Brasil reafirma apoio aos EUA contra a Venezuela
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- Elaine Tavares
- 26/09/2020
O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, esteve nos países aliados da América Latina na última semana em mais uma rodada de discussões sobre a Venezuela. A intenção foi mostrar ao governo Maduro que o império está se mexendo e movendo os pauzinhos para seguir enfraquecendo a Venezuela. Até agora o governo estadunidense já usou o golpe tradicional, em 2002, as ações isoladas da CIA, envenenamento, guerra econômica, roubo do ouro e dos recursos bancários, fixação de uma recompensa pela cabeça de Maduro, tentativas de assassinato e até a criação de um presidente autodeclarado, mas ainda assim não conseguiu seu intento de colocar a velha elite dominante no poder.
Quando a América Latina tinha mais governos de cunho progressista os desejos dos EUA estavam mais travados, mas, agora, com mais governos alinhados ao imperialismo estadunidense, os grupos de poder que dominam os EUA fazem novas tentativas para varrer da história qualquer traço do bolivarianismo ou do chavismo, embora o próprio governo de Maduro esteja atuando no sentido de tornar isso real. Os últimos acordos com a oposição para as eleições, por exemplo, têm recebido duras críticas dos grupos chavistas. A luta interna também se aprofunda na Venezuela, com esses grupos querendo avançar nas mudanças sonhadas por Chávez e Maduro buscando aliviar para se manter no poder.
A gira de Pompeo pela América Latina incluiu obviamente o Brasil. Ele esteve no estado fronteiriço com a Venezuela, Roraima, para conversar com o que chama de “refugiados venezuelanos”, na verdade migrantes que passam a fronteira em busca de vida melhor, já que a Venezuela está desde 2015 sob uma devastadora guerra econômica promovida pelos Estados Unidos. Em Roraima Pompeo voltou a dizer que a intenção dos EUA é fazer com a Venezuela volte a ser uma democracia, o que na verdade quer dizer que “volte a estar sob o controle dos EUA”.
Isto porque democracia é o que há na Venezuela, mais até que nos EUA onde sequer existem eleições gerais para presidente. Mas, para os Estados Unidos, o conceito de democracia não é o mesmo que para a maioria do mundo. Para eles, país com democracia é país que se alinha com seus desejos.
Além do Brasil, hoje um dos mais importantes aliados dos EUA na América Latina, Pompeu visitou também a Colômbia e o Suriname, países igualmente limítrofes com a Venezuela. Conforme declarou nos dois países, lá esteve para ver de perto as “violações de direitos humanos” que, segundo ele estão sendo praticadas na Venezuela. Aqui também cabe discutir o que significa para os EUA “violações dos direitos humanos”, geralmente uma algaravia inútil apenas para validar suas intenções de dominação. Quem conhece a história mundial sabe muito bem que a maioria das guerras travadas pelos Estados Unidos sempre se pautou por essas mentiras.
O jogo de cena do secretário Mike Pompeo foi obviamente bastante divulgado nos Estados Unidos que também vive um momento pré-eleitoral. É importante para o atual governo, de Donald Trump, fazer essas cenas teatrais de defesa da democracia no mundo. No geral, a mídia estadunidense pouco mostra sobre a face real da democracia no próprio país, preferindo sempre ressaltar a falta dela em outros lugares, para onde os EUA vão “solidariamente” tentar “ajudar” os povos. Uma fórmula antiga, mentirosa, mas que ainda funciona muito bem para a população local, que muito pouco sabe sobre o que acontece fora dos seus muros. Daí que acreditar nas mentiras governamentais é bastante comum.
Assim, um país como a Colômbia, velho aliado dos EUA, é mostrado como um exemplo de país amigo sem que a população estadunidense seja informada, por exemplo, da escalada de assassinatos e massacres promovidos por forças paramilitares e governamentais contra os lutadores sociais ou sobre as ações de “cooperação” que envolvem os dois países na produção e distribuição da cocaína. Por isso, obviamente, que tirar a Venezuela do controle de Maduro é importante. Para os Estados Unidos, qualquer tentativa de soberania por parte de um país que esteja na sua zona de domínio é logo vista como um grande perigo e enfrentada como tal.
É certo que a Venezuela já foi bem mais rebelde e a morte de Chávez arrefeceu a caminhada do país no rumo do socialismo. Maduro já concedeu demais à direita local e ao imperialismo, mas ainda assim é visto como inimigo vermelho e, sabemos, se os governantes não cedem tudo, o império não sossega. A batalha contra a Venezuela segue firme e novos capítulos serão desatados depois das eleições legislativas, que apontaram os rumos futuros.
Nessa batalha o Brasil está firmemente ao lado dos Estados Unidos, inclusive aumentando seu arsenal militar para apoiar qualquer tentativa de invasão ao país vizinho. Por enquanto é tudo jogo de cena, mas, é sempre bom ficar com as barbas de molho. O Haiti que o diga...