Deixem os mortos do pré-sal em paz
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- Danilo Pretti Di Giorgi
- 05/09/2008
O ser humano é um animal mesmo muito curioso. Tudo neste momento da nossa história indica que devemos reduzir nossa dependência do petróleo e buscar, gradativamente que seja, fontes alternativas de energia e, mais que isso, reduzir mesmo a demanda e o consumo de energia, para estacioná-la em nível compatível com uma ocupação saudável do planeta. Todos os líderes mundiais já declaram isso abertamente, até mesmo figuras antes reticentes a tratar do tema, como George W. Bush.
Tudo muito bonito até descobrirem que tem um monte de petróleo de alta qualidade no fundo do mar, depois de grossa camada de sal. Aí todo mundo esquece essa conversa politicamente correta de ambientalista e passa a discutir apenas o que realmente interessa: como tirar de lá, quem vai ficar com a grana, se vai ter nova estatal para a exploração, se vai dar na mão da iniciativa privada, quem vai ganhar politicamente com isso. Nem o fato de o óleo estar em local quase inacessível desanima o povo. De repente fica todo mundo cego e não se fala em outra coisa. Muito menos se faz sentido despender esse esforço todo para tirar o petróleo de lá.
Como entender toda a festa em torno da descoberta do petróleo na área do pré-sal? Como aceitar que todas as infindáveis análises sobre o assunto estejam sempre desvinculadas do tema meio ambiente? Alguém já ouviu falar de aquecimento global? Será que ninguém mais está sabendo que a queima de combustíveis fósseis é a maior responsável pelo efeito estufa e que é urgente reduzir drasticamente seu consumo? Apesar da enxurrada de artigos e reportagens sobre o assunto, apenas aqui no Correio vi um texto que coloca a questão ambiental no centro da discussão: Pré-sal e aquecimento global, do Roberto Malvezzi.
Fora isso, um oceano de inexplicável silêncio sobre as conseqüências climáticas globais que podem advir da queima de todo aquele petróleo, hoje submerso. O governo, que até ontem se dizia muito preocupado com as conseqüências funestas do crescimento dos níveis de gás carbônico na atmosfera e que por isso defendia como idéia fixa os biocombustíveis, agora parece ter repentinamente se esquecido do aspecto ambiental. Lambe os beiços com a expectativa dos petrodólares e calcula investimentos que beiram um trilhão de dólares nos próximos 30 anos para buscar óleo quilômetros abaixo do fundo do oceano, nas ditas águas ultraprofundas, prometendo outros trilhões em retorno.
E o Protocolo de Kyoto, que teve a participação ativa de nossos cientistas defendendo as virtudes da nossa matriz energética limpa? E a Conferência das Partes? E as inúmeras tentativas de acordos internacionais para redução do consumo de petróleo em nome da sobrevivência da espécie humana? Não se fala mais nisso?
Minha proposta é de que deixemos as novas jazidas na região do pré-sal em paz, como estão há centenas de milhões de anos. Deixemos lá a descoberta e concentremos nossa energia criativa e nosso dinheiro não em como retirar petróleo de áreas de dificílimo acesso, mas sim em iniciativas mais úteis às próximas gerações. Não desperdicemos o escasso tempo que nos resta investindo num enriquecimento tão rápido para nós quanto nocivo para o planeta.
Na verdade, com coragem e mais visão estratégica, poderíamos até ganhar dinheiro deixando essas reservas em paz. Não existe a idéia dos créditos de carbono da floresta em pé? Então, quanto valeria uma decisão brasileira de não tocar no pré-sal? Quanta emissão de carbono não seria evitada? Alguém no governo ousaria defender seriamente esta idéia?
O petróleo, que depois que sobe para a superfície é queimado ou transformado em plástico, é um dos maiores vilões do meio ambiente. Vejamos: vamos ao fundo da terra, às vezes ultrapassando quilômetros de coluna d’água, às vezes quilômetros de terra e rocha, nesse caso ambas as coisas, para retirar um elemento que é formado por matéria orgânica acumulada ali há muito tempo. Geólogos estimam que o petróleo começou a se formar mais ou menos na mesma época em que apareceram por aqui as primeiras plantas e animais multicelulares, algo em torno de 700 milhões de anos atrás. Muito antes dos primeiros dinossauros.
Repare que curioso: estamos rapidamente deteriorando as condições de vida humana no planeta ao trazer para a superfície algo que é resultado do acúmulo de restos de animais e vegetais. Restos de vida passada. Uma energia extraordinária, proveniente da vida de antigos moradores desta imensa casa onde todos habitamos, que foram sendo cobertos com o passar dos séculos por camadas de sedimentos. É a história do planeta.
De repente descobrimos o poder desta substância e, em poucas décadas (décimos de segundo em tempo evolutivo), trouxemos quantidades imensas dela para a superfície e a transformamos em fumaça imunda e em sólidos que não se decompõem na natureza.
Além de poluição, o petróleo costuma gerar disputas (ver "A ecologia energética e a guerra no Oriente Médio", também aqui do Correio). Algumas das mais sangrentas guerras tiveram como pano de fundo a luta pelo controle de grandes jazidas, que resultaram e ainda resultam na morte de milhões. Fica a questão: esse negócio de pré-sal é uma benção, como estão querendo nos fazer crer, ou uma maldição?
Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.
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Comentários
Há controvérsia no caso emtese.Muitos pelo fato de preservaçlão do meio ambiente, outros pelo desenvolvimento e crescimento monetario do pais.Desde que deve-se ter em plena consciencia o aumento np desastre ambiental.O desenvolvimento dserá pra o brasil assim como em termos de destruição ambiental toda a humanidade será atingida.
A humanidade esta "sob-aviso" em relação a sua existencia na terra, estamos diante do chaamado efeito estufa, e suas consequencia causadas pela ação humana são notadas nitidamente a cada noticia de firacoes, terremotos e outras "revoltas que a natureza vem se manifestando.
Estou do lado do meio ambiente, da conservação da especie humana.Inverter esse caso é impossível, mais porem pode ser amenizado.
Lázaro Fernandes, pré universitário de biologia.....em breve Niólogo, em prol da natureza e do bem estar do ser humano.Saudações, Sr Danilo.
destruir a natureza,pois o homem é um organismo destruidor.
Eu somaria às suas perguntas mais duas:
1) Alguém já pensou, do ponto de vista geológico, quais são as conseqüências físicas que a Terra sofrerá com a extração do petróleo da camada do pré-sal?
2) Apesar das benesses econômicas quase imediatas que o país almeja a partir de sua exploração, permanecendo onde está esse petróleo não nos dá mais segurança?
Permita-me acrescentar meu comentário.
Como você já citou, no artigo "A ecologia energética e a guerra no Oriente Médio", de Rodolfo Salm, assim como na guerra pela luz, travada entre as células que viviam no oceano primitivo, nossos contemporâneos do Oriente Médio também têm, por sede de petróleo, provocado guerras até entre “países irmãos”, incentivados pela maior economia do planeta – os Estados Unidos da América, como todos sabemos. Esses países, cujas economias têm o petróleo como principal produto e razão de suas riquezas e poder, também têm territórios inóspitos e inabitáveis, por mera formação geológica “providenciada” pela “evolução” do planeta em suas transformações físicas espontâneas (que o homem felizmente ainda não controla). Essas transformações, todavia, sofrem alterações involuntárias da ação humana, a partir de testes com bombas nucleares subterrâneos ou submarinos. Mas não ocorrem só em função disto.
Embora ninguém correlacione os fatos com as conseqüências, os componentes dessa esfera que habitamos têm uma razão para estar onde estão. Retirá-los de lá com certeza provocará enormes alterações geológicas, talvez até imperceptíveis nos primeiros vinte ou trinta anos. Mas após isso, estou convicto de que essa exploração do petróleo do pré-sal trará conseqüências gravíssimas, não só contra o meio-ambiente e para a continuidade da vida humana, mas para a própria constituição física da Terra.
Nesse momento que já avançamos – mais que todos os demais países – na busca de energias alternativas, limpas e renováveis, não devemos nos encantar com as vantagens mirabolantes que esse óleo do pré-sal poderá trazer para a economia brasileira, como já alardeado aos quatro cantos pelo governo. As conseqüências negativas nos custarão caro (afetação da saúde do povo, perda da qualidade de vida, aumento do carbono no ar que respiramos e aumento da temperatura global, sem falar das estradas intransitáveis, resultado do aumento de veículos rebocado pela febre econômica que advirá dessa “riqueza”).
Nossas florestas tropicais, já depredadas, não são suficientes para realizar sua função de fotossíntese, filtrando o ar que respiramos.
Está começando mais uma ação depredatória dessa que é a casa da humanidade, ação que qualifico como suicida.
Em suma: sou obrigado a concordar com um amigo que sempre que analisa nossa “evolução”, sintetiza tudo numa frase: “Dias piores virão”.
O viés deste artigo, sob a ótica ambiental, se coaduna perfeitamente com o viés do combate à exploração econômica dos países pobres pelos ricos, e com a anuência das elites e governantes deste último.
É óbvio que se o Petróleo é finito, e seu preço está em uma escala ascendente incontornável, cabe aos que têm algum juízo, permanecer ao máximo com as suas reservas, quaimando-as aos poucos, em função do desenvolvimento do Brasil e países pobres em aliança estratégica que, juntos, por mais que se desenvolvam, não queimariam 10 do que queimam os EUA, Europa e China.
Além do que, obrigaríamos os países ricos a encontrarem saídas ambientalmente mais viáveis, com mudanças em seu crescimento perdulário e insustentável.
Mas, para este passe, precisamos de governantes corajosos e dispostos a iniciar outra luta pela nossa libertação continental.
Aqui no Brasil, não temos algum com este perfil. Terá de ser obra do próprio Povo Trabalhador organizado.
Eles já estão de olho há muito tempo, agora, ou nós exploramos ou vamos ser ainda mais explorados....na minha forma de ver não tem saída, e sabe-se que com eles não existem negociações, e sim imposições.....
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