Correio da Cidadania

São Paulo e Istambul

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Istambul é a maior e mais importante cidade da Turquia. Este país é de população muçulmana, entretanto, há um empenho em evitar que descambe para um Estado islâmico. Em outras palavras, há todo um esforço político no sentido de preservar a natureza laica do Estado turco.

 

São Paulo é a maior e mais importante cidade brasileira. Do ponto de vista religioso, a sua população é predominantemente cristã, apesar do caráter cosmopolita dessa cidade. Quanto à natureza do Estado brasileiro, ele é, juridicamente, um Estado laico.

 

As diferenças entre as duas cidades, Istambul e São Paulo, são aparentemente enormes. Istambul é uma cidade européia e a Turquia é um país asiático e europeu. Há, entretanto, fortes sinais “ocidentalizantes” presentes na Turquia, sem que com isso sejam eliminadas as influências religiosas do islamismo.

 

Feitas essas observações, veremos que, acima das diferenças, existem muitas semelhanças entre as duas cidades. Fundamentalmente, ambas se inserem no contexto de um sistema socioeconômico chamado capitalismo. Ambas abrigam em seu seio classes e camadas sociais, com interesses distintos. Ambas encontram-se hoje, de certa forma, convulsionadas.

 

Em Istambul, dão-se confrontos entre populares e tropas da ordem vigente, em torno da preservação de uma praça. Em São Paulo, a pretexto de protestar, legitimamente, contra o aumento das tarifas dos transportes públicos, vêm à tona outras insatisfações reprimidas. Em ambos os casos, ficam evidentes as semelhanças entre as chamadas “forças da ordem”. Lá, em Istambul, vê-se soldados agredindo os manifestantes com bombas, spray de pimenta e cassetete. Aqui, em São Paulo, o comportamento é o mesmo. As imagens se confundem, tantas são as semelhanças.

 

Cabe-nos então perguntar: como duas cidades, de contextos tão diferentes, guardam elementos de tamanha semelhança? E, após uma pequena reflexão, vamos descobrir o fato de que ambas cidades existem dentro do contexto da ordem capitalista, e em ambas existe o Estado como instrumento de dominação de classe.

 

Eis aí a resposta cabal como tantas aparentes diferenças escondem reais semelhanças. Istambul e São Paulo são palcos tanto das insatisfações populares quanto das manifestações agressivas de uma repressão que tem como objetivo a defesa do sistema, ou seja, do capitalismo.

 

Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.

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