Novo ataque ao Código Florestal
- Detalhes
- Rogério Grassetto Teixeira da Cunha
- 14/11/2007
Está em tramitação, na Câmara dos Deputados, mais um Projeto de Lei (PL) de alteração do Código Florestal (na verdade uma combinação, com modificações, de três projetos isolados) que contém alguns aspectos que podem ser bastante negativos ao meio ambiente. O pior deles refere-se à redução, para fins de recomposição, da área de Reserva Legal na Amazônia de 80% para 50%, bem
Porém, o projeto prevê que, em determinadas regiões, 30% da área do imóvel (não coincidentemente, justamente a diferença entre os 80% exigidos de Reserva Legal atual e os 50% propostos nos casos de recomposição) podem ser plantados com espécies florestais, nativas ou exóticas, inclusive palmeiras. Bingo! Aí é que está o pulo do gato. Com esta brecha, o que se tem na prática é uma redução permanente da Reserva Legal de 80% para 50%. Isto porque nem Chapeuzinho Vermelho vai acreditar que um proprietário irá algum dia recompor os tais 30% com espécies nativas (ou exóticas, mas que tenham algum valor para a conservação). Podendo fazer algo que lhe dê lucro,
Já defendemos nesta coluna (em “Palmeiras são a melhor opção para os biocombustíveis”, de Rodolfo Salm) o plantio de palmeiras nativas e exóticas em áreas já degradadas na Amazônia. Agora, o plantio de outras espécies exóticas não é nada interessante do ponto de vista ambiental e não deveria estar incluído no projeto. Monoculturas de pinheiro e eucalipto não irão auxiliar na regeneração da mata e nem poderão ser usadas pela fauna. Além disso, no caso das palmeiras, seu plantio deveria ser feito
Há aqui um importante aspecto que precisa ser lembrado. Até o momento, o que impera na grande maioria da região amazônica é uma situação à margem do Estado de Direito, uma ausência do Estado, seja como prestador de serviços, seja de seu aparato fiscalizador (apesar do esforço heróico de alguns funcionários de determinados órgãos). O desrespeito contínuo às leis (não só ambientais) pelos desmatadores é a norma vigente, assim
Aqueles que acompanham os problemas ambientais do país devem lembrar-se da tentativa anterior de mudança do Código Forestal, em 2000/2001, liderada pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB/PR), com amplo respaldo da bancada ruralista.
O projeto atual contém ainda outros pontos negativos (e alguns positivos também), mas é bom ficarmos de olhos abertos, pois essa turma dos ruralistas (e outros desmatadores de plantão) não desiste e vai tentar piorá-lo ainda mais. Os projetos de lei iniciais eram mais danosos que este substitutivo e um deles (de Wandenkolk Gonçalves – PSDB/PA) propunha, inclusive, a mudança pura e simples da Reserva Legal na Amazônia para 50%. Mas o pior é que o projeto atual, ao invés de seguir seu curso, voltou para outra comissão, a de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, por pedido de Marcos Montes (PFL/BA). Desta comissão, reduto dos ruralistas (da qual faz parte o nosso bom e velho Moacir Micheletto), não se pode esperar nada de muito promissor. Ao contrário, imagino que um novo projeto, pior ainda que o aqui analisado, deverá ser apresentado. Precisamos estar atentos e acompanhar de perto os próximos movimentos, para mais uma vez nos mobilizarmos. Sugiro às pessoas que entrem no sítio da Câmara dos Deputados, procurem o projeto de lei (canto inferior direito do sítio – o número do PL é 6424 de 2005) e cadastrem-se para acompanhamento. Eu já o fiz.
Rogério Grassetto Teixeira da Cunha, biólogo, é doutor
E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Para comentar este artigo, clique {ln:comente 'aqui}.