O impedimento que ninguém viu
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- Fábio Luís
- 29/06/2007
Ana Paula Oliveira é bandeirinha de futebol profissional.
Exatamente como se encaminhou para este trabalho, não sei. Se é competente no que faz, é provável. A marcação sobre as suas atuações é muito cerrada para permitir falhas grosseiras.
Mas isso não eximiu a bandeirinha de protagonizar alguns erros, que ficaram marcados. Quase todos, na realidade, foram a falha mais comum dos auxiliares hoje em dia: anotar um impedimento que não existia, em uma jogada que resultou em um gol decisivo.
Embora a orientação oficial da Fifa seja para, na dúvida, não levantar a bandeira, sabemos que na vida não é assim: ninguém quer correr risco na sociedade competitiva. E entre anular um gol legítimo ou validar um gol legal, o primeiro é bem mais fácil de esquecer.
E no entanto, o que não aparece nos gramados é que Ana Paula é antes um produto do futebol como negócio. Escalada como atração suplementar nas partidas, a bandeirinha acessou o terreno da celebridade no mundo do futebol. Na segunda divisão, é verdade, mas suficiente para fazer girar um negócio.
Rodando freqüentemente entre as mesas redondas de final de semana, faz circular sua personalidade como uma marca. Assim, a bandeirinha inaugurou seu site. Por esse caminho, tornou-se o primeiro árbitro nacional a fechar um patrocínio com uma grande marca esportiva. A bandeirinha tornou-se um negócio, e ninguém anotou impedimento.
O que se assinala na sua curta trajetória é a mercantilização do futebol cruzando as fronteiras do gramado.
Primeiro foram os técnicos, que se fizeram grifes praticamente.
Depois, ex-jogadores tomaram conta do jornalismo esportivo, desbancando a crítica em favor do prestígio.
Por fim, a onda recente são os técnicos ex-jogadores, alguns deles absolutamente inexperientes no métier, como o alemão Klinsmann e o brasileiro Dunga. Sua presença reafirma a noção do futebol atual como um agregado de celebridades. Está decretada a extinção do coletivo: é o fim dos times.
Quando a mercantilização atinge o árbitro, tornando ele próprio um ingrediente do espetáculo, significa que o futebol está deixando cada vez mais de ser um esporte para tornar-se entretenimento.
Concretamente, isto quer dizer que a lógica do entretenimento comanda o esporte, como no capitalismo a lógica do lucro comanda o trabalho. As decisões que o afetam são cada vez mais tomadas em função da televisão, por exemplo, do que da qualidade do jogo.
Se técnicos, comentaristas e até juízes são escalados em função de uma imagem rentável, que vende e convence, por que não a seleção?
Fábio Luís é jornalista.
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