Correio da Cidadania

O Brasil e os dias

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É outono no Brasil. Os dias de maio são luminosos. Mas para a maior parte da população os tempos são sombrios. A pandemia, que chegou em março de 2020, segue seu caminho de morte, sem parada e sem que o governo federal invista em políticas de prevenção. Avançamos para 500 mil mortes em ritmo acelerado, e não há previsão de alteração no quadro de perdas e dor. Pelo contrário. O presidente da nação segue apostando alto no contágio de rebanho e faz ele mesmo a sua parte, circulando, aglomerando, sem máscaras ou cuidados. E, atrás dele, segue o bonde da negação e da ignorância.

O Congresso Nacional, depois de mais de um ano de omissão, decidiu instalar uma CPI para investigar se há ou não responsabilidade do governo na disseminação acelerada da doença. Passaram por lá os três últimos ministros da saúde, todos eles revelando o que o país inteiro já sabia. O governo não se preocupou em proteger a população, o governo incentivou o não uso de máscaras, incentivou o tratamento precoce com remédios inúteis para a Covid-19, não atuou para resolver a falta de oxigênio em Manaus – quando morreram centenas de pessoas sem ar - e não está preocupado com a vacinação. Nenhuma novidade, portanto.

Mas, apesar de tudo isso, mesmo com os depoimentos e as provas, nada acontece e ao que parece nada acontecerá. Isso porque a escolha governamental tem sido muito boa tanto para os cofres públicos quanto para os negócios da pequena fatia dos brasileiros que conforma a elite local. Os idosos – considerados como peso para a previdência – são os que mais morreram, somando mais de 70% das mortes, e esse dado foi comemorado pela Superintendência de Seguros Privados, pois diminuiria o chamado rombo das contas da previdência. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, a morte dos velhos retirou cerca de cinco bilhões de reais da renda potencial das famílias, muitas delas tendo nos aposentados a única fonte de renda. Isso significa um número considerável de gente sendo jogada para a miséria.

Para os empresários esses números são considerados bons também porque aumenta o exército de reserva e eles podem barganhar ainda mais os salários, exigindo mais dos seus trabalhadores e pagando menos. É um momento propício para aumentar os lucros.

Não bastasse isso, enquanto o país se distrai com os depoimentos da CPI gerando memes nas redes sociais, a casa legislativa segue arrochando ainda mais a vida dos brasileiros, seja votando leis que tiram cada vez mais direitos ou entregando a preço de banana o patrimônio nacional. A última agora foi a aprovação para a venda da Eletrobrás, empresa brasileira de geração de energia elétrica. A historinha é a mesma de sempre: tem muita dívida, a empresa dá prejuízo, a conta da luz vai baixar. Ora, uma empresa estatal – a quinta maior do mundo - que cuida de um setor estratégico como o da energia não é uma empresa para dar lucro e sim para servir a nação. Qual empresa privada vai investir e adentrar no interior do país para atender as necessidades de pequenos consumidores? Nenhuma.

Outro golpe que corre célere no Congresso é a tal da reforma administrativa do ministro Guedes, que prevê acabar com o serviço público no país. É um desmonte total do Estado, cujas consequências não são divulgadas para a população visto que a mídia comercial é totalmente cúmplice do projeto ultraliberal do governo Bolsonaro.

Não vou nem falar nos inúmeros casos de corrupção envolvendo a família do presidente que, apesar de todas as evidências e provas concretas, não comovem o judiciário brasileiro, igualmente cúmplice dessa tragédia nacional que vivenciamos. E, se está tudo bem para a classe dominante, dane-se o populacho. Essa é a tônica.

Já vamos entrar no sexto mês do segundo ano da pandemia e por aqui menos de 10% da população está vacinada. Não há indícios de que as coisas possam melhorar, bem como não há indícios de que haja uma reação massiva. Num país onde a Covid-19 só avança, o medo ainda é o nosso maior inimigo.

Porque além de não haver vacinas, não há também qualquer garantia de que haverá hospitais, leitos de UTI ou oxigênio para os infectados. É o cenário perfeito para a classe dominante – que se vacina nos EUA – avançar sobre os direitos dos trabalhadores e saquear a nação.

Nesses tristes dias, nem deus é por nós!

Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

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