Correio da Cidadania

Venceremos

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Toda despedida é um novo começo.

 

Há sempre despedidas na vida e talvez a maior delas seja a morte. Que há de ser também novo começo, para quem vai e para alguém que fica.

 

Dizem que poder esperá-la com serenidade é uma bênção. Uma bênção conquistada em vida.

 

Neste sentido, a perspectiva histórica adquirida por uma vida militante é uma das melhores garantias de uma velhice satisfeita. Não pela comezinha sensação do “dever cumprido”. Mas porque o militante atrela suas maiores esperanças de realização ao destino da própria humanidade. Seu coração dilata-se.

 

Sua fé transcende em muito os resultados alcançados na própria vida. Encontra a salvação na humanidade e sua fé, na história.

 

Revoluções são processos longos no tempo, como o plantar de uma árvore nobre. O trabalho do semeador é tão necessário como o de quem colhe. O sentimento de solidariedade que transcende as gerações e hermana sem ciúmes. Venceremos!

 

Toda despedida é também um ato de humildade. Contentar-se com o que alcançou não exclui a auto-crítica, mas a acolhe fraternalmente. Somos nosso próprio pai e nossa própria mãe.

 

Mas além disso, há o tempo de saber parar: o desejo da imortalidade aparece referido à uma medida humana – a ambição, remetida a um poder divino – a onipotência. Saber parar não é uma virtude só no jogo. Nem é confissão de impotência. É uma profunda aceitação do humano.

 

O homem moderno é uma contradição: dividido entre o desejo de paz e a sede de conhecer, se movimenta incessantemente, acreditando buscar o lugar de onde não precisa mais se mover.

 

Não se pode ser ao mesmo tempo aquilo que se é e aquilo que se deseja ser, diz uma ópera italiana. E, no entanto, a satisfação parece construída por contraste: ando devagar porque já tive pressa.

 

Muito disso tem a ver com a dinâmica da vida, que se move. E onde a experiência é decisiva e intransferível – para os indivíduos como para as classes.

 

A tradição hindu, por exemplo, divide a encarnação humana em 4 períodos, cada um de 25 anos ideais. Em uma palavra, o primeiro tempo é dedicado à formação; o segundo à construção, na família e no mundo; o terceiro, a transmitir conhecimento às gerações futuras. O quarto período chama-se “o homem na floresta”: deixaria-se tudo para mergulhar na solidão. Viver na relação com o divino a passagem da vida e o mistério da existência.

 

O homem contemporâneo é mais misturado do que isso, mas o espírito da coisa é bíblico: há um tempo para cada coisa. A sabedoria está, na política como na vida pessoal, em saber discernir o justo tempo.

 

Me despeço de mais de 8 anos de coluna, profundamente agradecido às pessoas com quem convivi através do jornal.

 

E ao homem Plínio de Arruda Sampaio, exemplo vivo de integridade, coragem e sabedoria. É inspirado pelos detrás que extraímos nossa fé no futuro. Pessoas assim nos ensinam a acreditar no homem e na história. Venceremos.

 

 

Fábio Luís é jornalista.

 

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