E se Alckmin vencer?
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- Luiz Antonio Magalhães
- 23/06/2008
O governador de São Paulo, José Serra, conseguiu abafar uma profunda crise em seu partido ao negociar a retirada da chapa que pregava a aliança do PSDB com o DEM em torno da reeleição do prefeito Gilberto Kassab. É evidente, porém, que a aclamação de Geraldo Alckmin como candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB não resolve todos os problemas da agremiação. O processo de escolha do candidato tucano na capital paulista já foi por si só um desastre para o PSDB e revelou que o racha no partido é muito mais grave do que seus líderes admitem. A notícia de que o secretário municipal Walter Feldman, defensor da aliança com Kassab, só se arriscou a comparecer na convenção de domingo acompanhado de quatro guarda-costas (sim, quatro, não um ou dois, mas quatro) é emblemática do momento que vive o PSDB.
Nos bastidores tucanos corre a versão de que Serra só interveio no processo porque percebeu que poderia ser responsabilizado por uma eventual derrota de Geraldo Alckmin na convenção e ficar com a fama de mentor da "degola" da candidatura própria. Certamente, este foi um fator que Serra pesou na balança, como também foi considerada a questão da candidatura presidencial de 2010 - Alckmin supostamente apoiou o nome do governador paulista para a sucessão de Lula. Quem convive com Serra acredita, porém, que o que de fato pesou na hora da decisão final sobre o que fazer com a candidatura de Geraldo Alckmin foi a crença do governador na vitória de Gilberto Kassab em outubro. Serra acha que o prefeito disputará o segundo turno com Marta Suplicy e vencerá a ex-prefeita com boa margem de votos.
O governador paulista pode ser muita coisa, mas bobo, não é. É difícil acreditar que ele possa ter tomado a difícil decisão de não permitir o enfrentamento da ala "kassabista" do PSDB com os "alckministas" com base em "wishfull thinking" sobre a vitória de Kassab nas urnas. Se Serra acha que o prefeito vai se dar bem nesta campanha, é porque os dados disponíveis para análise do cenário são favoráveis a Gilberto Kassab. De fato, o prefeito democrata já tem mais tempo de propaganda no rádio e televisão do que seus adversários; certamente deve conseguir mais recursos, ao menos do que Alckmin; e tem um discurso coerente para apresentar, qual seja, o da continuidade da atual gestão. O ex-governador e agora candidato do PSDB à prefeitura paulistana, ao contrário, terá muita dificuldade em levantar dinheiro junto a fornecedores do estado ou do município e vai precisar caprichar bastante para explicar ao distinto público por que poderia ser um prefeito melhor do que o atual, cuja gestão é apoiada pelo seu próprio partido.
É verdade que na política, como no futebol, em geral vence o time mais organizado taticamente e com os melhores jogadores. Serra avaliou que neste momento Kassab e a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) têm os melhores times para a disputa de outubro. Da mesma maneira que ocorre no futebol, porém, pode dar zebra. E Alckmin tem todo o jeitão de ser a zebra da vez, pois, apesar das desavenças internas em seu partido e da eventual falta de recursos para a campanha, parte de um enorme recall da eleição presidencial de 2006, em que firmou uma forte imagem "anti-petista". Ademais, Alckmin tem o dom de falar, falar, falar e nada dizer, o que pode ser bastante útil em uma eleição em que ele no fundo não pode criticar o atual governo e deve se limitar a dizer que vai "fazer melhor" o que Kassab está fazendo.
Assim, com o time meio perneta, sem apoio integral nem em seu próprio partido e provavelmente sofrendo toda sorte de sabotagens internas na campanha, não é impossível imaginar que Geraldo Alckmin consiga uma empatia com o eleitorado e a vaga para o segundo turno. Evidentemente, hoje é muito difícil supor que Marta Suplicy possa ficar de fora, já que uma faixa do eleitorado tradicionalmente vota no candidato de esquerda com mais chances de vencer, o que reduz muito as chances de uma disputa entre Kassab e Alckmin no segundo turno, ainda mais com Paulo Maluf (PP) correndo por fora e também disputando os votos na faixa da direita.
Se, portanto, Alckmin passar para o segundo turno, Serra terá que fazer uma segunda avaliação da conjuntura política. Ou apóia o correligionário para valer, colocando o seu peso político (e econômico) a serviço da candidatura de Geraldo Alckmin, ou terá um inimigo no Palácio do Anhangabaú, caso o PSDB bata Marta Suplicy nas urnas.
Parece simples, mas é um pouco mais complicado, porque, ainda que Serra trabalhe de verdade por Alckmin, também não é certo que, uma vez eleito, o ex-governador tenha muita boa vontade em apoiar a postulação de Serra para concorrer em 2010 à presidência do Brasil. Primeiro, porque a prefeitura será um excelente palanque para uma candidatura presidencial do próprio Alckmin, que poderá ver em 2010 uma boa janela de oportunidade para chegar ao Planalto (uma vez que Lula não concorrerá); e em segundo lugar, porque quem sempre apoiou as pretensões de Alckmin no processo pré-eleitoral deste ano foi o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Se a primeira hipótese hoje parece distante e pouco provável, sobre a segunda não há muita dúvida: afinal, como diz a música, por que Alckmin pagaria com traição a quem sempre lhe deu a mão?
Como se pode ver, a eleição municipal deste ano em São Paulo é fundamental para a definição do cenário eleitoral de 2010. José Serra tanto pode praticamente selar a sua candidatura pelo PSDB, ironicamente com uma vitória do democrata Kassab, ou ficar muito mais longe dela, se o tucano Geraldo Alckmin se tornar prefeito de São Paulo. Confuso? Bastante, mas assim é a política brasileira...
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa.
Blog do autor: http://www.blogentrelinhas.blogspot.com/
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