Sobre Marta, Alckmin e Kassab
- Detalhes
- Luiz Antonio Magalhães
- 10/12/2007
A notícia do final de semana foi a série de
pesquisas do instituto Datafolha sobre o cenário eleitoral para as eleições
municipais nas capitais de Estado mais relevantes do país. A disputa que
de fato importa e que terá conseqüências diretas para as eleições de 2010 está em São Paulo. Segundo
o Datafolha, o ex-governador tucano Geraldo Alckmin caiu 4 pontos e agora
empata tecnicamente com a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), que se
manteve estável na faixa dos 25% nas simulações em que seu nome foi testado. O
prefeito Gilberto Kassab (DEM) subiu 3 pontos e está em um patamar bem abaixo
de seus possíveis adversários, com 13%.
Não é tarefa fácil analisar a pesquisa porque este cenário é hoje o mais
improvável: a ex-prefeita Marta Suplicy tem dito que não quer deixar o
ministério, preferindo se guardar para 2010, quando poderia se candidatar ao
governo de São Paulo ou mesmo a presidência da República. O ex-governador
Geraldo Alckmin também não confirmou ainda se é candidato. Também chama atenção
que a Folha tenha realizado simulações, no cenário sem Marta, apenas com
Arlindo Chinaglia pelo PT, quando ele nem sequer confirmou a pré-candidatura,
ao passo que José Eduardo Cardozo e Jilmar Tatto já se colocaram à disposição
do partido para a disputa.
De toda maneira, é possível fazer algumas observações a partir do que os
números do Datafolha. Vamos a elas:
1. No cenário sem Marta e com Alckmin, Kassab cai para terceiro lugar,
ficando atrás até da ex-prefeita Luiza Erundina (PSB). É talvez o melhor quadro
para o ex-governador, que derrotaria o prefeito com facilidade, com chances até
de levar a disputa já no primeiro turno (Alckmin aparece com 30% e os tais 16%
de Erundina tendem a diminuir à medida que a campanha se desenrole, tal qual
ocorreu em 2004, em função do pequeno tempo na televisão a que os socialistas
têm direito).
2. Se Alckmin não disputar, Kassab herda apenas parte da votação do
ex-governador. Neste cenário, com Marta na disputa, crescem as chances do
PT recuperar a prefeitura no ano que vem. É o que de mais tentador há para a
ex-prefeita: ela partiria de 28%, um percentual confortável para passar para o
segundo turno, e tenderia a capturar a maior parte dos votos dos candidatos de
esquerda na disputa (Erundina, 11%; Soninha, 2% e Aldo, 2%). Em tese, chegaria
fácil no patamar dos 40%, restando a Kassab a dura tarefa de conseguir todos os
votos de Paulo Maluf (PP, 15%) para chegar perto da ex-prefeita. Hoje, parte
dos malufistas já não tem a ojeriza de tempos atrás pelo PT e podem
perfeitamente optar por Marta, especialmente se Maluf explicitar este apoio no
segundo-turno, como já fez no passado.
3. Sem Marta e Alckmin, a disputa vira uma grande incógnita. O prefeito
certamente larga na frente em função da máquina municipal (e estadual, neste
caso) a apoiar sua candidatura. Estranhamente, o Datafolha não pesquisou este
cenário – seria interessante saber se Erundina permaneceria à frente de Kassab
ou se ele tomaria a dianteira.
A partir do que foi dito acima, algumas conclusões se impõem: se quiser
continuar com cacife político, Geraldo Alckmin terá que se candidatar a
prefeito no ano que vem. A taxa de intenção de votos no tucano está caindo,
obviamente em função de sua menor exposição na mídia, o que é natural para um
político sem cargo público e que no momento não é candidato a nada. E se
desejar ser candidato, o PSDB não vai poder negar a legenda ao líder das
pesquisas. Não há argumento conhecido que faça um partido ter o favorito para a
disputa e abrir mão da candidatura em favor de um candidato que chega a
aparecer em terceiro lugar... Ademais, Alckmin não tem muito a perder. Se
acabar derrotado por Marta, cenário hoje improvável nas simulações de segundo
turno, terá solidificado a imagem de anti-petista. E em uma disputa com Kassab,
parece não haver chances de Alckmin acabar atrás do atual prefeito. Resumindo,
ou Alckmin sai candidato no ano que vem ou corre o risco de se tornar um Luiz
Antonio Fleury Filho, ex-governador que hoje tem sérias dificuldades em se eleger
deputado federal.
Já para a ministra Marta Suplicy o cenário é bem diferente. Se ela
entrar na disputa e sair derrotada, terá perdido a eleição e o ministério.
Ademais, as simulações de segundo turno são muito negativas para ela e a sua
taxa de rejeição, muito alta. Entrar na disputa com Alckmin seria uma grande
bobagem, tamanhos os riscos de derrota. No cenário sem o ex-governador, a
ministra tem mais chances, mas não se pode desprezar que neste caso Kassab
viria com bala municipal e estadual, muita máquina e muito dinheiro.
Do prefeito Gilberto Kassab, porém, não se espera outra coisa senão a
candidatura à reeleição. Só um néscio não sairia candidato em um quadro desses.
Afinal, até ontem Kassab era um desconhecido, ninguém sabia quem ele era.
Ganhou a prefeitura de presente e conseguiu alçar seu nome no panteão dos
grandes da política paulista com o Cidade Limpa, idéia simples, barata e que
"pegou" entre os munícipes. Com a eleição, Kassab, ainda que
derrotado, galga mais um degrau na escala dos políticos relevantes no Estado e
se cacifa, por exemplo, a ser o nome do DEM para o Senado em 2010, atropelando
o secretário estadual do Trabalho, Guilherme Afif Domingos. Vencendo, poderá
até disputar o governo de São Paulo, aí sim, em condições de impor a candidatura
ao PSDB, quem sabe oferecendo a vaga de vice a Geraldo Alckmin.
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