Correio da Cidadania

O pior já passou ou vem por aí?

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A semana que passou foi das mais agitadas nos mercados de capitais do mundo inteiro. Mais uma leva de más notícias, desta vez com origem na União Européia, derrubou as bolsas de valores. A de São Paulo caiu quase 7%, aos 51 mil pontos, índice que levou o Ibovespa para o patamar do final do ano passado.

 

Não é fácil acompanhar a tal crise financeira internacional, iniciada em agosto de 2007 a partir dos problemas no mercado habitacional dos Estados Unidos. Vários bancos americanos e europeus já quebraram e outros apresentaram prejuízos bilionários. A leitura dos analistas econômicos não ajuda muito, pois eles se dividem basicamente em duas correntes: a dos que acha que o pior ainda está por vir e a dos que acredita que a situação já começou a melhorar e que os "espirros" no mercado financeiro são os últimos lances da crise.

 

A verdade é que os economistas de ambas as correntes não têm muito como fazer previsões acuradas sobre o futuro. As principais informações necessárias para tal análise - o volume de perdas que os bancos e financeiras em geral ainda devem apresentar - não estão disponíveis para ninguém, são segredos dos dirigentes de cada instituição afetada pela crise.

 

Até agora, como se sabe, o Brasil escapou praticamente incólume do terremoto que abalou as estruturas do sistema financeiro mundial. Se prevalecer o cenário de "fim de crise", os brasileiros terão muito a comemorar, pois dificilmente haverá tempo para que o país seja atingido de forma mais contundente. Neste caso, as conseqüências políticas são óbvias: cresce muito a chance de o presidente Lula fazer o seu sucessor em 2010. Se, no entanto, os problemas se agravarem na Europa e Estados Unidos, inevitavelmente a crise vai chegar aqui. Com que alcance e magnitude, só Deus sabe. Quem diz que sabe, na verdade, está chutando. Não há como saber.

 

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), seria um óbvio beneficiado pelo agravamento da crise externa, pois se apresenta ao público como um líder experiente, que saberia como lidar com um período de turbulência na economia.

 

Na semana passada, Serra fez várias críticas à política econômica e esboçou algumas idéias sobre o que faria se estivesse lá, governando o Brasil. A principal dessas idéias é a tese de que é preciso diminuir o gasto público e criar uma "Lei de Responsabilidade Fiscal" para a União. Serra conta com a ignorância do povaréu quando fala coisas assim. Infelizmente para ele, a população é menos idiota do que ele julga ser. Cortar gasto público significa, na cabeça de um tucano, cortar o Bolsa Família, suspender obras públicas, limitar o aumento do salário mínimo nos próximos anos, enxugar a máquina estatal (ou seja, demitir servidores). Este é o coração da proposta do pré-candidato do PSDB à sucessão de Lula. Se o PT for minimamente competente, conseguirá mostrar na campanha o significado do economês rebuscado de José Serra. Neste caso, as chances do governador paulista conseguir fazer a sua obsessão - ser presidente do Brasil - virar realidade serão severamente reduzidas.

 

De toda maneira, a verdade é que, se hoje o cenário se mostra muito favorável ao PT e a Lula, só no final de 2009 é que será possível perceber o alcance da crise financeira internacional e as conseqüências políticas aqui no Brasil. Até lá, o presidente continua surfando na sua popularidade monstruosa, especialmente no Nordeste. Na semana passada, em um evento no Rio, um homem pediu a Lula "que salvasse o Vasco da Gama". Alguém achou que era brincadeira, mas o rapaz falava sério. O povão já está começando a achar que, se algo vai muito mal, o melhor a fazer é chamar o Lula. Enquanto isso, Serra fala em corte de gastos públicos. Como se vê, o Brasil é um país engraçado.

 

Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa.

 

Blog do autor: http://www.blogentrelinhas.blogspot.com/

 

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