Carbono na COP22: um eficiente indexador para combustíveis fósseis
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- Amyra El Khalili
- 23/11/2016
Se algum especulador me perguntasse qual a engenharia mais indicada para ganhar dinheiro com as mudanças climáticas, eu lhe responderia: “compre commodities agropecuárias e venda créditos de carbono nas bolsas, ou faça uma negociação com minério e índice de C02 no mercado acionário. É a operação financeira que chamamos de “trava”. Se não der certo no curto prazo, arrole com swap!”
Estou em terras tupiniquins, imaginando a participação dos lobistas e dos Chicago Boys Climáticos na COP22, em Marrakesh, vendendo projetos e consultorias para o setor energético, especialmente a corporações de combustíveis fósseis e às do agronegócio, condicionados, evidentemente, à implementação do Acordo de Paris no melhor estilo: Vamos à AÇÃO!
Quando essa história começou, há quase 20 anos, com o Anexo 12 do Protocolo de Kyoto (1997), os créditos de carbono resultantes do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) eram um instrumento para flexibilizar as rígidas leis ambientais e permitir a transição das empresas sujas para uma produção limpa de poluentes.
Com o tempo, o que era exceção, e deveria ter prazo para acabar - considerando que os setores produtivos honrariam sua “palavra” e modificariam a forma de produzir (contribuições voluntárias) -, tornou-se regra.
De princípio poluidor-pagador, a nova roupagem tornou-se “princípio receptor-beneficiador”. Ou seja, é o “business as usual” (mais do mesmo).
O que deveria ser crime ambiental tornou-se “direito de poluir”, sendo um eficiente indexador para continuar a produzir fósseis e combustíveis não renováveis, empurrando com a barriga seus compromissos em reduzir emissões, enquanto a natureza lhes fornecer ao máximo, e a qualquer preço, o que ainda resta no subsolo de petróleo, de gás natural, de gás de xisto, de carvão e de minério radioativo, até que tudo se esgote, mesmo que isso continue custando, como tem custado, as vidas de milhares e milhares de irmãos árabes, africanos, latino-americanos, caribenhos, entre outros.
A desgraça do povo árabe foi ter nascido em cima do petróleo; a dos africanos, de ter nascido em cima do ouro e dos diamantes; a do latino-americano, em cima de terras férteis, ricas em florestas (com água, biodiversidade e minérios).
A única forma eficaz de combater as mudanças climáticas é, definitivamente, deixar os combustíveis fósseis no subsolo e acabar com a imoralidade de colocar preço no CO2, legitimando um “direito de poluir”. Esta deve ser uma decisão soberana do povo, se de fato quiser viver em paz.
Eu assinei a petição Líderes mundiais: Chega de novos projetos com combustíveis fósseis
Referências:
SANTINI, Daniel. Entrevista com Jutta Kill: Economia verde e fragilização da democracia. Fundação Rosa Luxemburgo. Acesso em: 7 nov. 2016. Capturado em: 13 nov. 2016. http://rosaluxspba.org/economia-verde-e-fragilizacao-da-democracia/.
ALVIM, Mariana. Comércio de carbono ganha fôlego e pode chegar ao Brasil em 2020. O Globo. Acesso em: 14 nov 2016. Capturado em: 17 nov. 2016. http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/comercio-de-carbono-ganha-folego-pode-chegar-ao-brasil-em-2020-20457552
ALVIM. Mariana. ‘O mercado de carbono precisa ser detido’, afirma pesquisadora. O Globo. Acesso em: 14 nov 2016. Capturado em: 17 nov. 2016.
MORENO, Camila. Florestas e capital financeiro em jogo na COP 22. Carta Capital. Acesso em: 17 nov. 2016. Capturado em: 18 nov. 2016. http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/florestas-e-capital-financeiro-em-jogo-na-cop-22
Nuestras tierras valen más que el carbono – Declaración conjunta. Acesso em: 15 nov. 2016. Capturado em: 17 nov. 2016. Leer aquí la declaración conjunta de más de 50 organizaciones,
COP22: El Mundo no puede esperar. Cero fósiles. Acesso em: 17 nov. 2016. Capturado em: 17 nov. 2016. http://www.biodiversidadla.org/Principal/Secciones/Campanas_y_Acciones/El_Mundo_no_puede_esperar._Cero_fosiles
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Amyra El Khalili é fundadora do Movimento Mulheres pela P@Z! e editora da Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras.