Correio da Cidadania

No capitalismo, o governo é dos ricos

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Foto: Reprodução POEMA – Política Econômica da Maioria

A lógica do sistema capitalista é sempre garantir vantagens para os mais ricos. Sempre, sempre, sempre. Essa é uma lição que já deveria ter sido aprendida pela população que sofre cotidianamente com as políticas que são impostas para garantir essa máxima.

No Brasil, comemos veneno porque o governo abriu as portas para os agrotóxicos, das empresas multinacionais. Também pagamos mais caro os alimentos porque a prioridade é para o agronegócio que planta para exportar, não para gerar comida. No governo atual temos visto a destruição sistemática de tudo o que é público com a redução de verbas que vão estrangulando os serviços a ponto de não conseguirem mais atender a população. O motivo: garantir mais lucro para o setor privado.

Esta semana as redes de televisão mostraram o drama das famílias que precisam de antibióticos. Antibióticos. Os mais baratos, produzidos por laboratórios públicos, estão em falta. Está quase impossível encontrar Amoxicilina nos postos de saúde e nos hospitais públicos. A mídia faz a matéria espetaculosa, mas não conta para a população o motivo disso. Não tem remédio porque o governo tem estrangulado os laboratórios públicos. Muitos fecharam. A saída então, qual é? Comprar os antibióticos das farmacêuticas famosas, que são 300, 500% mais caros. Faz-se isso ou morre. É o governo engordando a conta dos mais ricos.

O governo tem também diminuído significativamente a verba para as universidades públicas e para os projetos de Ciência e Tecnologia. Ou seja, impedindo os empobrecidos de estudar e impedindo o país de garantir sua soberania diante da ciência. Com esse estrangulamento o governo enriquece as grandes empresas transnacionais que vendem tecnologia e garante o estudo apenas para a classe dominante. Assim, vai engordando o bolso dos mais ricos. Caso o empobrecido queira estudar, que se lasque para pagar uma faculdade privada, estudando à noite, perdido da qualidade.

Agora, na última quarta-feira, dia 1, a Câmara dos Deputados, que também existe para defender os interesses dos mais ricos, aprovou mais uma lei que é um tapa na cara do povo brasileiro, principalmente os da classe média. O projeto, de autoria do governo Bolsonaro, entre outras aberrações, permite que os bancos tomem o imóvel, a casa, a morada, das famílias que tiverem dívidas, quaisquer dívidas que usem a casa como garantia. Até agora isso não era possível, pois havia o entendimento de que a moradia é um direito e a casa não pode ser usada para quitar dívidas. Bueno, graças a Bolsonaro e seus apoiadores, isso já era. Caso a pessoa se envolva em dívidas e tenha uma casa, ela poderá ser tirada pelo banco. Sem choro nem vela. Ou seja, aquilo de que tanto acusam o comunismo – esse ente mítico que é usado para colocar medo nas pessoas – agora será praticado mesmo é pelas instituições financeiras, as filhas diletas do capitalismo.

Os que lutam por moradia sabem bem o que é isso, quando na batalha por morar conseguem se organizar e ocupar terras para fincar seus barracos. Eles frequentemente são despejados sob a ponta do fuzil, com violência, sem piedade. Agora, até mesmo aqueles que a custa de muito esforço conseguiram comprar sua casa, poderão viver esse drama.

No caso deste projeto, votaram a favor dele 260 deputados. Duzentos e sessenta, com 111 votos contrários. Ou seja, uma maioria considerável assinou embaixo de mais uma vilania contra a população, contra os trabalhadores, que são os que se endividam de verdade. Dívidas que contraem para sobreviver e não para investir como fazem os empresários.

No Brasil é comum os trabalhadores se encalacrarem por conta de cartão de crédito, esta é a maior causa da inadimplência. E estas são dívidas que triplicam ou quadruplicam em poucos meses em função dos altos juros cobrados, entre 10 e 15% ao mês, conforme o banco, mas pode ser maiores. Alguns bancos chegam a alcançar a taxa de 700% ao ano. Imaginem. O cara compra uma geladeira, não consegue pagar as prestações e em um ano a dívida cresceu 700%? Ou seja, ele acaba pagando por sete geladeiras. E caso não consiga pagar, pelo acúmulo que vai gerando, agora ele poderá ser penalizado com a perda da propriedade.

Não é um contrassenso? Um sistema que ancora sua existência em cima da propriedade privada, ideologicamente dizendo que ela é sagrada? Pois se a pessoa ainda não entendeu, lá vai! A propriedade privada que é sagrada no capitalismo é a propriedade do rico. Se o empobrecido, por algum motivo consegue garantir a sua, fique atento: a sua não é sagrada. Ela poderá ser tomada a qualquer momento pelos bancos, financeiras e afins.

No comunismo, esse que muita gente teme, a propriedade privada não existe. Nem os ricos. Como pode então tanta gente temer esse sistema?

O fato é que os governos, no sistema capitalista, governam para os ricos. Já apontou Marx: o Estado capitalista é o balcão de negócios da burguesia. E nesse Estado, também os deputados e senadores são os gerentes do negócio. No caso do Brasil é sempre bom lembrar: Bolsonaro não é responsável sozinho por toda essa carga de destruição da vida da maioria. Ele tem o apoio e a chancela dos deputados, senadores, juízes. É por isso que tirá-lo do poder não resolve a coisa toda. Há que mudar tudo. Sacar os gerentes não destrói o negócio do dono.

Atentem para isso

Em Santa Catarina, onde o projeto Bolsonaro teve mais votos, os deputados federais que representam o povo votaram SIM à proposta que toma a casa dos trabalhadores. Apenas o deputado Pedro Uczai (PT) votou não. Apenas um.

Votaram a favor: Angela Amin (PP), Carlos Chiodi (MDB), Carmem Zanotto (Cidadania), Caroline de Toni (PL), Celso Maldaner (MDB), Coronel Armando (PL), Daniel Freitas (PL), Darci de Mattos (PSD), Fábio Schiochet (União). Geovânia de Sá (PSDB), Gilson Marques (Novo), Hélio Costa (PSD), Ricardo Guidi (PSD), Rodrigo Coelho (Podemos).

Conheçam bem essas criaturas e tratem de colocá-las na lata do lixo da história, com luta renhida. Ou isso, ou chorem...

 

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Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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