Correio da Cidadania

Socialismo e Ecologia

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- E aí, Fábio, o que você acha da ameaça ambiental sobre o planeta, os riscos à vida humana que estão crescendo... Você está preocupado?

 

O militante é colocado diante de um novo problema histórico e precisa posicionar-se. Os dois séculos anteriores de resistência anticapitalista não encararam um desafio semelhante: a ecologia é uma questão política que tem apenas uma geração de idade.

 

O socialista sabe que a principal ameaça à vida é o capitalismo como engrenagem predatória, que, em sua busca cega e insaciável de valorização do valor, não tem nenhum limite moral ou ambiental. Qualquer militância ecológica sem um claro componente anticapitalista aparece, aos olhos socialistas, imediatamente esvaziada de sentido.

 

E, no entanto, a questão ecológica mobiliza amplos setores sociais que não estão imbuídos desta crítica. Já se vislumbram os caminhos para um contorno reformista do problema: basta fazer da ecologia um negócio rentável que o capitalismo a respeitará. Melhor dizendo: a integrará como parte do seu ciclo de reprodução social.

 

Ao socialista cabe lutar contra esse tipo de alternativa, apropriando-se da bandeira ecológica buscando dar-lhe um conteúdo claramente anticapitalista.

 

A militância ecológica abre novas possibilidades de diálogo e aliança tática entre aqueles que acreditam que “um outro mundo é possível”. Como se sabe, entre os simpatizantes do Fórum Social Mundial e afins, os identificados com o socialismo são uma minoria, comparados com os que rejeitam “o neoliberalismo”. Muitos são os chamados movimentos antiglobalização; poucos são os chamados movimentos anticapitalistas.

 

A tarefa que se apresenta aos socialistas é dupla: de um lado, ampliar o diálogo com setores sociais críticos ao neoliberalismo, mas não necessariamente ao capitalismo. Em geral, os temas ecológicos tocam a cidadãos e inconformados que têm uma posição social relativamente acomodada: militantes de primeiro-mundo ou classe média na periferia. Daí o caráter moderado de sua crítica, que, no entanto, pode proporcionar uma aliança.

 

Por outro lado, a necessária radicalização da bandeira ecológica só será viável mediante a mobilização das organizações de trabalhadores para esse tema. Nos países periféricos, que possuem em geral maior potencial radical, esta tarefa é tanto mais difícil quanto a precariedade da existência econômica empurrar lutas urgentes à mesa. E, no entanto, não há outro caminho.

 

O risco é acontecer com a bandeira ecológica o mesmo que se passou com a reivindicação democrática.

 

Lembremos que, no começo do século XIX, a palavra “democracia” dava calafrios nas elites, que identificavam na igualdade política, incluindo o sufrágio universal, sua cova natural. Foi preciso um século de lutas e seguidos banhos de sangue para que o voto se tornasse um mecanismo seguro. Isso aconteceu às custas do medo: a classe trabalhadora aprendeu que qualquer mudança radical custaria muito sangue e, instintivamente, passou a pensar muitas vezes antes de apoiar tal passo.

 

No século XX, a democracia aparece incorporada pelas elites, que afirmaram a sua visão liberal de igualdade como o padrão comum.

 

É preciso apropriar-se com urgência da bandeira ecológica, conferindo-lhe um inconfundível colorido anticapitalista, para não se arriscar, nem no discurso, nem na prática, ao divórcio com o comunismo, como ocorreu com a luta democrática que a precedeu.

 

 

Fábio Luís é jornalista.

 

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