Nicarágua vai às urnas no próximo domingo
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- Elaine Tavares
- 03/11/2021
Créditos da foto: dpa/picture alliance
A Nicarágua vive no próximo domingo suas eleições presidenciais em meio a muitas polêmicas envolvendo o presidente atual Daniel Ortega, que disputa o quarto mandato consecutivo. Vários países já declararam não reconhecer o resultado que virá, afirmando que o pleito não é legítimo pelo fato de os principais adversários de Ortega estarem na prisão acusados de “traição à pátria”.
Entre esses está Cristiana Chamorro, que era considerada a figura de oposição - de direita - com mais chances de vencer as eleições. Ela é filha de Violeta Chamorro, que em 1990 derrotou Ortega, encerrando o período da revolução sandinista. Os outros candidatos que também foram presos são Arturo Cruz, Félix Maradiaga, Juan Sebastián Chamorro, Miguel Mora, Medardo Mairena e Noel Vidaurre.
Sem seus principais adversários, Ortega disputará a presidência com outros cinco candidatos.
Walter Espinoza, do Partido Liberal Constitucionalista (PLC), ligado ao setor turístico.
Guillermo Osorno, do partido Camino Cristiano Nicaragüense (CCN), pastor evangélico e atualmente deputado do Parlacen, numa aliança com os sandinistas.
Marcelo Montiel, advogado, candidato pelo partido Alianza Liberal Nicaragüense (ALN).
Gerson Gutiérrez Gasparín, de 29 nos, advogado, é o candidato mais jovem, e disputa pelo partido Alianza por la República (Apre).
Mauricio Orúe, de 53 años, pastor evangélico, concorre pelo Partido Liberal Independiente (PLI). Tem baseado sua campanha na tentativa de desqualificar o processo eleitoral e é o que tem apelado à comunidade internacional para que não reconheça as eleições.
Não há entre eles nenhum candidato de esquerda, nicho reivindicado por Ortega. As forças de oposição de esquerda estão chamando pela abstenção.
Ortega, que foi um dos principais líderes da Revolução Sandinista, tem recebido críticas de todos os lados como um ex-guerrilheiro que degenerou ao subir ao poder. Inclusive a ala esquerda do sandinismo o rechaça e não o reconhece. Ele é acusado de controlar um estado policial que reprime a população e elimina os adversários.
Esta semana a empresa de Zuckerberg, Meta, desativou mais de mil contas no facebook e instagram alegando que eram usadas pelo governo para atacar a oposição.
Por outro lado, setores ligados ao governo acusam os Estados Unidos de atuarem como sempre atuaram na América Latina e no Caribe, buscando evitar governos que não estejam alinhados. A ação do Facebook, denunciam, eliminou contas de movimentos sociais, entidades legítimas e de pessoas físicas que apoiam o governo. Entre as forças de esquerda latino-americanas há bastante divisão. Há os denunciam as decisões de Ortega na batalha política, principalmente as prisões, e há os que defendem o governo que vive sob intenso ataque do imperialismo estadunidense.
Mónica Baltodano, ex-comandante sandinista, é uma das mais firmes opositoras do governo de Ortega ao qual acusa de se aliar com figuras da direita e com os organismos internacionais que mantêm o país sob jugo, consumindo as riquezas. Também denuncia que Ortega lida de maneira autoritária com os movimentos sociais, criminalizando os protestos e enfiando na prisão as lideranças. Baltodano está asilada na Costa Rica justamente porque foi presa e perseguida pelo governo. Ela diz que a luta hoje precisaria ser levada a cabo pela movimentação das forças populares, mas com a prisão dos líderes isso está bem difícil.
Provavelmente Ortega vença as eleições, pois segue tento bastante apoio popular.
Elaine Tavares
Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC