2007: economia sustenta o governo Lula
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- Luiz Antonio Magalhães
- 27/12/2007
O ano de 2007 foi extremamente positivo para o Brasil, se o olhar do analista se dirigir à economia nacional. O resultado final do crescimento do Produto Interno Bruto do país ainda não saiu, mas as estimativas mais pessimistas já são de algo em torno de 5% em relação a 2006, podendo ser até maior. A taxa de juros básica (Selic) ainda é muito alta, mas é a menor em 30 anos, em termos reais, e a mais baixa da história, em termos nominais. O desemprego nacional atingiu em novembro a menor taxa desde que o índice começou a ser medido pelo IBGE e deve fechar o ano na casa dos 7% da população economicamente ativa. As vendas de Natal refletiram tudo isto e o comércio varejista projeta um crescimento recorde, de cerca de 10% em relação ao ano anterior, o que faz deste o melhor Natal dos últimos 10 anos.
Como esta coluna tem reiterado, é a economia que sustenta a altíssima popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também fechou o ano com aprovação recorde, em um patamar superior aos 60%, fazendo com que ele mantenha o capital político que conquistou na reeleição, em 2006, quando bateu Geraldo Alckmin (PSDB) nas urnas por exatos 60,83% dos votos válidos contra 39,17% do tucano.
Falando em taxas, a coisa parece um pouco abstrata. Ademais, o Brasil já cresceu bem mais em outros períodos sem que isto se revertesse em benefícios para a população mais pobre e carente. Não é o que parece estar acontecendo agora. Em números reais, o fato é que, desde a posse de Lula em 2003, 20 milhões de brasileiros migraram das classes D e E da população para a C. É muita gente. Continuam pobres, mas já não são miseráveis. O aumento do crédito tem deixado muitos brasileiros cheios de dívidas, mas tem permitido aos mais pobres acesso a bens de consumo que eles teriam de outra forma, permitindo assim um salto no nível de vida dessas pessoas. Nunca se vendeu tanto eletrodoméstico, computador e até mesmo automóvel no país como em 2007, e este movimento se deveu em boa parte à política de estímulo ao crédito do governo federal.
Há dois tipos de crítica que se pode fazer à política econômica de Lula. Os tucanos, de um lado, dizem que o país está perdendo uma “janela de oportunidades” porque o Brasil poderia crescer muito mais se aplicasse a ferro e fogo o receituário neoliberal e a “boa gerência” - que para o PSDB se traduz em privatizações, corte de gastos sociais, diminuição do tamanho do Estado e uma gerência mais rígida das contas públicas. Os tucanos também adoram dizer que o governo Lula vai bem não por seus próprios méritos, mas porque a economia mundial vive um momento excepcional. Este argumento, porém, ficou bastante esquisito após a crise financeira que abalou o centro do capitalismo mundial em agosto, a partir das hipotecas de alto risco, as tais subprimes. Ao contrário do que previam as cassandras de plantão, o Brasil desta vez não foi nem de perto afetado pelo mau humor dos mercados financeiros internacionais, pelo contrário. O cenário da crise das hipotecas ainda não está totalmente claro e é possível, como veremos no próximo artigo, que os problemas se agravem no próximo ano, mas o fato é que até agora Lula e sua turma mostram bom senso frente à primeira crise internacional que enfrentaram, para grande desgosto dos seus adversários democratas e tucanos.
Por outro lado, a crítica da esquerda radical ao governo federal parte do pressuposto diametralmente oposto ao dos tucanos e democratas. Para o pessoal do PSOL, PSTU e mesmo uma parcela do PT, Lula peca por manter o modelo herdado de Fernando Henrique, o que é parcialmente verdadeiro, mas não totalmente. O grande problema desses críticos é que não apresentam alternativas ao que vem fazendo o atual governo. Até pouco tempo, por exemplo, a grande bandeira da ultra-esquerda era o “rompimento” com o FMI e a auditoria na dívida externa. Ora, o governo Lula pagou o que devia ao Fundo (e também ao Clube de Paris) e “rompeu”, sem nenhum problema, os laços com o FMI. Quanto à dívida externa, vale lembrar que hoje ela é praticamente toda do setor privado e não mais do governo. Problema mesmo é a dívida interna, sobre a qual não se ouve palavra dos críticos à esquerda.
Na política, 2007 não apresentou grandes novidades. O governo ampliou sua base no Congresso, mas se trata de uma maioria instável, como ficou provado na única votação que de fato importava, a da prorrogação da CPMF. É bem verdade que o governo não se esforçou muito, porque a perda do imposto do cheque deve ser facilmente compensada pelo aumento de outros impostos e cortes pontuais no Orçamento dos próximos anos. Aparentemente, a aposta de Lula é o PAC, ou melhor, os vários PACs, que significam obras públicas a rodo, com foco na infra-estrutura, a fim de permitir o crescimento econômico do país. Se o cenário internacional não mudar, o presidente deve continuar com popularidade alta e alguma chance de fazer o seu sucessor. A solução continuísta do terceiro mandato parece no momento estar afastada, especialmente depois do plebiscito venezuelano, mas poderá até voltar à tona se nenhum nome do PT se firmar com chances de vencer em 2010.
No campo da oposição, a única novidade de destaque em 2007 foi a atuação firme do DEM, que capitaneou o movimento contra a CPMF em meio aos titubeios do aliado PSDB. Ao lado do PSOL, à esquerda, o DEM vai se firmando como partido de oposição, após perder muitos parlamentares para a base aliada. O problema do partido é a falta de uma liderança popular para disputar com viabilidade uma eleição presidencial. No PSOL, que ainda vive uma etapa de crescimento, a questão é a demasiada dependência do partido da liderança de Heloísa Helena, que tem se posicionado de forma bastante autoritária no âmbito do próprio partido.
Na próxima semana, vamos analisar aqui as perspectivas para 2008, ano de eleições aqui e nos Estados Unidos.
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com
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