Correio da Cidadania

Democratização da mídia será pauta permanente das mobilizações de rua

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altNão adiantou o apresentador Carlos Tramontina dizer que havia 400 manifestantes protestando contra a TV Globo durante a transmissão do SPTV. A luz verde que atingiu seu rosto no meio do programa quebrou a blindagem global e disse para o Brasil inteiro que havia um ato nas imediações da emissora, pedindo a democratização dos meios de comunicação no país. E não era um ato de 400 pessoas, como instruíram o apresentador global a dizer.

 

Segundo a reportagem do Correio da Cidadania, presente ao ato, havia, no mínimo, cinco mil pessoas ali. Entre cinco e oito mil, ao longo de todo o protesto. Essas pessoas se concentraram na praça General Gentil Falcão, Brooklin, zona sul de São Paulo, no último dia 11 de julho, por volta das 17h, e tomaram as ruas, passando pela avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, indo por baixo da ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira (que sai na Avenida jornalista Roberto Marinho), para finalmente entrar pela avenida Doutor Chucri Zaidan e contornar a sede do jornalismo da Globo, até cair na marginal Pinheiros, para depois reatravessar a ponte e voltar ao ponto de partida. Com tantos nomes vinculados diretamente ao monopólio das mídias na região (com exceção do doutor Chucri Zaidan, que foi um médico), esse ato não haveria de ser em outro lugar.

 

A manifestação saiu da praça General Gentil pouco antes das 18h30 e atravessou a Berrini sob gritos de guerra exigindo a democratização da mídia. As pautas eram divididas entre o fim das concessões públicas de rádio e televisão para os políticos, o estabelecimento de uma lei de mídia e o fim da perseguição às rádios comunitárias. No meio do caminho, diversas intervenções artísticas foram feitas na Berrini, fazendo alusão ao movimento.

 

“Essa últimas manifestações mostraram que um tipo de jornalismo morreu e outro está surgindo. Esse novo jornalismo encontra barreiras arcaicas, medievais, e uma delas é o sistema de concessões”, afirmou Sílvio Mieli, professor de jornalismo da PUC-SP, que cobria o evento com alunos.

 

O debate em torno do sistema de concessões dividiu os grupos que potencialmente pensaram esse movimento. Com vistas às eleições do ano que vem, os militantes de alas governistas, como os do PCdoB e do grupo Fora do Eixo, não consideraram estrategicamente vantajoso criticar o sistema de concessões e se organizaram à parte. Esse sistema atualmente garante concessões públicas a políticos da base aliada do governo Dilma, entre eles José Sarney (PMDB-AM) e Fernando Collor de Mello (PTB-AL).

 

Ao passar por baixo da ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira, os manifestantes logo chegaram ao muro da emissora. Olhando para trás, feministas estenderam faixas de cima da ponte com os dizeres “somos mulheres e não mercadoria”, criticando o caráter machista da programação televisiva e sua publicidade. Nos muros da Globo, houve um princípio de confusão. Manifestantes flagraram um grupo de aproximadamente 20 policiais da tropa de choque, sendo que muitos deles estavam sem suas devidas identificações, e assim começou uma discussão entre jornalistas e manifestantes, de um lado, e policiais militares do outro.

 

No prédio da Globo foram feitas projeções com os dizeres “Globo Mente”, “Globo Sonega” e “Ocupe a mídia”, enquanto que, virando a esquina, já na marginal Pinheiros, foram queimados bonecos que representavam políticos rádiodifusores, como Collor, Sarney e Jader Barbalho. No caminho de volta, os manifestantes ainda rebatizaram a ponte estaiada para ponte “Jornalista Vladimir Herzog”, lembrando o comunicador da TV Cultura assassinado pelo regime militar em 1975.

 

“Quando você critica a Globo, você tem um olho na Globo e outro na cultura do país, e o papel que ela exerce é o de sequestrar o imaginário da população”, explica o professor Sílvio Mieli. “Essa mesma Globo que apoiou e cresceu através da ditadura não mudou nem um pouco. Ela só se adaptou e foi se adequando às novas realidades, mas se você analisar o produto final dela, ou seja, a programação, só caiu de nível, só piorou, e isso acarreta em um empobrecimento do imaginário da população. Eu acredito que, por exemplo, o aumento da violência urbana se deve muito a esse empobrecimento do imaginário”, completou Mieli.

 

O movimento Ocupe a Mídia foi claramente inspirado pelo Movimento pelo Passe Livre (MPL). Assim como no movimento que luta pelo transporte, as pautas servem como estratégia catalisadora de crescimento do movimento. É possível fazer uma associação com a almejada lei de mídia, que para o Ocupe a Mídia funcionaria como uma espécie de tarifa zero do MPL, uma pauta que pretende ser a final, mas que na verdade é um horizonte a ser buscado pelos militantes e não necessariamente ditaria o fim do movimento. Cassar as concessões de radiodifusão dadas a políticos poderosos, tomadas as devidas proporções, serviria como a revogação do aumento das tarifas do transporte público para o MPL, por influenciar diretamente no cotidiano dos brasileiros.

 

“Você não vai encontrar aqui uns ‘porras-loucas’ que querem pura e simplesmente destruir a Globo, até porque isso não é possível. Mas as pessoas aqui querem viver em um mundo, em um país, onde a Globo e os canais comerciais em geral não tenham tanta importância e que dividam com veículos estatais e comunitários o espectro da comunicação”, disse Luís, 28 anos, manifestante.

 

O movimento deixou bem claro que este foi apenas o primeiro grande ato pela democratização da mídia e promete que as mobilizações não vão parar.

 

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Conheça também o blog do movimento: http://ocupeamidia.noblogs.org/

Raphael Sanz é jornalista.

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