Correio da Cidadania

Brasil, EUA e Amazônia

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Foto: do Instagram de Sonia Guajajara

Li no Instagram da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que ela esteve na Embaixada dos Estados Unidos para uma conversa com John Kerry, ex-secretário de estado no governo Obama e agora no governo de Biden chamado de “enviado especial para o clima”. Até aí tudo bem, afinal, faz parte do jogo político conversar com enviados de outros governos. Mas, seguindo a leitura da sua postagem vem o choque. Ela diz: “Estive hoje na embaixada dos EUA, aqui em Brasília, para um encontro com o Enviado Especial Presidencial para o Clima, John F. Kerry. Que se mostrou verdadeiramente preocupado e interessado em contribuir com a proteção ambiental e com a proteção dos direitos dos povos indígenas”.

As perguntas que me ocorrem são: desde quando os Estados Unidos estão interessados na proteção dos direitos indígenas? E do Brasil? Por que estariam? Afinal, muito pouca atenção dão aos povos originários que vivem nos Estados Unidos... Teriam então preocupação com os nossos originários “a son de qué”? Isso é completamente descabido. Os Estados Unidos - e a história confirma - só estão, sempre, preocupados com seus próprios interesses ou os interesses de sua classe dominante para ser mais exata.

Diz a ministra que o enviado especial também se mostrou bastante interessado em contribuir com a proteção ambiental no Brasil. Bom, aí já começamos a entender melhor. Os Estados Unidos querem meter a mão na Amazônia e isso não é de hoje. Agora, tem um sinal verde que foi dado por Lula no encontro com Biden. Por isso mesmo que o senhor Kerry já veio rapidinho para novas conversas. Biden prometeu alguns caraminguás para o Fundo Amazônico e a gente sabe muito bem que no mundo capitalista quem dá a grana, manda, mesmo que sejam migalhas.

Simón Bolívar e José Martí são dois grandes pensadores da Pátria Grande que já alertaram, cada um no seu tempo, sobre a política de rapinagem dos Estados Unidos. E basta uma olhada na história desse país do norte para vermos como ele se move na relação com os países dependentes e subdesenvolvidos da periferia capitalista. Nada de bom vem dali. Nada! Eles são o império e tudo querem para si. Permitir que se acheguem de mansinho, com palavras generosas, é abrir a porta ao ladrão. É verdadeiramente frustrante ver essa geração de políticos da esquerda liberal acreditando que os chamados “democratas” estadunidenses fazem parte do bonde dos bonzinhos. Nunca sei se é ignorância ou má-fé.

Por fim sempre é bom lembrar que a região amazônica é um espaço que está não apenas no Brasil. Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname, além do território da Guiana Francesa também têm seus espaços de floresta. Ali vivem 33 milhões de pessoas, sendo que um milhão e 600 mil são povos indígenas de 370 etnias. É uma região que conforma uma riqueza imensurável em biomassa, energia, minerais, fármacos, além de ser uma espécie de pulmão do mundo.

Sendo assim seria muito mais plausível que esses países se unissem em projetos conjuntos, mas sem a presença da águia assassina que tanto mal tem provocado nesta nossa América baixa.

É claro que nunca esperei do governo Lula qualquer ação revolucionária na defesa da nossa soberania, mas achei que seria mais discreto na relação com o império. Enfim, seguimos na luta, tristes, mas não imobilizados. Enquanto houver bambu, vai flecha.

 

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Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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