A Palestina e o direito à informação
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- Amyra el Khalili
- 01/07/2024
Confira o discurso na íntegra e, a seguir, a transmissão completa do relançamento do livro “Genocídio Isola Israel: desafio é criar o Estado da Palestina”
Há 40 anos, eu, Amyra El Khalili, e o ativista Carlos Seabra, entre outros companheiros e companheiras, fundamos o cineclube no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, neste auditório Vladimir Herzog.
Éramos jovens, éramos refugiados e filhos de refugiados árabes e judeus, palestinos e israelenses. Jovens brasileiros e estrangeiros naturalizados que acreditavam no poder da palavra, da imagem, da arte e do jornalismo para combater as desigualdades, os sofrimentos e as injustiças.
Aqui, neste auditório Vladimir Herzog, que mais uma vez nos acolhe e cujo nome homenageia o jornalista torturado e assassinado pelo regime militar brasileiro durante a ditadura, protagonizamos importantes ações que fizeram parte da história progressista deste país em defesa dos direitos humanos, do direito ambiental e dos direitos políticos.
Hoje estamos aqui novamente, quatro décadas depois, no auditório Vladimir Herzog, neste ato de relançamento do livro “Genocídio Isola Israel: Desafio é Criar o Estado da Palestina” de Nathaniel Braia e Nilson Araújo de Souza, em promoção conjunta dos Sindicatos dos Jornalistas e dos Escritores do Estado de São Paulo, com a participação de lideranças sindicais, entidades representativas, lideranças comunitárias, religiosas, políticas, jornalistas e ativistas.
Estamos aqui para registrar na história que não ficamos calados e não negligenciamos os fatos neste ato pelo cessar-fogo já e permanente em Gaza e pelo fim do massacre do povo palestino.
As práticas hediondas de crimes contra a humanidade, como a tortura que assassinou o jornalista Vladimir Herzog, têm sido utilizadas pelos sionistas há 76 anos para aterrorizar os palestinos. A grande imprensa tem destacado com vigor e repetidamente que o Hamas sequestrou civis inocentes, porém, não conta o outro lado dessa história. Não conta por que o Hamas o fez e não esclarece o seu objetivo de trocá-los sãos e salvos, pelos sequestrados e torturados prisioneiros de guerra palestinos, e especialmente resgatar os corpos sem vida dos que já foram martirizados, cujas famílias ainda não puderam enterrá-los dignamente.
Nas prisões israelenses, há hoje mais de 9.300 prisioneiros de guerra, sem contar os detidos em Gaza, que chegam aos milhares e estão sujeitos à política de desaparecimento forçado nos campos. Mais de 3.400 prisioneiros palestinos estão em detenção administrativa sob o pretexto do chamado “arquivo secreto”, muitos dos quais são mulheres e crianças. Segundo organizações especializadas, esse número nunca foi alcançado na história.
Para lembrar ao mundo que o caso das prisioneiras e prisioneiros palestinos já se arrasta há muitas décadas, desde 1948. Apesar disso, o mundo continua a ignorá-los e a tortura sistemática a que são submetidos, que se intensificou de forma terrível desde o início deste genocídio, em outubro do ano passado.
As autoridades do Serviço Prisional Israelense cometeram crimes horríveis contra os nossos prisioneiros e prisioneiras, violando todas as cartas internacionais, a fim de matá-los e desumanizá-los, de acordo com dezenas de testemunhos de equipes jurídicas e de prisioneiros libertados após cumprirem as suas penas.
As famílias de presos políticos palestinos, homens e mulheres, nas prisões de ocupação israelense, apelaram às organizações jurídicas e humanitárias da comunidade internacional e à Cruz Vermelha Internacional para que se comprometam a cumprir suas responsabilidades legais e humanitárias e ajam urgentemente para proteger seus entes queridos detidos nas prisões da ocupação israelense.
A detenção administrativa foi usada pela primeira vez na Palestina pelo mandato colonial britânico e depois adotada pelo regime sionista. Agora é usada rotineiramente para atingir os palestinos, especialmente líderes comunitários, ativistas e pessoas influentes em suas cidades, campos e vilas. Embora, segundo o direito internacional, esse tipo de detenção sem acusação só possa acontecer por “razões urgentes de segurança”, Israel a usa como um método de rotina para suprimir a sociedade e a atividade palestina.
Emitidas por até seis meses consecutivos, as ordens de detenção administrativa são indefinidamente renováveis, e permitem que os palestinos – incluindo crianças menores – estejam passando anos presos sem acusação ou julgamento sob detenção administrativa. A detenção administrativa – como todo o sistema prisional israelense – é uma arma colonial destinada a atingir a resistência palestina e isolar os líderes da luta do povo palestino.
A história se repete quando nos omitimos e negligenciamos a dor do outro. Assim como a família de Vladimir Herzog empreendeu sua saga para provar o destino de seu mártir, cujo sangue derramado, como o de muitos outros que tombaram, foi o custo para a conquista do Estado Democrático de Direito, nós, palestinos e palestinas, fazemos este chamamento para a verdade revelada através das lentes e câmeras dos nossos mártires jornalistas, e conclamamos pela defesa dos jornalistas desaparecidos e sequestrados pelo terror sionista para que sejam protegidos e imediatamente libertados.
Aqui no auditório Vladimir Herzog, com as pessoas certas, no lugar certo e na hora certa, mais uma vez escrevemos a história deste país em solidariedade à nossa justa causa palestina, que é a causa dos direitos humanos e ambientais, em memória aos que morreram nos cárceres torturados e aos que sofreram e ainda sofrem os traumas e as dores das injustiças e crueldades a que nenhum ser humano deveria jamais se submeter.
Tortura Nunca Mais! Palestina Livre, “do Rio ao Mar”!
Edição: Alexandre Rocha, Diálogos do Sul.
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