasileiros nem um mês de lockdown, que o capitalismo já se treme todo. Somos antifascistas porque estamos numa grande legítima defesa e o sistema capitalista, injusto como é, não tem outra opção a não ser usar a força para se manter em momentos de crise política e econômica. Se o governo ou as empresas nos bloquearem e impedirem nossa liberdade de expressão, nenhuma luta por direitos pode ser tocada. Isso se mostrou diversas vezes na história do nosso país. De Getúlio Vargas à Ditadura Militar, que nos assombrou por décadas, vemos que os primeiros a serem perseguidos são os trabalhadores que lutam por seus direitos. Não podemos esquecer que há pouco tempo na nossa história, pessoas foram presas por se manifestarem por seus direitos, por fazerem greve.

Os aplicativos provam hoje como a burguesia se comporta frente aos trabalhadores organizados que questionam o seu poder! Eles negam o diálogo, e bloqueiam qualquer trabalhador que julgam subversivo dentro da plataforma, esmagando a voz dos trabalhadores/as com uma estrutura enorme e poderosa, temos que nos calar frente as injustiças que passamos, com medo de sofrermos represálias e não termos mais a possibilidade do mínimo sustento de nossas casas.

Precisamos de um movimento que dê nome aos bois (ou porcos capitalistas) que lucram com o nosso suor e sangue, que passeiam em cruzeiros luxuosos enquanto milhões de nós estamos nas ruas, trabalhando para produzir o dinheiro deles, no frio e muitas vezes com fome, sem direito a um prato nem remuneração que pague uma refeição digna.

Conhecemos o aroma das melhores comidas das cidades e não temos direito nem a um prato de arroz e feijão por parte das empresas! Precisamos de uma luta unificada contra aqueles que lucram enquanto nós morremos em acidentes, ou ficamos com sequelas permanentes, nas correrias do dia a dia.

O projeto da nossa cooperativa está pautado principalmente pela solidariedade e apoio-mútuo. Percebemos que os problemas desses apps não são a tecnologia, mas a ideologia de enriquecimento individual por trás dela, que faz com que milhões de trabalhadores rodem noite e dia no sol e na chuva para produzir a riqueza de meia dúzia de investidores e acionistas que ficam no conforto de seus escritórios luxuosos com ar-condicionado.

Não aceitamos menos direitos que o que já foi conquistado através de muita luta, muito trabalho e muita greve. Saudamos as várias iniciativas de auto-organização de entregadores que estão surgindo pelo mundo através do cooperativismo de plataforma, com uma tecnologia de entregas por aplicativo que pertence à classe trabalhadora e (é)seja controlada por ela.

O projeto em desenvolvimento da nossa cooperativa tem o compromisso de fornecer salário justo para os entregadores, sem taxas por parte do aplicativo além das necessárias para o sua manutenção. Condições dignas trabalhistas, como alimentação, auxílio para acidente/doença, férias e local salubre para descanso entre entregas. Dar uma condição justa de parceria entre a cooperativa e fornecedores, sem taxas abusivas.

Somos contra todo tipo de violência gratuita e preconceito que atrase o avanço da sociedade seja por sexo, raça, origem, identificação ou orientação sexual.

Não somos um movimento vinculado a partido político ou de uma ideologia específica, o Entregadores Antifascistas não é necessariamente um movimento anarquista ou comunista, mas de trabalhadores/as com sentimento revolucionário no coração. Por isso, convidamos você, que é entregador/a, a se juntar ao nosso movimento e organizar de forma coletiva a sua justa indignação. Só a luta muda a vida. Não existe patrão sem força de trabalho, mas existe força de trabalho sem patrão!

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