Correio da Cidadania

Dos horrores do capitalismo

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Foto: Reprodução / Senado Federal

Um homem foi queimado vivo na Beira-Mar (morada dos ricos) em Florianópolis. Estava rolando uma festa ali, mas ninguém viu. O homem era pobre e preto. A mídia diz que ele tinha passagem pela polícia, como se isso justificasse. O horror. Ele lembra que ouviu risos. Ou seja, quem ateou fogo nele, riu, achou engraçado. E foi embora, certo da impunidade. A polícia não sabe de nada, não tem imagens no local (coisa bem estranha, visto que é a região mais nobre da ilha) e chegou a pensar que ele tinha sumido do hospital, aparentemente sem se importar muito.

Um velho morreu congelado em Paris, França, num bairro elegante. Sentiu-se mal, caiu no chão e ninguém, absolutamente ninguém, se importou de ver o que estava acontecendo. Era uma noite fria, de inverno. Ele ficou ali caído por nove horas e a primeira pessoa que se acercou dele pra ver se estava vivo foi um morador de rua. Provavelmente as pessoas que passaram por ele acharam que era um bêbado ou um homem da rua e, isso, por si só, era uma indicação de que deveria ser deixado ali. Quando na manhã seguinte soube-se que era um fotógrafo famoso, a comoção foi grande. Teria sido se fosse só um andarilho? Com certeza não.

Um garoto de 24 anos, pobre e preto, foi espancado, amarrado, e espancado de novo, por ter ido cobrar seu salário do dono de um quiosque no Rio de Janeiro. Se alguém viu o horror, não se manifestou. E cerca de cinco caras mataram o jovem africano porque ele ousou pedir o que lhe era direito.

Essas são cenas de horror que acontecem praticamente todos os dias em quase todos os lugares do mundo onde impera o capitalismo. Porque neste modo de produção, no qual a exploração do outro é base, há uma completa falta de preocupação com o pobre, o caído, o oprimido, o trabalhador. Não há empatia, não há comprometimento. No geral as pessoas preferem não se envolver. Se está apanhando, alguma coisa fez! Se está aí no chão, boa coisa não é. Se foi queimado é porque estava incomodando. É o que a maioria pensa.

Para nós, que nos horrorizamos, é sempre importante lembrar o óbvio: as saídas não são individuais. A saída é coletiva. Para que isso não mais aconteça há que mudar a maneira como a sociedade se organiza. Por isso que a única forma de acabar com essas tragédias é a construção de um modo de vida no qual a cooperação, a solidariedade e a justiça existam de verdade. É necessário que venha o socialismo e depois o comunismo. Claro que ainda acontecerão tragédias, é do humano, mas, certamente não será algo cotidiano como é hoje no mundo capitalista. Disso eu tenho a mais absoluta certeza.

Queria que todos pudessem ter essa certeza também e, desde aí, construir esse mundo novo, a partir da revolução. Afinal, apenas chorar não resolve...

Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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