Correio da Cidadania

Presidente do Congresso do Peru foi afastada por “armar queda de Castillo em dois meses”

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CGTP-IN (@CGTP_IN) / Twitter
"A presidente do Congresso do Peru, Lady Camones, foi flagrada em áudios recebendo ordens do presidente do seu partido, Aliança para o Progresso (APP), a fim de que perseguisse o presidente Pedro Castillo. Nela se ouve claramente que Castillo cairia em dois ou três meses, que o tirariam do Palácio. Daí a campanha midiática de desprestigiar e de frear as mudanças, para dizer que ele nada fez ou faz pelo povo”.

Esta é a afirmação de Gerónimo López, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), que nos concedeu uma entrevista na quarta-feira (7) e abriu as portas da entidade para que fizéssemos uma exposição sobre a conjuntura brasileira, e os desafios da mídia popular e sindical neste contexto.

O Congresso do Peru destituiu sua presidente, a direitista Lady Camones, em 5 de setembro depois de aprovar uma moção de censura apresentada após a transmissão de alguns áudios em que o presidente do APP determinava priorizar uma lei que favorecesse sua campanha para governador regional.

A destituição de Lady Camones se deu após a aprovação da moção de censura obter 61 votos a favor, 47 contra e 5 abstenções, entre os 113 parlamentares (de um total de 130) que participaram da sessão. Era necessária uma maioria simples para aprová-la.

Fortalecimento sindical

“O fato é que depois de 32 anos de governos neoliberais, este governo aprovou duas normas muito importantes para os trabalhadores: o Decreto Supremo nº 001-2022-TR 1 – que limita o uso abusivo e ilegal de serviços de terceirização - e o nº 014 - que regulamenta as negociações coletivas, dando a possibilidade de que o movimento sindical volte a crescer, pois o que havia era para freá-lo ou eliminá-lo”, explicou o líder da CGTP. Além disso, acrescentou, “após 42 anos temos a negociação coletiva do setor público, e o nº 276, que dá estabilidade ao servidor, desaparecendo com aqueles contratos a que ficava sujeito a ser despedido a cada três meses ou seis meses”.

Assim disso, alertou Gerónimo, diante de avanços que, mesmo que pontuais e em um ritmo que a população gostaria de ver acelerado, a extrema-direita, o fujimorismo, “está fazendo uma perseguição judicial através da Promotoria, do Ministério Público, acusando o presidente de liderar uma organização criminosa, envolvendo inclusive o seu entorno familiar”.

“O tema de fundo é que não há uma investigação transparente e objetiva que garanta uma averiguação não politizada, há uma partidarização, e isso faz com que haja claramente uma perseguição política e judicial”, frisou Gerónimo.

“Para se contrapor a isso, o governo tem se reunido com movimentos sociais, aberto o Palácio de governo, anunciando compromissos. Mas o fato é que, obviamente, se não houver resultados mais ágeis, as pessoas irão se afastando, com o governo perdendo naturalmente apoios”, alertou o dirigente, condenando as “designações de ministros e funcionários que não têm acúmulo e carregam consigo problemas passados”.

Jornada nacional de luta

Por conta disso, enfatizou, “estamos organizando uma jornada de luta, cuja data será discutida na próxima semana, rumo a uma paralisação nacional contra a oligarquia, contra esse poder econômico que está desestabilizando a democracia, a vontade popular e fazendo tábula rasa dos direitos dos trabalhadores”.

“Porque a realidade é que se temos um governo de quem em um ano não podemos exigir muitas mudanças, precisa demonstrar que está concretizando bases firmes desde o seu alicerce. Por isso, o que a população pede é mais firmeza a Castillo, como a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, para rompermos com a herança deixada do fujimorismo, e o fechamento deste Congresso de corruptos e traidores do país. São medidas que contam com amplo apoio e isso se demonstra pelo fato de que mais de 70%, a grande maioria da população, as respalda”.

Para superar problemas reais, como de “uma esquerda atomizada, em que não há um trabalho unitário para apresentar um projeto claro”, o veterano dirigente aposta na política de frente ampla.

“Temos a Coordenadora Nacional de Forças Progressistas para resolver os grandes problemas do país, com a qual o governo deve sentar para negociar. Castillo necessita tomar a iniciativa e dialogar com os partidos de esquerda e de centro, com as organizações sociais, para ter força para se contrapor ao poder dos oligopólios. Um pacto social de todos os setores, com trabalhadores, camponeses, agricultores, estudantes. E estabelecer medidas de curto, médio e longo prazos que são os cinco anos de governo”, defendeu Gerónimo.

Dentro deste “pacto político-social pela reativação econômica”, apontou, está o enfrentamento ao parasitismo do sistema financeiro, “porque não podemos continuar dando aos bancos privados o capital que falta para financiar o desenvolvimento nacional”.

Em relação às estruturas públicas, recordou, “temos hoje o Banco da Nação e o Banco Agrário, que deveria estar dirigido aos agricultores, mas que não chega até eles, pois seu capital é desviado e fica retido com as transnacionais e com as empresas de grande poder econômico, que concentram e monopolizam tudo”.

Alertando que tão estratégicos e volumosos recursos “deveriam estar sendo direcionados às pequenas e médias empresas, que são as que geram mais de 70% da mão-de-obra”, a CGTP se solidarizou com a marcha que foi realizada na sexta, 9, da Praça San Martin até o Congresso Nacional.

“Além de um investimento emergencial de apoio, o setor reivindica proteção à indústria têxtil nacional, porque a roupa asiática está entrando com livre tarifa, e é aí onde também quebram nossas empresas. O governo tem de proteger a empresa nacional, para garantir salário, emprego e direitos”, concluiu Gerónimo.

Leonardo Wexell Severo é jornalista.

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