Em defesa das palmeiras e dos biocombustíveis
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- Rodolfo Salm
- 03/05/2007
O Google é uma ferramenta extremamente útil da Internet. Fazendo uma busca com as palavras “palmeiras” e “biocombustíveis”, logo depois do meu último texto em que defendo o cultivo de palmeiras para a produção de biocombustíveis (http://www.correiocidadania.com.br/colunistas/ambiente-e-cidadania/ambcid090407.html), encontrei uma notícia surpreendente da Folha Online, 27/03/2007 - 09h58, que eu jamais localizaria de outra forma. Pasmem: “Pesquisa contesta uso de óleo de palmeira como biocombustível”.
E eu que acreditava tanto na idéia...
O texto da Folha Online refere-se a um relatório divulgado no final do ano passado por pesquisadores do Instituto Wetlands Internacional, da Holanda, que concluiu que a produção de biocombustíveis a partir do óleo advindo de algumas plantações de palmeiras na Indonésia e na Malásia (onde são amplamente difundidas) tem um balanço de carbono negativo. Isto porque os cientistas argumentam que as plantações produzem uma quantidade imensa de dióxido de carbono, mais do que o uso do biocombustível evita que seja liberado pelo uso equivalente de combustíveis fósseis. Isso acontece porque estas plantações são semeadas sobre pântanos drenados, e a perturbação associada ao cultivo de palmeiras nestas áreas provoca a liberação do depósito resultante da decomposição de animais e plantas por milhões de anos. Além disso, segundo a agência de notícias, um pesquisador daquele instituto alertou que as palmeiras (na Indonésia e na Malásia, é fundamental que se enfatize) são plantadas em áreas que eram de floresta e que foram desmatadas para o seu cultivo.
O jornalista da Folha Online destacou corretamente que o óleo de espécies de palmeiras pode ser utilizado na culinária, na produção de cosméticos, sabonetes, pães, chocolates e lubrificantes industriais. Além de ser atraente como bioenergia, visto que é relativamente abundante, barato e facilmente integrável às estações de energia já existentes. Ainda comentou que sua produção é considerada “neutra em carbono, ou seja, o carbono emitido durante a queima do óleo de palmeira é igual ao que é absorvido durante o crescimento da planta”. Mas deve ter achado que o verdadeiro assunto da notícia que lhe caiu em mãos para repassar para a rede (o que aparentemente ele fez de primeira) daria um título longo demais ou desinteressante para o seu público: “Pesquisa contesta uso de óleo de palmeiras cultivadas em pântanos e áreas desflorestadas do Sudeste Asiático como biocombustível”.
A simplificação indevida que ele optou por fazer para contornar este “probleminha técnico”, ocultando a especificidade geográfica da pesquisa, o conduziu à manchete equivocada de que a ciência “contesta uso de óleo de palmeira como biocombustível”, induzindo o leitor e o navegador, que somente vê manchetes, a crer erroneamente que o problema ocorre com qualquer palmeira em qualquer lugar. Mais trágica é conclusão geral que tirou daí, de que “o debate sobre o óleo de palmeira é um exemplo de fatos que esfriam o entusiasmo por óleos vegetais como substitutos para combustíveis fósseis”. que apenas vê
Na verdade, o debate “sobre o óleo de palmeira” é um exemplo de fatos que esquentam (e muito) o entusiasmo por óleos vegetais como substitutos para combustíveis fósseis. Uma simples busca no Google pelo célere jornalista revelaria uma série de iniciativas incipientes de pesquisadores da Embrapa e de universidades por todo o país defendendo a utilização de espécies de palmeiras para a produção de alimentos e de biocombustíveis no Brasil. O que falta é a grande imprensa nacional tratar seriamente a questão das fontes de energias alternativas. E a problemática ambiental como um todo.
A informação sobre as emissões de carbono, associadas à perturbação dos gigantescos pântanos asiáticos (e de seu estoque colossal de matéria orgânica), causada pelo cultivo de palmeiras para a produção de biocombustíveis, é muito interessante e necessária. Isso porque ela mostra que nem as palmeiras — que defendo entusiasticamente — são uma panacéia.
Se o jornalista da Folha Online se dedicasse um pouco ao assunto das palmeiras e dos biocombustíveis e suas implicações positivas em potencial para as especificidades do nosso país, certamente perceberia que não temos em nosso território pântanos como aqueles estudados pelo Instituto Wetlands Internacional na Indonésia e na Malásia. Ao invés disto, temos imensas áreas desflorestadas nos domínios da Mata Atlântica e da Amazônia, que poderiam ser recuperadas com palmeiras, constituindo-se numa importante fonte de riqueza para o país na forma de alimentos e biocombustíveis.
Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi.
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