Correio da Cidadania

Palestina, uma dor pulsante

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Foto: AP/Lefteris Pitarakis

Todos os dias vejo os horrores de Israel contra o povo palestino. Milhares de mortos. Crianças feridas vagando, velhos perdidos na angústia, famílias revirando escombros, buscando comida. Centenas de pessoas andando pelos caminhos, sendo caçadas como num filme de roliúde. Os Jogos Vorazes impiedosos dos sionistas, assassinos confessos. Uma dor que pulsa como um vidro cravado no peito.

Impossível dormir. Impossível seguir vivendo como se nada. Na impotência, vamos gritando para ver se os malditos governantes do mundo acabam com essa dor dilacerante que atravessa o corpo e alma dos palestinos. Mas, nada acontece. No meio de todo esse horror, com mais de 40 mil mortos e cidades despedaçadas, também morrem os jornalistas.

Nesses tempos tiktokers, de dancinhas e musiquinhas, onde o jornalismo agoniza, jornalistas tentam passar ao mundo a verdade do genocídio. Mas, estar com a identificação de “imprensa” do meio do inferno promovido por Israel não vale de nada. Como não valem nada as resoluções da ONU ou coisas assim. Nenhuma regra vale para Israel. Nesses seis meses de massacre, o grupo Repórteres Sem Fronteira já contabilizou 103 profissionais assassinados.

Deste número 91 são homens e 12 são mulheres. Vinte e dois morreram enquanto estavam com o microfone ou a câmera na mão, reportando. Assassinatos frios e calculados. Bastou estar reportando o genocídio no lado palestino e já vira alvo. Os únicos jornalistas respeitados e protegidos são o que atuam do lado das forças de Israel, contando mentiras ao mundo.

A verdade não tem vez no território sob bombas. A verdade morre junto. A verdade é despedaçada junto com os corpos dos profissionais que insistem em reportar a realidade desde dentro de Gaza. Ali, são alvos, como qualquer um palestino. Porque o jornalismo que escancara a verdade tem de ser destruído. Basta a gente ver a agonia de Julian Assange, o primeiro a desvelar os horrores da guerra no Iraque. Preso, torturado, jurado de morte. Porque decidiu mostrar a barbárie. Os homens e mulheres que se arriscam hoje nas ruas de Gaza para mostrar a realidade são filhos dessa proposta tão bem defendida por Assange: revelar as entranhas dos monstros. Expor suas vísceras.

É fato que o jornalismo desapareceu dos meios comercias. Mas, pessoas há que ainda insistem, via outros espaços, sem a palavra “imprensa” escrita nas costas, reportando a vida e a morte. E por mais que as bombas atravessem os corpos, outros tomarão as câmeras e os microfones e seguirão narrando. E é por causa deles que o jornalismo ainda vive em Gaza, mesmo sob os escombros do genocídio. Na Palestina as vozes não se calam, por mais que os assassinos insistam.

Como jornalista me envergonha um pouco que nem o Sindicato da categoria, nem a Federação realizem uma campanha sistemática de repasse de informação sobre Gaza. E que tampouco pranteiem esses colegas que tombaram sob as bombas israelenses, 103 jornalistas. Cá na minha insignificância eu velo seus corpos e dignifico sua coragem, diariamente, repetindo com o imorrível Mahmoud Darwish:

“Sobre esta terra existe algo que merece viver
Sobre esta terra está a sua dona, a mãe dos começos, a mãe dos finais.
Chama-se Palestina.
E segue chamando-se Palestina.
Palestina: eu mereço, porque tu és a minha dama, eu mereço viver”.

Viverá. Palestina Livre.

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Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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