Correio da Cidadania

Mártires

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Fico aqui tentando imaginar que tipo de sensação, que tipo de vibração perpassa os ares das belas montanhas da região serrana do Rio de Janeiro neste exato momento. Lá hoje todos têm uma história muito triste para contar. Todos, sem exceção, perderam alguém querido e/ou tiveram perdas materiais muito grandes.

 

É o quadro de sempre em calamidades deste tipo, que aliás vêm se repetindo com intensidade crescente nos últimos anos por todo o planeta. Mas para alguém que sente no coração a presença de um poder superior soberano de amor, bondade e compaixão é sempre difícil entender o sentido oculto por trás de acontecimentos como estes. Apesar de saber que ele existe.

 

Mas algo me diz que a resposta está exatamente no sentimento que me anima a escrever essas linhas e a ter vontade de chorar quando leio os relatos do que está acontecendo em Friburgo, Teresópolis ou Petrópolis. Distanciamos-nos tanto de nossos semelhantes, a falta de amor é tanta que precisamos de tratamentos de choque para que a compaixão vibre em nossos corações e lembremos que estamos vivos.

 

O fato de crianças brasileiras morrerem sistematicamente de fome todos os dias não nos abala. É como se fizesse "parte do jogo". A miséria que vitima mais de 40 milhões de brasileiros não atrapalha a festa do Brasil cego com a fama repentina, que se diz entrando no "primeiro mundo", se tornando "desenvolvido". Não há espaço para essas bobagens no Brasil prestes a sediar Olimpíadas e Copas do Mundo.

 

Mas daí, quando ninguém espera, as montanhas se desfazem e milhares ficam soterrados sobre elas. Neste momento algo dentro de nós se mexe. Não estamos de todo anestesiados afinal. Em todos os lugares vemos alguém organizando donativos, pois todos sentimos vontade de pelo menos tentar diminuir a dor daquelas pessoas que, afinal de contas, são dos nossos, não apenas por serem brasileiros, mas porque são humanos como nós.

 

"Mártires" é a palavra que me vem quando penso nos inocentes soterrados e nos sobreviventes condenados a uma vida em frangalhos. Mártires que, como fez um alguém famoso muito tempo atrás, morreram por nós. Morreram, sofreram e sofrem para dar a chance de acender alguma luz dentro da gente que nos tire desse adormecimento. Adormecimento que tem algum parentesco com a própria loucura.

 

Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #1 ComparaçãoDiego 31-01-2011 10:22
\"A título de comparação: só a reforma do Maracanã custará aos cofres públicos a bagatela de mais de 900 milhões de reais. Já as cidades de Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis, pasmem, vão receber respectivamente até 2014, R$ 13,2 milhões, R$ 8,8 milhões e R$ 1,1 milhão para a contenção de encostas! Junto, o montante que estas cidades receberão chega a 23,1 milhões! Ou seja, irrisórios 2,5% do custo total das obras no Maracanã, que já tinha sido reformado em 2008 no Pan-Americano\"

Trecho de matéria do link.
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