Correio da Cidadania

A grande chance de Marta Suplicy

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A ex-ministra do turismo Marta Suplicy (PT) já está trabalhando ativamente na sua candidatura à prefeitura de São Paulo. Tecnicamente empatada com o tucano Geraldo Alckmin na liderança das pesquisas de intenção de voto, Marta voltou para a cidade que governou por quatro anos, entre 2000 e 2004, decidida a desfazer alguns equívocos de sua primeira administração e valorizar os grandes acertos para vencer uma eleição que se anuncia difícil e complicada, especialmente em função da alta rejeição que Marta ainda carrega.

 

Em uma estratégia arrojada, já nas primeiras entrevistas que concedeu após deixar o ministério Marta Suplicy foi logo avisando que não repetirá a bobagem de criar novos impostos, como as taxas do lixo e de luz, que lhe renderam o apelido de "Martaxa". No fundo, a candidata tentou antecipar e dar uma resposta contundente para um tema que certamente será explorado durante a campanha, ainda mais se o governo federal não conseguir aprovar rapidamente a Contribuição Social para a Saúde e este imposto permanecer

"pendurado" para a apreciação dos senadores até as eleições.

 

Geraldo Alckmin já percebeu que esta é uma chance de ouro para, com o perdão do trocadilho, taxar Marta e o PT de "grandes criadores de impostos". Embora o aumento da carga tributária do país tenha sido muito maior durante o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (28% para 35% do PIB) do que no do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (35% para 37% do PIB), para o povão o que vale mesmo é a memória recente. Desta forma, ciente de que a questão dos impostos pode se tornar uma espécie de calcanhar de Aquiles da candidatura, Marta tratou de trazer o assunto à tona agora, na esperança de já esclarecer o público e fugir deste debate quando a eleição se aproximar.

 

Pelo que vem falando nos últimos dias, a ex-prefeita vai tentar jogar o foco da sua campanha na questão do trânsito infernal da capital paulista. A aposta não é fortuita, Alckmin também já deu algumas pistas de que vai tratar deste mesmo assunto em sua plataforma eleitoral. É evidente que os dois já mandaram realizar pesquisas qualitativas para saber o que vai pela cabeça dos paulistanos e o trânsito tem aparecido nas enquetes como problema número um a ser enfrentado pelo próximo prefeito.

 

Marta tem o que dizer a respeito de melhorar o trânsito, pois fez em sua gestão uma aposta bastante forte no transporte coletivo, com a criação de corredores de ônibus e do Bilhete Único. De forma um tanto atabalhoada, também realizou melhorias para os motoristas que utilizam algumas das vias mais congestionadas da cidade, com os túneis sob a avenida Faria Lima ou a ponte estaiada, projetada durante sua gestão e que acabou virando uma marca do prefeito Gilberto Kassab (DEM), que a inaugurou.

 

Nem tudo, porém, são flores para Marta Suplicy. A rejeição alta e a já célebre e infeliz frase do "relaxa e goza" durante a crise aérea serão certamente exploradas por seus adversários. Será preciso uma especial atenção dos marqueteiros da campanha para diminuir a imagem de arrogância que a ex-prefeita às vezes passa para o público.

 

A grande vantagem da ex-prefeita na disputa deste ano está muito mais no cenário que se desenha no campo adversário do que propriamente nos méritos de sua própria plataforma eleitoral, embora os CEUs, o Bilhete Único e o apoio do presidente Lula constituam alguns trunfos com os quais ela poderá contar. Neste sábado o PSDB deverá confirmar a candidatura de Geraldo Alckmin, para desgosto do governador José Serra, que preferia ver seu partido apoiando o prefeito Kassab. Alguns analistas minimizam o racha tucano e acreditam que no segundo turno Alckmin e Kassab estarão juntos contra a ex-prefeita, o que garantiria uma vitória tranqüila ou do tucano ou do democrata. Não é bem assim. A julgar pelo que se ouve nos bastidores, especialmente do PSDB, se Geraldo Alckmin conseguir ser o adversário de Marta no escrutínio final, os serristas vão preferir a eleição da petista, até para evitar que o ex-governador se torne decisivo na disputa interna de 2010, apoiando, por exemplo, o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, ou mesmo lançando seu nome para disputar a sucessão do presidente Lula.

 

De fato, a disputa interna no PSDB tem se intensificado nos últimos dias e os partidários da aliança com Kassab já falam em levar para a convenção do dia 22 o nome do prefeito como cabeça de chapa, desafiando a liderança de Alckmin. É provável que o ex-governador consiga, ainda assim, a indicação para disputar o pleito de outubro, mas a demonstração pública de que o partido está rachado será no mínimo incômoda para ele, que terá de perder um bom tempo explicando a questão. Ademais, os tucanos com cargos de primeiro e segundo escalão no governo Kassab devem permanecer em seus postos, o que cria um constrangimento grande para Alckmin. Afinal, como criticar a gestão de seus correligionários? Que discurso poderá o ex-governador adotar para se diferenciar do prefeito? Se está bom, por que mudar?

 

Em menor grau, Kassab também sofrerá com a candidatura de Alckmin. Em terceiro lugar nas pesquisas e com Paulo Maluf em seu encalço, logo atrás, o prefeito precisará, sim, bater mais em Geraldo Alckmin do que em Marta se quiser a vaga para disputar com ela o segundo turno. O raciocínio aqui é puramente lógico: no campo do eleitorado de esquerda, Kassab dificilmente conseguirá tirar votos, portanto terá de buscá-los no centro e à direita. Espremido entre Alckmin e Maluf, o prefeito precisa no mínimo dar algumas cotoveladas em um e outro, do contrário, sua candidatura corre o risco de simplesmente se esfarelar ao lado de dois nomes bastante competitivos e já testados nas urnas. A idéia de uma campanha propositiva é boa para quem está na frente; quando se está atrás o jogo complica, é preciso desenvolver argumentos para que o eleitor se convença de que os outros representantes do campo conservador não merecem seus votos.

 

Pois, como Kassab vai conseguir fazer a crítica mais dura a Alckmin, candidato do partido de seu padrinho Serra e supostamente apoiado pelo governador? Até agora, Kassab tem dito que a candidatura de Geraldo Alckmin é "personalista", um argumento fraco, até porque, se Alckmin serviu para ser governador do estado e candidato a presidente, por que então ele não poderia pleitear a prefeitura da capital? Ora, Kassab precisará usar munição mais pesada, como a incompetência tucana na gestão do Metrô, o Caso Alstom e outros pontos frágeis do governo Alckmin. Aí começam os problemas de Kassab, pois muita gente envolvida nesses episódios continua trabalhando com Serra e alguns até têm cargos na prefeitura. Portanto, também não será fácil para Kassab criticar seu principal adversário na corrida por uma vaga no segundo turno. E se ele decidir subir o tom das críticas, não será fácil, caso seja bem sucedido, garantir o apoio do ex-governador para a disputa do segundo turno.

 

Como se pode ver, os astros parecem estar conspirando para que Marta Suplicy volte à prefeitura. Não será uma corrida fácil e o segundo turno permanece como o grande desafio da candidata do PT, mas é difícil imaginar um cenário mais favorável para ela do que o atual, de intensa divisão no campo adversário.

 

Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa.

Blog do autor: http://www.blogentrelinhas.blogspot.com/

 

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