Correio da Cidadania

“Migrantes, não venham”

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“Migrantes, não venham”
Prefeito de Nova Iorque quer convencer migrantes a não irem para sua cidade

Foto: Angela Weiss AFP


Os estadunidenses não deixam de surpreender. Li hoje que o prefeito de Nova Iorque, Eric Adams, fará um giro por alguns países da América Latina esta semana, passando por México, Equador e Colômbia. Conforme a notícia, o objetivo dessa viagem é convencer as pessoas, no caso, possíveis migrantes, a não pedir asilo em sua cidade, Nova Iorque. Segundo ele, o fluxo massivo de migrantes à “grande maçã” já esgotou a capacidade do sistema de albergues e também os recursos financeiros.

Em princípio li e não acreditei. Aí fui checar. Pois é verdade. A viagem tem início no México onde ele participa de um fórum de discussão e se reúne com gente do governo. Depois, segue para Quito, onde fará mais reuniões e em seguida Bogotá. Por fim também está disposto a visitar a região de Darién, uma perigosa rota de passagem de migrantes que caminham em direção aos Estados Unidos.

Seu singelo pedido para que os migrantes não rumem à Nova Iorque se deve ao fato de que só no último ano a cidade acolheu mais de 120 mil migrantes e a cada dia chegam mais centenas de pessoas buscando oportunidades. “Estamos no limite”, diz.

Atualmente o prefeito mudou algumas regras para os migrantes, limitando a estadia de adultos nos albergues em até 30 dias. Nova Iorque recebe muita gente porque tem um acordo legal que subsiste por várias décadas que obriga a municipalidade a proporcionar albergues a qualquer pessoa que solicite. Ele então pretende dizer aos futuros migrantes que estes albergues não são hotéis de cinco estrelas e tampouco estar ali significa que vão conseguir emprego. Aparte isso também busca a justiça estadunidense na tentativa de suspender esse acordo histórico.

Para nós que vivemos neste espaço geográfico latino-americano a viagem do prefeito de Nova Iorque soa bizarra. Ao que parece sua conversa se limitará a membros dos governos e participantes de fóruns de migração. Não necessariamente chegará aos ouvidos dos candidatos a migrante. E é verdadeiramente estupefaciente que um governante de uma cidade gigante como Nova Iorque não tenha qualquer ideia do que é que leva pessoas de todos os países da América baixa a migrar.

Os Estados Unidos, ao longo dos anos, tem sido o principal agente de empobrecimento e violência nesta parte do mundo, com intervenções armadas, intervenções econômicas, apoio a ditaduras, políticas de arrocho e outra infinidade de ações que mantém estes países na dependência e no subdesenvolvimento. Assumindo seu papel de império, de país rico, os Estados Unidos aparecem no imaginário das gentes empobrecidas como o lugar da fartura e da oportunidade. E é por isso que eles dirigem suas vidas para aquele lugar. Atualmente, os migrantes da América do Sul e Central se organizam em grandes vagas de gente, por vezes com colunas de mais de quatro mil pessoas, todas fugindo da miséria e da violência que grassa em seus países de origem. Sonham desfrutar do banquete dos ricos e por isso arriscam suas vidas.

Chegando à fronteira com os EUA enfrentam a morte, a polícia, as condições insalubres, a separação dos filhos e muitas outras adversidades. Ainda assim se atiram em esperanças. Por isso, o pedido do prefeito de Nova Iorque soa patético e cínico.

Ainda assim o democrata Eric Adams é conhecido como um governante que é “bom” para os migrantes, porque tem encabeçado junto com outros prefeitos um movimento junto ao governo federal para que facilite aos migrantes a obtenção do visto garantindo que eles possam entrar logo no mercado de trabalho e assim sair das costas da municipalidade.

A questão da migração muito provavelmente não se resolverá com essa viagem do prefeito Adams, afinal, a única medida que poderia estancar o fluxo intenso de pessoas em fuga seria justamente os Estados Unidos encerrarem sua política imperialista de intervenção nos países da América Latina permitindo que cada país pudesse viver em paz, bem como sua gente.

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Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

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