Pandora Papers e os movimentos sociais
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- Elaine Tavares
- 13/10/2021
O escândalo das contas e operações ilegais no estrangeiro divulgado pela operação “Pandora Papers” parece não ter provocado nem cócegas nos dirigentes brasileiros, tais como o Ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas em outros países da América Latina o tema está colocando os movimentos sociais em luta.
No Chile, por exemplo, a Confederação de Estudantes, acompanhada de mais uma série de organizações, chamou uma marcha nacional para a sexta-feira (8), no centro de Santiago, e exigiu a renúncia do presidente Sebastián Piñera, uma vez que a família do presidente está envolvida na venda do megaprojeto mineiro Dominga. Segundo os documentos da “Pandora”, a operação foi fechada nas Ilhas Virgens Britânicas durante o primeiro mandato de Piñera. Para os movimentos sociais que se levantam em luta já basta de o presidente realizar negócios pessoais com o patrimônio natural do Chile. Os movimentos ambientais insistem que, agora, mais do que nunca, o governo deve acabar definitivamente com o projeto de mineração na região de La Higuera.
No Equador a organização indígena mais importante do país, a Conaie, também está solicitando investigação sobre o atual presidente Guillermo Lasso acerca dos investimentos que ele mantém em paraísos fiscais desde antes de 2017 e que também foram revelados pela operação Pandora. “É uma vergonha que o presidente promova a evasão de divisas mantendo 14 sociedades fora do país”, dizem. A organização não descarta manifestações caso as instituições façam vista grossa para as denúncias.
As Assembleias Nacionais, tanto do Chile quanto do Equador, já abriram investigação sobre as denúncias.
No Brasil, abrindo as páginas dos grandes jornais nacionais, não há praticamente notícias sobre o Pandora Papers e nas redes de televisão, apenas as que transmitem por cabo falam sobre o tema. Partidos políticos tampouco mobilizam as massas, muito menos as Centrais Sindicais.
Ao que parece o ministro Paulo Guedes sairá tranquilo desse imbróglio.
Atualmente 65 mil brasileiros mantêm contas nos paraísos fiscais e movimentam mais de três trilhões de dólares, sem pagar impostos.
Lembrando que o PIB brasileiro chega aos seis trilhões, portanto, é dinheiro demais saindo do país sem deixar rastro. O tal “Brasil acima de tudo” segue sendo apenas retórica dos falsos patriotas.
Elaine Tavares
Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC