‘Ficar na rua, desmilitarizar a PM e Tarifa Zero são os três pontos fundamentais’
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- Gabriel Brito e Valéria Nader, da Redação
- 15/08/2013
Após praticamente dois meses sem convocar manifestações, período no qual se dedicou a reflexões e trabalhos de base nas periferias de São Paulo, o Movimento pelo Passe Livre (MPL) voltou às ruas neste dia 14 de agosto. A pauta foi o reforço de suas reivindicações no transporte coletivo e também o impulso do “Fora Alckmin”, que após a explosão do escândalo do propinoduto tucano nas licitações do metrô ganha força.
Diante disso, o Correio da Cidadania entrevistou João Victor Pavesi, ativista político presente nas jornadas do movimento, que avalia muito positivamente o mais recente ato e acredita na necessidade de se manterem os três pontos que intitulam a matéria na ordem do dia, constantemente.
“Há a influência do que ocorre nas outras cidades, a exemplo do Rio de Janeiro. Observamos que ao longo do mês de julho o desgaste do governo Cabral aumentou tanto que o Fora Cabral caiu na boca do povo. E há muitas semelhanças entre os governos Cabral e Alckmin”, afirma.
Além disso, aponta que a participação da ala governista no protesto tem a intenção somente de colocar seu Fla x Flu com os tucanos na agenda, de olho nas eleições estaduais e federais de 2014. Prova disso seria a CPI dos ônibus na Câmara dos Vereadores de São Paulo, “muito bem amarrada pelo PT e PSDB, a qual não conseguirá descobrir muita coisa a respeito dos contratos do transporte coletivo municipal”.
A entrevista completa com João Victor Pavesi pode ser lida na íntegra a seguir.
Correio da Cidadania: Como avalia a manifestação de ontem, 14 de agosto, convocada pelo MPL e pelos metroviários, para denunciar a máfia dos transportes em São Paulo, após a explosão do escândalo do metrô sob o tucanato – houve a massividade e intensidade esperadas?
João Victor Pavesi: Sim, foi uma manifestação muito boa, porque depois de pouco mais de um mês de uma manifestação não convocada pelo Movimento Passe Livre (11 de julho, dia nacional de lutas convocado pelas centrais sindicais), conseguimos alcançar 5000 pessoas na cidade.
Vale a pena citar que as pessoas presentes tinham ânsia de fazer um ato mais longo, retomando um pouco a história das mobilizações de junho, que eram muito longas e por vezes trancavam avenidas importantes. Esse enredo, muito marcante no mês de junho, não esteve presente ontem, mas a população estava com muita disposição pra isso.
No geral, foi muito bacana o retorno às ruas do movimento e acredito que é preciso desdobrar em mais manifestações brevemente.
Correio da Cidadania: Quais os movimentos e setores de esquerda que estiveram mais ativos?
João Victor Pavesi: É difícil montar uma hierarquia a respeito de quem foi mais ativo. Cada movimento e cada setor tiveram intervenção onde possuem mais acesso e contatos diretos. O pessoal do Sindicato dos Metroviários, além da sua base, tem feito trabalhos ao lado do MPL, que por sua vez está muito envolvido em trabalhos nas regiões periféricas da cidade. Acho que todas as organizações que participaram do ato conseguiram fazê-lo de forma equivalente, sem uma se sobrepondo à outra.
Correio da Cidadania: E quanto à esquerda mais governista, PT e a CUT, por exemplo, como foi a sua participação?
João Victor Pavesi: Esse setor participou da manifestação a fim de conseguir montar o Fla-Flu com o PSDB. Isso está muito evidente diante da aproximação do processo eleitoral de 2014, além das movimentações que o PT faz na Assembleia Legislativa pra instalar uma CPI dos Transportes na esfera estadual.
A questão é: sabemos que a relação do PT e do PSDB, no que corresponde a questões de CPI e corrupção, é semelhante, senão idêntica.
Na capital, existe uma CPI dos Transportes muito bem amarrada pelo PT e PSDB, a qual não conseguirá descobrir muita coisa a respeito dos contratos do transporte coletivo municipal.
Na questão estadual, o PT reivindicar uma CPI se deve muito mais à intenção de cavar espaço nas eleições de 2014, para governador, do que de fato para desvendar tais questões.
O setor governista participou da manifestação, no entanto, não tem o lastro das manifestações de junho. É um setor que se comporta de maneira muito mais oportuna do que de acordo com a onda das manifestações de junho.
Correio da Cidadania: Desse modo, seria inviável que fizessem aportes positivos a essa pressão popular tanto sobre as questões relativas aos transportes quanto sobre o Alckmin?
João Victor Pavesi: Eles conseguem contribuir, porém, é um setor que não tem esse aspecto do histórico, como disse. Ontem, quando a manifestação terminou, na Praça da Sé, por volta de 19 horas, a maior parte dos presentes ainda pedia por mais. E esse setor mantém uma frequência muito tradicional em seus atos, na qual a manifestação tem começo, meio e fim. Não pode sair nada do controle, porque isso significa que o ato foi ruim.
O processo de mobilização de junho constituiu uma nova lógica de fazer atos de rua. Os grupos políticos não têm 100% do controle, o que é positivo, pois demonstra que há uma incorporação gigantesca da população, a qual é muito superior a um setor de vanguarda.
Portanto, esse setor indo às manifestações, com uma lógica pré-junho de 2013, contribui, mas não tanto quanto poderia.
Correio da Cidadania: Como enxerga o Fora Alckmin? Acha que pode pegar e ser significativo em São Paulo, em termos até mesmo de alavancar uma discussão mais profunda dos atuais e profundos impasses urbanos?
João Victor Pavesi: Não restam dúvidas. O Fora Alckmin hoje é algo implícito em São Paulo. É possível, sim, desdobrar e alcançar esse Fora Alckmin. Porque quando há o questionamento da morte da população negra e jovem das periferias, quando começa a se questionar a maneira como a polícia militar se comporta na cidade, juntando-se às questões agora colocadas nos transportes, está se questionando o governo a fundo.
Ultrapassa uma questão específica, inicialmente a tarifa, e começa a ganhar novas proporções, em que a personalidade que organiza toda a retirada de direitos sociais é o governador Alckmin.
E há a influência do que ocorre nas outras cidades, a exemplo do Rio de Janeiro. Observamos que ao longo do mês de julho o desgaste do governo Cabral aumentou tanto que o Fora Cabral caiu na boca do povo. E há muitas semelhanças entre os governos Cabral e Alckmin. Mesmo em situações diferentes no que se refere à política nacional, são governos que possuem muitas semelhanças nas práticas cotidianas em relação à organização da cidade, da metrópole etc.
Correio da Cidadania: Acredita que resultou dos protestos de ontem alguma semente que possa conduzir à investigação da corrupção nos transportes? Neste sentido, quais os próximos passos que poderão daí advir, os quais vocês estão realmente dispostos a bancar?
João Victor Pavesi: São três pontos importantes, fundamentais. O primeiro é não diminuir o número de manifestações. Não pode. Elas precisam voltar a acontecer com o mesmo impulso e cunho do mês de junho.
Essas manifestações devem estar relacionadas ao segundo ponto, no caso, a desmilitarização da Polícia Militar, muito sob questão no momento. Isso porque quando se começa a falar da morte da população jovem e negra da periferia, quando se tenta criminalizar um garoto de 13 anos pela morte de uma família inteira, começa-se a questionar “que polícia é essa?”. Quando aparecem nas periferias pessoas encapuzadas em motos, matando e sumindo, a sociedade começa a questionar a ação da PM e a sua violência.
Por fim, as pautas do transporte têm muita importância. E essa pauta, hoje, precisa ir além da questão da corrupção, abordando toda a questão de um transporte, de fato, público. E aí entra a Tarifa Zero. É por isso que a ação do MPL tem resultado muito positivo, pois trouxe à tona que o transporte público tem de se tornar um direito social. Tornando-se direito social, pode e deve ser 100% público. E aí já nos encaminhamos para a ideia da Tarifa Zero.
Portanto, a continuidade das manifestações, a desmilitarização da PM e a pauta do transporte são elementos que jogam pra frente o processo de mobilizações iniciado em junho.
Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.
Comentários
quem é de esquerda tem mais o q fazer amiga. pra protestar contra essa farsa de escandalo cujo processo juridico é um tanto risível, ja tem a globo, a midia oficial, a burguesa hipocrita e privateira... nao precisa da meia duzia de gato pingado q nao acreditam em nada desse jogo político burguês e pró-capitalista.
quem nao é hipócrita e nao vive no mundo do JN, sabe que o Brasil é movido a mensaloes a torto e a direito.
por fim, o Brasil nao e o fla-flu petucano q se pretende, e pode ter certeza que o MPL se posiciona contra essas duas correntes, cujas diferenças sao apenas de fachada.
um movimento anticapitalista nao precisa ser teleguiada pela histeria da mídia mais imunda que conhecemos.
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