Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: com o inverno, possibilidade de conversação

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Questão da Crimeia: o que é, causas, consequências - Brasil Escola
Com o impasse do atual confronto, a ser prolongado com a vinda do inverno, a não ser que negociações diplomáticas prosperem de imediato, há a expectativa de dirigentes norte-atlânticos opostos ao presidente Vladimir Putin de que movimentos de protestos eclodam em solo russo contra o governo, em decorrência das recentes adversidades causadas desde o final de fevereiro – de milhares de mortos e de feridos a privações materiais.

Há pouco mais de trinta anos, agosto de 1991, golpe de Estado militar desencadear-se-ia contra a cambaleante administração de Mikhail Gorbachev, enfraquecida pela ausência de apoio real do arco euro-americano e pela insubsistência de reformas políticas e econômicas – abertura supervisionada do regime comunista (perestroika).

Durante três dias, a população das duas cidades mais relevantes, Moscou, capital, e São Petersburgo, outrora Leningrado até junho daquele ano, resistiu com denodo à tentativa de ruptura institucional empreendida por parte da linha dura, de maneira que ela fracassaria: formuladores e executores seriam presos.

Chamou a atenção dos meios de comunicação ocidentais a derrubada defronte da KGB da estátua de Felix Dzerjinski, fundador da Checa, polícia secreta revolucionária substituta da temida Okhrana monarquista – dezembro de 1917. Oito agostos depois, assumiria o cargo de primeiro-ministro da Rússia o antigo tenente-coronel daquela organização, Vladimir Putin, à frente a datar de então do Kremlin.

Superada aquela tentativa de golpe, uma consequência do processo da desestruturação política seria o da desintegração territorial do país continental: as três pequenas nações bálticas iniciariam o inimaginável processo de secessão; seriam elas seguidas por graus pela ucraniana, armênia e georgiana, berço de Josip Stalin.

Diante da fragmentação inesperada, a extinção formal da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) seria consumada em breve - dezembro. Retirar-se-ia dos holofotes globais Mikhail Gorbachev e subiria ao proscênio Boris Yeltsin, presidente eleito da Rússia. No atento registro da transição atabalhoada, Putin, o qual ainda observaria outros povos a desligar-se da liga soviética como o moldavo ou o belarusso, por exemplo.

Três décadas posteriores da rebelião frustrada de opositores radicais de Gorbachev, o sonho de reconstituição geográfica do país, começado em ritmo contido em 2014 com a anexação da Crimeia, parece interromper-se perante a resistência da Ucrânia, secundada de modo incessante por Estados Unidos e pela Grã-Bretanha.

Com a estação invernal às portas do continente – início de dezembro – os custos de manutenção castrense elevam-se sem dúvida: a alimentação e a vestimenta das tropas passam a necessitar de maior cuidado nos campos de batalha, ao mesmo tempo em que a logística se dificulta porque o deslocamento da equipagem e, por conseguinte, de víveres ocorre com lentidão.

Com estradas e com estações de energia avariadas, por conta dos bombardeios constantes, os entraves à circulação das duas forças armadas ampliam-se. Se há embaraço para a atuação bélica, há, por outro, possibilidade para a diplomática, ao visar a cessar-fogo com reconhecimento – saliente-se - provisório das fronteiras correntes, apesar de eventual descontentamento de parcela da sociedade com políticos e militares.


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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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