Correio da Cidadania

A ditadura de mercado em Florianópolis

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Foto: Cristiano Estrela

Desde que recomeçou o debate sobre as mudanças no Plano Diretor em Florianópolis, tenho repetido: essa é uma prefeitura fraca. Porque ao ceder aos empresários do cimento ela abre mão da soberania que deveria ter por si própria, ao conseguir um mandato do povo. O prefeito foi eleito pelas gentes daqui e essa mesma gente disse não às mudanças em 13 diferentes audiências públicas arrancadas da prefeitura pela Justiça. Mas, apesar do “não”, a prefeitura seguiu com as mesmas propostas e mandou para a Câmara. E a Câmara seguiu as mesmas ordens do bonde do cimento. Prefeitura fraca e vereadores fracos. Dobram-se sem pejo ao mando do capital. Por medo ou por conivência? Isso é algo a pesquisar...

Agora vivemos aqui no entorno da UFSC mais um drama que impactará a vida de milhares de pessoas. A tal duplicação da Edu Vieira. Lembro que o terreno foi entregue à prefeitura por uma reitoria fraca, que também se rendeu ao mando do bonde do cimento e à indústria do automóvel sem pejo. Apesar de terem acontecido dezenas de debates e haver até uma proposta construída desse pensar coletivo, o reitor na época (2012), Álvaro Prata, decidiu aprovar a entrega do terreno. Levou a proposta para o Conselho Universitário que, igualmente, entregou o terreno, ainda que condicionasse a um debate conjunto com a prefeitura.

Na época, alguns professores da UFSC, membros do conselho, diziam que poderiam ajudar a cidade a sair do caos do trânsito. Ilusão. Logo depois, em 2014, a reitora Roselane Neckel retomou o debate e entregou o terreno sem reservas, apesar dos protestos da comunidade. “Façam o que quiserem”. Essa foi a mensagem. Na comunidade se dizia: se houver duplicação, que seja como a gente quer, com ciclovias e pista exclusiva para ônibus, para realmente melhorar a vida de estudantes e trabalhadores. A reitoria fraca entregou o espaço para uma prefeitura fraca, rendida à cultura do carro, incapaz de ouvir a voz da população.

E assim, passaram-se os anos com uma obra inacabada, comendo dinheiro público, milhões, milhares. Por fim, esse ano encerraram a tal “duplicação”. Uma obra absolutamente inútil a considerar a lógica que deverá seguir. Não precisa ser muito esperto para saber que os gargalos do trânsito seguirão em outros pontos, mas seguirão iguais. Os carros passarão mais rápido pela UFSC, mas logo ali na frente vão parar. Porque o planejamento da cidade é burro. E nós, trabalhadores e estudantes, seguiremos sofrendo nos ônibus, que seguirão lentos e lotados.

A ideia da prefeitura fraca é fazer um sistema binário. Já até anunciaram e já planejaram as linhas de ônibus. E a reitoria atual? O que diz? Como se posiciona?

Não ouviram a população. Não ouviram os usuários. Não ouviram quem realmente vive na região. Inventaram uma lógica saída das cabeças tecnocratas que provavelmente não andam de ônibus. “Desafogar os carros, desafogar os carros”, devem pensar os escravos da cultura do individual. O transporte coletivo vai respeitar os interesses de quem? Ora, do bonde do monopólio. Nada para nós, tudo para eles. Prefeitura fraca.

Anunciaram que dia 21 começa a mudança. Mas não ouviram a população. A administração municipal segue governando como se não tivesse um mandado do povo. Administra para os empresários. É fraca. Impõe suas vontades à maioria e acredita-se forte. Mas, na verdade, é fraca. Mostra toda a fragilidade que tem diante dos interesses do cimento e do transporte individual. Serve ao deus mercado.

Prefeitura fraca. Prefeitura burra. E apesar disso, a população segue aceitando passivamente tudo isso. Protestos há. Mas, são poucos.

Quando será que a população de Florianópolis vai decidir por ter uma prefeitura forte, que realmente governe para o povo?

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Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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