Correio da Cidadania

O Brasil em tempos de Olimpíadas e chantagens

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Darlan Romani, quarto lugar no arremesso de peso, treinou em terreno baldio em sua cidade no período mais crítico da pandemia.

Os dias foram assim. De dia a CPI da Covid no Congresso Nacional, um teatro de emoções simuladas, mentiras e atuações dramáticas que parecem ir para lugar nenhum. De noite, as Olimpíadas, onde atletas mal pagos, sem patrocínio e sem espaço para treinamento disputam os esportes individuais, alguns até arrebatando medalhas, o que faz a mídia entreguista vibrar e enaltecer o “esforço” pessoal. Correndo por fora, temos o presidente da nação, criando a cada minuto um novo factoide, ameaçando e chantageando o país, prometendo um golpe, sem que nenhuma instituição do chamado “mundo democrático” faça qualquer coisa. São dias fatigantes e desesperadores.

Não se pode dizer que não há reação. Há. Mas ela é pequena e pontual. Nesse momento, se expressa apenas nas particularidades, em lutas corporativas, onde a perda de direitos caminha a galope. Os trabalhadores tentam entabular lutas, mas têm sido patrolados sem dó. E, quanto mais perdem, mais apáticos ficam. Porque não enxergam saídas.

No mundo das redes segue a mesma tática de fazer graça com as chamadas “maluquices” do presidente. E enquanto as pessoas ficam inventando “memes” e compartilhando postagens, no mundo da vida os gerentes do governo vão passando o rodo. Em tudo. Já queimaram a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal. Já queimaram museu e cinemateca, na tentativa de destruir a memória, incentivam a morte dos lutadores sociais, aprovam projetos que permitem o roubo de terras de indígenas, quilombolas e ribeirinhos, já passaram as reformas mais importantes para o capital, faltando agora a Reforma Administrativa que mergulhará o serviço público em mais um amplo processo de desmantelamento.

A mais nova investida presidencial está na proposta de tirar poderes do Tribunal Superior Eleitoral durante o processo de eleições, que ele quer que seja com o voto impresso, para garantir o curral eleitoral. E o factoide do dia é mais uma ameaça ao ministro do Superior Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, dizendo que “seu dia vai chegar”. Tudo noticiado pelos jornais e redes de TV como coisas normais, sem questionamento. Enquanto isso, a Covid-19 segue cobrando mais de mil mortes por dia ao mesmo tempo em que a vacinação segue em passos de tartaruga. Isso que a variante Delta ainda nem chegou.

Vivemos a trágica realidade na qual todos os dias o presidente do país anuncia que vai dar um golpe, sem que absolutamente nada aconteça. Tudo segue “normal”, ainda que o desemprego mantenha o recorde de 14,7%, com quase 15 milhões de desempregados, mais os seis milhões de desalentados, que nem buscam mais por emprego. Ou seja, 21 milhões de pessoas sem renda. O gás está em 100 reais e a gasolina logo chegará aos 10 reais, sem protestos.

Os salários dos trabalhadores estão congelados enquanto o grupo de amigos que está no poder - incluindo aí uma leva de militares – tem os salários triplicados. Não bastasse isso, conforme denúncia da revista Fórum, 100 generais vinculados ao governo receberam recentemente a patente de Marechal, extinta desde 1967, que volta à vida para privilegiar alguns. Uma farra.

Os bolsonaristas gritam aos quatro ventos que a corrupção no Brasil acabou, mesmo com a CPI da Covid a revelar todos os dias casos escabrosos relacionados ao uso da pandemia para ganhar dinheiro. O presidente impôs 100 anos de silêncio sobre a presença de seus filhos - que são vereador, deputado federal e senador – no Palácio do Planalto e também colocou sob sigilo seus gastos no cartão corporativo. Tudo que diz respeito a ele é segredo, até seu cartão de vacina. Ele certamente se vacinou, mas quer manter a fachada de “não-vacinado macho” para a sua claque que se mantém firme contra a vacinação.

E assim vai indo a nave Brasil, que ao contrário do que todo mundo diz, não está desgovernada. Ela tem direção certa. Conforme o prometido em campanha, o presidente segue destruindo tudo o que estava aí, servindo ao grande capital, fazendo as reformas esperadas pelos empresários nacionais e internacionais, atendendo ao latifúndio e às mineradoras. Importante que se diga que não está sozinho nessa empreitada. Com ele está a maioria esmagadora dos deputados e senadores que conformam o Congresso Nacional bem como os ministros do STF. Os três poderes caminham juntos em ordem unida e devem ser responsabilizados pelos danos.

Essa não é jornada de um psicopata. É um plano bem urdido da classe dominante, escolhendo a rota mais perversa que pode encontrar o modo capitalista de produção para atender ao seu insaciável apetite.

Resta saber até quando vamos suportar...

Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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