Campeonato estadual para que(m)?
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- Irlan Simões
- 10/02/2017
Acostumado a discutir a estrutura do futebol brasileiro com gente de bastante conhecimento e perspectiva crítica, percebi que não há debate mais difícil e de maior dissenso do que os famigerados “campeonatos estaduais”. Assumo, desde já, minha militância por um fim a esses torneios deficitários, desequilibrados e desinteressantes.
Os argumentos dos colegas que são a favor dos campeonatos estaduais geralmente giram em torno dos seguintes pontos: desenvolver futebol em cidades menores, oferecer jogos para os habitantes dessas cidades, fortalecer futebol a partir da base. Justifica-se que os estaduais não podem morrer porque são fundamentais na “reprodução” do futebol brasileiro, um entendimento de que eles ainda são uma parte importante da engrenagem geral do futebol nacional.
À parte de boa parte desses defensores se basearem no único estadual não-deficitário do país, que é São Paulo; ou nos poucos que possuem média de público maior que 5 mil pagantes (já contando os grandes públicos dos clássicos nas finais), como Minas Gerais e Rio Grande do Sul; há uma crença geral de que o único problema dos estaduais – e por isso sua dificuldade de ser útil aos menores times – se resume ao calendário.
O que gostaria de mostrar é que os campeonatos estaduais significam exatamente o contrário do que os nobres e respeitosos colegas acreditam que eles sejam. Eles são a raiz da precariedade do futebol brasileiro em sua base.
Ao longo desse texto vou discutir elementos que visam justificar uma alteração completa dos campeonatos estaduais. Não para acabá-los, como o título dá a entender (você caiu!), mas exatamente com o objetivo de mantê-los vivos através de uma melhor localização desses na conjuntura atual do futebol brasileiro.
Por ser um país de imensas proporções e com desequilíbrios econômicos e geográficos, vou reduzir o escopo da análise a partir dos estados nordestinos. São nove estados que dão conta de demonstrar essas diferenças, além de serem os participantes da Copa do Nordeste, maior torneio do futebol brasileiro no primeiro semestre. (Também escolho esses estados porque tratarei exclusivamente da Copa do Nordeste na próxima publicação nessa coluna).
Dos estados do Nordeste, podemos definir um escalonamento claro diante da potência dos clubes. Bahia (Vitória e EC Bahia) e Pernambuco (Sport, Náutico e Santa Cruz) correspondem ao topo da pirâmide, contando com os clubes que participam da Série A com maior frequência. Na sequência podemos listar Ceará (Fortaleza e Ceará SC), Rio Grande do Norte (América e ABC) e Alagoas (CRB, ASA e CSA) como estados que possuem clubes que estão com frequência na Série B. Numa escala menor estariam os clubes dos estados restantes: Paraíba, Maranhão, Sergipe e Piauí, que listei em ordem de resultados recentes dos seus clubes em competições regionais e nacionais, com participações frequentes na Série C (eventualmente na Série B, em poucos casos).
Como se pode ver são realidades distintas que compõem o mesmo universo, e nos permitem fazer uma análise com foco na relação entre as potências locais, os clubes menores, as federações, os campeonatos estaduais e a Copa do Nordeste.
Os “estaduais” na integração do futebol brasileiro
De forma antecipada quero deixar claro que acredito que a extinção dos campeonatos estaduais seria um crime. Esses torneios centenários são a pedra fundamental do futebol brasileiro, responsáveis por permitir o que Gilmar Mascarenhas (leiam esse cara) chamou de “estrutura polinucleada” de crescimento do nosso futebol. Por ser o Brasil um país imenso, só torneios de ordem “local” poderiam permitir a difusão desse esporte tão amado, refletindo nossa dinâmica econômica do período: pouco contato comercial e intercâmbio cultural, com centros urbanos desconectados.
Não foi à toa que em um espaço que menos de dez anos surgem ligas de norte ao sul do país. São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, João Pessoa, Fortaleza... São competições amadoras e ainda restritas à elite local, que vão surgindo como meio de formatar o futebol em cada uma dessas localidades. Os que hoje são considerados “campeonatos estaduais” são o desenvolvimento dessas formas embrionárias de torneios (vale considerar que em todo o mundo essa questão das ligas regionalizadas também se fez presente nos primórdios).
Ao longo de muitas décadas esses torneios foram “o mundial” de cada uma dessas cidades. Tirando o intercâmbio mais fácil no eixo RJ/SP, que proporcionou os primeiros torneios interestaduais (alguns até chamavam de nacionais), os outros estados se resumiam a essas disputas locais, e elas realmente representavam muita coisa para os amantes do futebol local. Não era à toa que algumas cidades dessas contavam com quase uma dezena de clubes com boa torcida. A Bahia, que hoje se resume a Vitória e Bahia, já contou com Ypiranga, Galícia, Leônico e Botafogo apenas na capital.
O que acontece ao longo do tempo é que os estaduais vão perdendo gradualmente a sua importância na medida em que os torneios nacionais vão ganhando força. O processo foi lento, mas gradual, com aumento de participantes e fases eliminatórias cada vez mais longas e disputadas.
Mas há outro processo que é preciso frisar. À medida que a indústria do futebol vai se sofisticando e movimentando montantes de dinheiro cada vez maiores (inclusive, a partir de públicos de mais 100 mil torcedores, em estádios viabilizados pelo poder público em várias capitais), a “metropolização” – termo usado pelo supracitado Gilmar Mascarenhas – proporciona a formação de potências estaduais, que se sobressaem ainda mais dentro dos contextos locais (as potências já existiam, geralmente em uma dupla mais forte, mas se descolaram da escala local para se tornarem forças de nível nacional).
Há também o fator, em período posterior, da sofisticação de nossas estruturas de transportes e comunicação em território nacional (pura economia política!). Esses elementos consolidam a nacionalização do futebol brasileiro em definitivo. Se antes os clubes se resumiam a 10 ou 12 datas em jogos nacionais (como é a Série D hoje!), e tinham todo o resto do ano para a disputa de estaduais, outros torneios amistosos e excursões, a partir dessa nova infraestrutura os torneios poderiam começar a ter maiores dimensões: passam a 24 ou 28 datas para a primeira fase, com quartas, semi e final em jogos de ida e volta para os 8 melhores colocados.
Essa transformação impacta completamente nos estaduais. Primeiro porque precisariam se resumir a datas cada vez mais restritas. Segundo porque colocariam em choque os grandes clubes de nível nacional contra clubes com estrutura bem menores, incapazes de montar elencos minimamente equiparáveis. Os estaduais se tornariam campeonatos sem graça, previsíveis até a final, onde as grandes forças – principalmente após a midiatização do futebol brasileiro, com suas cotas televisivas milionárias – se encontrariam e fariam a média de público e renda sair dos números medíocres. Até essa final, o torneio seria acompanhado por pouquíssimas pessoas, em jogos de pouco nível competitivo e atratividade.
O desenvolvimento da indústria também simbolizou uma brecha para a barganha de salários cada vez maiores dos atletas, principalmente quando da chegada do ator econômico mais relevante do futebol atual: o empresário de jogador. Os clubes de ponta são obrigados a desembolsar valores gigantescos para ter um jogador de qualidade.
Lembro de um jogo do campeonato estadual baiano que apenas um jogador do Bahia possuía salário superior a todo o elenco do time adversário. Uma disparidade que o futebol até tolera – devido a sua capacidade de reverter placares para os mais fracos – mas que não sustenta um campeonato de 28 datas, como eram durante os anos 2000.
Sendo um torneio deficitário, sem competitividade real e totalmente descolado do futebol nacionalizado e dividido em três, e depois quatro, divisões mais estruturadas, os campeonatos estaduais seriam algo totalmente descasados da disputa nacional, apenas classificando clubes para a Série D. Mas, ainda assim, contavam com a participação de clubes das Séries C, B e A. Por quê?
Cerca de 10% da renda bruta dos jogos do campeonato estadual vão para os cofres das federações estaduais. Qualquer jogo, mesmo aqueles jogos em que o custo operacional é maior que o valor arrecadado em venda de ingressos. Atualmente é muito difícil explicar por que elas ainda existem. Só através de uma noção da estrutura política da Confederação Brasileira de Futebol.
As federações sugam a verba das bilheterias e não se comprometem com absolutamente nada. Não são, portanto, uma espécie de “sócias” dos clubes no custeamento do futebol, mas apenas um órgão cartorial, um carimbador milionário, que significa um custo a mais nos jogos. Custo extremamente relevante para clubes de menor porte.
Só continuam vivas porque o futebol brasileiro ainda está sob a tutela da CBF. Pura e simplesmente: cada federação corresponde a um voto num estreito colégio eleitoral, responsável pela eleição de uma nova gestão a cada novo pleito pela presidência da CBF, que só conta com elas e os clubes da Série A.
As tentativas de formação de uma “liga de clubes”, que retire o poder da confederação nacional, como fizeram diversos países europeus, historicamente fracassaram. Falarei sobre isso na próxima publicação, quando também tratarei da Liga do Nordeste. Mas até aqui é importante entender que enquanto o futebol brasileiro for comandado pela CBF, as federações estaduais serão devidamente agraciadas com a oferta de muito espaço no calendário para a realização dos seus estaduais, deficitários para os clubes, mas que permitem arrecadações milionárias para essas entidades, hoje parasitárias.
Na semana em que esse texto foi escrito, alguns casos mereceram o nosso destaque (na verdade, incentivaram a pressa pela publicação desse texto). O primeiro foi o curioso caso em que um jogo do Bahia contra o Jacobina, pelo Campeonato Baiano, render um custo de R$80 mil para o clube da capital. A federação, mesmo com esses números negativos, conseguiu arrecadar mais de três mil reais.
O segundo caso foi a declaração inacreditável de Evandro Carvalho, presidente da Federação Pernambucana de Futebol, que disse que o Nordestão (que, friso, é o único torneio rentável do primeiro semestre, tirando o Paulista) estaria sufocando os estaduais da região, e por isso entraria com um pedido na CBF para que se reduzissem as datas do torneio regional.
Destaco um trecho da matéria do JC Online: “A Copa do Nordeste está desvirtuada. A CBF misturou futebol e política e estrangulou os estaduais. Não temos mais datas. Temos de resolver isso de uma vez por todas. Não podemos mais esperar”. O cartola pernambucano foi o mesmo que anos atrás se utilizou de uma grande “tortura estatística” para dizer que o campeonato estadual que arrecada para a sua federação consegue ser mais rentável que o Nordestão.
Creio que não seja nem necessário elencar os absurdos que envolvem a declaração de Evandro Carvalho. Caso o leitor ainda não tenha compreendido, sugiro a leitura do texto do pernambucano Cássio Zirpoli sobre o assunto. Eu particularmente me recuso a falar algo mais sobre essa declaração non sense.
Profissionalismo x semiprofissionalismo
Mudar os estaduais significa, inclusive, falar de flexibilizar as custosas exigências feitas ao futebol profissional de alto-rendimento.
Atualmente clubes que só disputam 10 partidas ao ano são obrigados a cobrir custos de operação de jogos do nível de clubes de torcidas imensas que jogam ao longo de todo o ano. Além de serem obrigados a levantar recursos para arbitragem, segurança, iluminação e tantos outros elementos; também têm suas pequenas praças desportivas submetidas a exames, perícias e laudos que exigem estruturas para um tipo de estádio que não condiz com a realidade desses pequenos municípios.
O argumento da “geração de emprego e renda” é muito justo, mas não condiz com a realidade. Os jogadores desses pequenos clubes que, quando muito recebem 4 mil reais mensais, são dispensados assim que acontece a eliminação nos estaduais, ficando desempregados – ou retornando a sua atividade de origem – para manter seu sustento. Do mesmo modo, cada cidade dessas do interior só tem futebol durante 2 meses no ano, quando muito.
Em muitos países as ligas inferiores possuem dinâmicas que buscam observar exatamente esse aspecto: por contarem com uma faixa salarial menor, os jogadores dividem a vida de jogador de futebol com um segundo emprego; e em contrapartida são submetidos a rotinas de treino e de jogos menos extenuantes e agressivas do que os jogadores profissionais, que jogam duas vezes por semana. É uma espécie de semiprofissionalismo que poderia ser facilmente aplicado no Brasil, de modo a manter os estaduais vivos.
Ainda agora em 2017, a Jacuipense ameaçou abandonar o campeonato estadual depois das críticas ao estado do gramado estádio Valfredão, em Riachão do Jacuípe, alegando que o clube não tem verbas para mandar jogos fora da cidade, que fica há 186km de Salvador. O jogo contra o Bahia foi atrasado em quase 40 minutos por conta da ausência de gerador, quando houve queda de energia no estádio. Em suma: são clubes incapazes de dar conta das exigências do futebol profissional de alto rendimento porque não há recursos para tal.
No outro extremo, dos clubes de grande porte, há uma sobrecarga de jogos que não é vista em nenhum outro lugar do mundo. São muitas datas de jogos encadeadas, com quase 40 semanas sem uma única data de descanso para os jogadores. Os estaduais ocupam parte considerável do período que em outras localidades seria de pré-temporada.
Além disso, são jogos que apertam o Campeonato Brasileiro, em todas as suas séries, porque esses são obrigados a ter início apenas em maio; para dar espaço de datas. É uma lógica que compromete a presença dos torcedores no estádio porque confina a quantidade de jogos a eventos quase semanais, e com a política exageradamente cara de política de ingressos aplicada no Brasil não permite que o torcedor esteja presente em todas as ocasiões.
Para além disso, o fato de os jogos se intercalarem entre dias e fins de semanas tem criado grandes problemas para os jogadores. O Bom Senso FC, movimento dos jogadores profissionais, hoje desativado, chegou a pautar a redução do número de datas. Inclusive, a própria CBF chegou a pensar uma mudança no calendário que resumisse as 38 rodadas do futebol brasileiro aos fins de semana, deixando os meios de semana para os demais torneios em formatos de copa (fases eliminatórias, portanto, que envolvessem números mais restritos de clubes).
Apontamentos para um formato “saudável”
Na Paraíba a segunda divisão local é pensada em regiões. Como o estado possui distâncias de quase 500 km entre as sedes dos clubes, os grupos foram divididos entre “litoral”, “agreste” e “sertão” (pura poesia, por sinal). Assim os custos de deslocamento são dirimidos, as rivalidades locais são apuradas e os recursos são melhores organizados a partir das complexidades logísticas de cada fase.
O problema é que essas divisões inferiores dos estaduais brasileiros continuam sendo profissionalizadas, ainda que só contem, muitas vezes, com a inscrição de 5 ou 6 equipes. São poucos times que jogam poucos jogos para conquistar uma ou duas vagas na elite do ano seguinte. Elite que só seria jogada durante 2 meses, enquanto o calendário dos grandes clubes locais permitisse a marcação de jogos. Uma bizarrice.
Na Inglaterra, onde tanta coisa ruim é dita como boa (como os ingressos caros e o público elitizado), há coisas boas que realmente deveriam ser atentadas. A sexta divisão (Conference North e Conference South) são ligas regionalizadas com várias subdivisões internas, com o objetivo de desenvolver o futebol em pequenas zonas com um número determinado de cidades com pouca distância entre si.
Apenas a partir da quarta divisão é que se exigem, de fato, o profissionalismo de todos os jogadores de um clube e outras demandas de estruturas nos estádios, de forma escalonada. Isso permite que pequenos clubes mantenham suas estruturas saudáveis, enquanto “se preparam” para atingir níveis maiores. Com marcação de jogos para todo o ano, o que é mais importante!
Essa é uma lógica absolutamente viável em qualquer estado do Brasil. Não faltam torneios amadores intermunicipais que alimentem essa estrutura, onde os clubes vencedores optariam pela entrada ou não na liga profissional.
Isso não impediria que essa liga estadual, que dá acesso a ligas superiores, permitisse que seus vencedores disputassem um torneio com os grandes locais, de tiro curto, com poucas datas e de formato em mata-mata. Isso é igualmente viável nos estados em que os clubes jogam a Copa do Nordeste (em suas possíveis primeira e segunda divisão, como já aconteceu uma vez). Seria uma forma de manter a “história centenária” dos campeões estaduais.
Partindo da estrutura atual dos nove estados do Nordeste, vejamos o “mapeamento” dos clubes profissionais inscritos em seu torneio estadual.
No caso da tabela acima, leia-se: clubes que participam da Série A nacional; clubes que participam da Série Nacional; clubes que participam da Série C nacional; clubes que participam da Série D nacional; clubes restantes que participam da 1ª divisão do campeonato estadual, mas não disputam as quadro divisões nacionais; clubes que disputam a 2ª divisão do campeonato estadual.
Vale lembrar que nos idos de 2001 e 2002 o torneio nordestino foi transformado em Campeonato do Nordeste. O sistema previa que todos os clubes se enfrentavam entre si e os quatro melhores eram classificados para a semifinal. Com isso foram necessárias 19 datas, o que obrigou os estaduais a serem “enxutos”.
Para caber no então calendário da CBF, a fórmula foi criar um “Supercampeonato Estadual”, que aconteceria, por exemplo, com os participantes do Nordestão (Vitória, Bahia e Fluminense) com a adição dos três melhores do Campeonato Baiano regular, quem em 2002 foram o já extinto Palmeiras do Nordeste, o Cruzeiro e a Catuense.
Para a história, o Palmeiras foi o legítimo campeão baiano da ocasião, e o Vitória foi o “supercampeão”. Apesar de ainda contar com longas 12 datas, o modelo de 2002 permitiu o foco total das equipes no Nordestão, enquanto oferecia um calendário para as equipes menores que não estavam disputando o torneio regional.
Caso trouxéssemos essa ideia para a atualidade, junto com a mudança do regulamento nos mesmos moldes, mais a criação da segunda divisão nordestina (com até 20 clubes, sendo os 18 classificados pelos estaduais e os rebaixados do ano anterior); é possível pensar um “supercampeonato estadual” com quartas, semi e final.
Portanto, com 6 datas, disputadas entre os melhores do campeonato estadual regular, e a entrada dos participantes das primeiras e segundas divisões nordestinas – independente do número que fossem. Cabíveis, portanto, nas 31 datas ofertadas pela CBF para os torneios que antecedem o início das quatro divisões do Campeonato Brasileiro.
O desempenho nesse “supercampeonato” seria, inclusive, uma possibilidade de decidir quem seria o participante de cada estado na segunda divisão regional – com a exceção daqueles que já tivessem sido promovidos para a primeira divisão.
Mas, para que esse modelo funcione, seria preciso duas medidas de aplicação difícil, apesar de não impossível.
Primeiro, convencer as federações estaduais a se resumirem ao que realmente são capazes de proporcionar: estimular, organizar e investir no “futebol de base”, de nível intermunicipal e semiamador.
Segundo, inverter o calendário do “futebol de base”, descolando-o do futebol profissional de alto rendimento. Isso significa não resumir esses estaduais às datas “livres” que os grandes clubes possuem para jogar os torneios nacionais de Série D, C, B e A (fevereiro, março e abril).
Isso implicaria em fazer a fase maior do campeonato estadual ser realizada no segundo semestre, e o “supercampeonato” ser realizado no início do ano, com datas dividas (antes ou depois) com os regionais. Seria a realização da tão desejada “adequação ao calendário europeu”, mas voltada exatamente para aqueles clubes que são simplesmente desativados a partir do mês de abril.
Frisando novamente a lógica dos pequenos clubes brasileiros, incluindo clubes de grande torcida em estados mais fracos: joga-se o estadual por no máximo três meses; selecionam-se dois clubes para a disputa da Série D (ao todo 64 clubes de um universo de mais de 300), que disputam uma breve fase de 6 jogos ao longo de um mês. Caso eliminados, encerram sua atividades em julho. Caso classificados, disputarão fases eliminatórias até meados de outubro.
E aí voltam a fechar suas portas até que fevereiro, o “mês dos estaduais” do calendário da CBF, permita que eles voltem a jogar futebol. Sem grandes lucros, sem grandes receitas, com o parasitismo das federações engolindo o pouco que se arrecada; e novamente com o risco de fechar a porta por mais de seis meses.
Um ciclo vicioso, desnecessário, dispendioso, e que atrapalha torneios de grande sucesso a deslancharem voos mais altos, como é o caso da – essa sim, Evandro Carvalho – sufocada Copa do Nordeste.
Na próxima oportunidade falaremos do início, crescimento, desenvolvimento e assassinato da Copa do Nordeste entre 1997 e 2003. É quando entenderemos porque a nova Copa do Nordeste ainda tem muito a crescer, mas precisa se desgarrar das federações urgentemente.
Irlan Simões é jornalista e pesquisador.
Artigo publicado originalmente na Caros Amigos.