Correio da Cidadania

EUA querem extradição de ex-presidente de Honduras

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Foto: Juan Orlando Hernández discursa em El Salvador, em 23 de agosto de 2016, durante seu mandato como presidente de Honduras. Créditos: Presidência de El Salvador / Commons Wikimedia.

Na última semana a Corte Suprema de Justiça de Honduras ratificou o pedido de extradição do ex-presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, aos Estados Unidos. O pedido de prisão para Juan Orlando chegou em fevereiro deste ano e foi imediatamente realizado. Agora, com essa decisão da Corte Suprema, ele deverá ser enviado para os Estados Unidos. Também está preso e deverá ser extraditado o ex-chefe da Polícia Nacional, Juan Carlos Bonilla Valladares, que responde pelos mesmos crimes.

As acusações que pesam sobre o ex-presidente estão listadas em um documento da Embaixada dos Estados Unidos enviado à Secretaria de Relações Exteriores de Honduras e compõe três grandes eixos:

1. Conspiração para importar drogas aos Estados Unidos. Fabricar e distribuir substância controlada com o objetivo de enviar aos Estados Unidos. Fabricar, distribuir e possuir substâncias controladas a bordo de um avião registrado nos Estados Unidos.
2. Usar, portar e instigar o uso de armas de fogo para garantir a importação de drogas aos Estados Unidos.
3. Conspirar para o uso de armas, inclusive metralhadoras, para garantir a importação de drogas aos Estados Unidos.

Segundo o documento esse processo de atuação de JOH com o narcotráfico começou em 2004, quando ele ainda era apenas um deputado. Ele teria participado das operações que visavam levar a droga vinda da Colômbia até os Estados Unidos. Mais de 500 toneladas de cocaína teriam passado por Honduras, sob suas vistas. Desde aí, e quando esteve no cargo de presidente da nação, de 2014 a 2022, Juan Orlando tem ajudado traficantes, impedido investigações e usado a Polícia Nacional para proteger os criminosos.

O documento da embaixada estadunidense aponta os subornos que JOH recebeu de traficantes conhecidos em Honduras e nos EUA que, por sua vez, financiaram as campanhas para deputado federal e depois para presidência, além de garantir sua riqueza. Tudo é descrito em detalhes, inclusive o montante de dinheiro, drogas e armas envolvidos nos delitos.

Os argumentos do governo estadunidense baseiam-se num tratado de cooperação e de extradição de criminosos entre EUA e Honduras assinado a portas fechadas pelo Congresso Nacional, em 2010, justamente quando JOH era presidente da casa. E também apontam a Convenção das Nações Unidas contra o crime transnacional organizado.

É de surpreender que os Estados Unidos, tendo conhecimento de todos esses fatos desde 2004 tenham garantido que Juan Orlando governasse Honduras por oito anos seguidos, sem qualquer rugosidade, considerando que por muito menos invadiram o Panamá em 1998, para capturar o então presidente Manuel Noriega, também acusado de tráfico de drogas. Da mesma forma é surpreendente que não haja pedido de extradição ao ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, quem também já tem uma farta ficha criminal no Departamento de Estado dos EUA.

Ou seja, a atuação dos EUA como xerife do mundo é muito dúbia, sempre baseada em algum interesse escuso e nunca nos interesses da sociedade. Se Juan Orlando é prejudicial aos Estados Unidos por ter facilitado o tráfico de drogas, porque os presidentes colombianos não o são? Um país como a Colômbia, que tem dentro dele nove bases militares ianques e ainda assim é o maior exportador de drogas para o mundo, deve ter alguma “magia” particular.

Também é de surpreender que Xiomara Castro não tenham feito qualquer movimentação para garantir que o ex-presidente hondurenho ficasse no país e ali mesmo pagasse pelos seus crimes. Afinal, se causou mal aos Estados Unidos por proteger e garantir o tráfico de drogas, muito mais mal fez ao povo hondurenho, sempre refém da violência e da miséria causada pelo narcotráfico. Ao que parece Xiomara quer matar dois coelhos com uma só cajadada: ficar bem com os EUA e se livrar de uma figura nefasta. A história dirá se é uma boa decisão.

Ainda assim é sempre muito impactante perceber o quanto os sucessivos governos de países da América Latina – mesmo os que se dizem progressistas - seguem ajoelhados diante dos interesses estadunidenses, produzindo acordos de cessão de soberania e ao mesmo tempo contribuindo para a manutenção da farsa sobre os Estados Unidos estarem preocupados com o combate ao narcotráfico. Ao que parece tudo está imbricado e a máquina segue bastante azeitada. Os que caem são sempre os “gerentes” do negócio e apenas quando e como os grandes chefes domiciliados nos EUA decidem.

Juan Orlando será enviado para os EUA, o Tio Sam vai pagar de bom moço, e o tráfico seguirá seguro com outros “capos” mais jovens e mais selvagens, até que venha de novo o bom moço e zaz... Enquanto isso os latino-americanos vão morrendo, seja dentro de seus países ocupados militarmente ou pela miséria imposta, seja nos caminhos tentando chegar ao país do bom moço. Um círculo que parece não ter fim...

 

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Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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