Declaração de não-voto (2)
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- Henrique Júdice
- 15/10/2014
O Brasil teve um grande presidente que deixou um grande legado: Getúlio Vargas. E outro com um belo projeto de soberania nacional e reformas sociais, infelizmente interrompido à força: João Goulart.
Três capazes de algumas medidas de afirmação nacional, não menos importantes por pontuais que tenham sido, e que, embora autoritários, ao menos não eram estafetas dos fatores de poder cujo domínio sobre o país nunca tentaram pôr em causa: Floriano Peixoto, Ernesto Geisel e Artur Bernardes.
Dois equilibristas de talento que, sem jamais se comprometer com nada profundo, foram capazes de fazer com que uma parte muito grande do povo brasileiro recorde seus anos de governo como anos felizes: Juscelino Kubitschek e Luís Inácio Lula da Silva.
Os demais, nulidades. Medíocres, prosaicos, ineptos. Incapazes de qualquer amplitude de visão ou ato de grandeza. Absolutamente nefastos.
Dilma Rousseff e Aécio Neves já se cansaram de provar que fazem parte dessa última categoria.
Uma personifica a falência política, moral e intelectual do PT. Representa uma parcela de sua geração que se esconde atrás de um passado de militância para agarrar-se a prebendas várias e reeditar a tragédia contra a qual se bateu de armas na mão na década de 70: massacres de índios, camponeses, quilombolas e ribeirinhos para destinar suas terras à produção mecanizada, monopolizada e financeirizada de soja, sem a qual a balança de pagamentos não fecha; ou para proporcionar a quatro empreiteiras amigas bilhões do BNDES a troco de obras de duvidosa utilidade. Mas essa tragédia é reeditada como farsa, pois, se nos tempos de Delfim, esses crimes se cometiam para sustentar um robusto crescimento baseado na indústria, hoje, sob o comando de sua querida amiga, o país se encontra em recessão e se desindustrializa.
O outro é a mais nova manifestação da incapacidade da direita brasileira de gerar qualquer expressão moderna, democrática e civilizada. Num país com carências econômicas, sociais e culturais gigantescas e um vácuo político do tamanho da Via Láctea, sua grande proposta é nomear Armínio Fraga ministro da Fazenda. Quando consegue ir além do mero retorno ao governo FHC, descamba para o trogloditismo ao propor o encarceramento de adolescentes como solução para a anomia social que tomou conta do Brasil.
Podem não ser, e não são, rigorosamente iguais. Mas as diferenças entre ambos são insuficientes para fazer da escolha entre um e outro um dever cívico, sequer uma necessidade estratégica ou mesmo tática, como, por exemplo, era, ou me pareceu ser, a opção entre Lula e Alckmin, em 2006.
É, aliás, incompreensível, a condescendência que organizações e personalidades duramente críticas de Lula demonstram para com a senhora Rousseff, que fez um governo pior e à direita de seu antecessor em todo e qualquer aspecto. Penso, particularmente, no PSoL.
Em 2006, sua candidata, Heloísa Helena, tratava Lula e o PT como os introdutores da corrupção no Brasil, não se pejando sequer em participar, como coadjuvante de Alckmin, da encenação que foi aquele debate na Rede Globo com uma cadeira vazia (1). Em 2010, parecia ter encontrado o fio e o prumo com a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, que soube se colocar como firme e abalizado crítico pela esquerda de Lula e sua candidata. Em 2014, com Luciana Genro, sua candidatura presidencial funcionou como apêndice do PT: em meio a assassinatos de índios, despejos em massa na Amazônia e nas favelas cariocas, prisões arbitrárias de militantes de esquerda e uso de programas federais de proteção a pessoas ameaçadas de morte como instrumento para tirar do caminho lideranças populares incômodas (2), sua candidata, Luciana Genro, resolveu questionar a profundidade do compromisso com os direitos humanos de... Marina Silva, seu alvo preferencial durante toda a campanha (3).
E que não se venha, por favor, com a litania de que o PSDB liquidará o que houve de positivo nos governos petistas. Se as eventuais conquistas populares destes 12 anos (ou melhor, dos 8 de Lula, pois o atual governo não resiste a uma avaliação baseada em dados desagregados) não resistem a 4 de Aécio (4), é porque não valem nada. Se valem algo, resistirão, ainda que com algum eventual sobressalto. A defesa do que merece ser defendido não passa pelo voto em Dilma Rousseff.
Notas:
(1) - Isto, desde logo, não justifica, nem de longe, a vilania do PT ao apoiar a candidatura de Fernando Collor ao Senado contra Heloísa este ano.
(3) - Atitude distinta – e não apenas politicamente lúcida como sobretudo corajosa – teve o candidato do partido ao governo do Rio, Tarcísio Motta, que, ante a oportunidade de estar cara a cara com o atual governador Luiz Fernando Pezão e dirigir-lhe uma pergunta, questionou-o indagando: “Cadê o Amarildo?”.
(4) Há quem diga que não resiste a um e ainda veja isso como motivo para reeleger a sra. Rousseff: http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/padrao-brasil/eleicoes-e-questao-social-o-futuro-do-brasil-na-encruzilhada-465.html
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Henrique Júdice Magalhães é jornalista, ex-servidor do INSS e pesquisador independente em Seguridade Social. Porto Alegre (RS).
Comentários
Collage con palabras del "jornalista" autor de este libelo, que no resiste más que una lectura y después,al basurero.
Por isso o alvo deixou de ser de caráter pessoal: agora a tentativa é de derrubar as conquistas conseguidas. Até porque Dilma peante Lula é fichinha. Pense nisso.
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