Correio da Cidadania


Faixas ou facões?

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Nós, da coluna Ambiente e Cidadania, acreditamos que o enfrentamento da questão ambiental é como uma batalha de campo. E que temos no Correio da Cidadania a nossa trincheira maior. Mas há muito que nós nos perguntamos sobre o alcance de nossos artigos. No fim das contas, quantos são os nossos leitores? Na verdade é uma pergunta impossível de se responder, mas um bom "termômetro" da propagação de cada artigo aqui publicado vem do Google, que lista os sites, blogues e jornais que republicaram os textos.

 

Na semana retrasada, quando escrevi sobre a manifestação contra a hidrelétrica de Belo Monte que aconteceu aqui do lado de casa, e postei no Youtube um filme sobre a "Manifestação pacífica", tive no contador de exibições do filme daquele site um medidor adicional. Vejam que meu objetivo era "levar ao mundo" aquele protesto singelo, com faixas cuidadosamente escritas, contando com a participação de religiosos e crianças com bandeirinhas empenhadas em salvar o Xingu do represamento e destruição. Mas, para a minha frustração, dez dias depois de publicado, apenas 26 pessoas (incluindo eu) deram-se ao trabalho de clicar no "link" para ver o vídeo da manifestação. 

 

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Claro que isso não é nenhum medidor direto da nossa audiência, pois 99,99% das pessoas que lêem um artigo poderiam não estar interessadas em baixar um filme da internet. Mas pode ser um mau sinal quanto ao alcance da manifestação, que, ao que tudo indica, nem de longe poderia neutralizar o efeito da campanha que os barrageiros fizeram no Fórum Social Mundial em janeiro deste ano pela construção das hidrelétricas neste que é o último grande rio amazônico represável ainda livre deste mal.

 

Isso nos remete ao episódio da índia kayapó Tuíra, que tocou com a lâmina de seu facão no rosto do então diretor da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes há vinte anos. O gesto forte foi registrado pelas câmaras e ganhou o mundo em fotos estampadas nos principais jornais brasileiros e estrangeiros. Ano passado, novamente, no encontro Xingu Vivo para sempre, também aqui em Altamira, houve uma grande caminhada contra a Hidrelétrica de Belo Monte, com centenas de indígenas, ribeirinhos e representantes dos movimentos sociais. Mas o que ganhou o mundo foi o corte de facão feito por um índio no braço do representante da Eletrobrás! No calor do momento, era impossível não criticar o indivíduo que subverteu aquela manifestação que também prometia ser totalmente pacífica. Mas em retrospectiva, diante do "fracasso de bilheteria" da manifestação pacífica das crianças no cais de Altamira, não seria o caso de se perguntar se o índio não estava certo?

 

Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da Universidade Federal do Pará.

 

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Comentários   

0 #2 Só a violência dá ibopeRisomar 08-08-2009 08:21
Concordo com o que escreveu Tiago Franz:em manifestações de protesto,se não houver algum ato de violência, em geral a imprensa não divulga. Isso é lastimável, pois corre-se o risco de, ao perceber essa atitude da mídia, os manifestantes recorrerem a ela, para registrar seus protestos.
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0 #1 facões!Tiago Franz 28-03-2009 13:58
Já assistiram o documentário Surplus? O mentor da batalha de Seattle de 1999 diz que uma manifestação pra produzir efeito hoje tem q ter algum tipo de violência. O filme fala de dano a propriedade... violência contra pessoas ou contra edifícios e carros? No caso dos índios, o que restou de sua propriedade está ameaçada. Seus corpos sofreram todo tipo de violência possível. Como podem reagir pacificamente, se tudo que esperam é serem respeitados? Como serem ouvidos? Com faixas é que não!
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