Balanço das urnas: PMDB é o grande vencedor em 2008
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- Luiz Antonio Magalhães
- 28/10/2008
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) lembrou os velhos tempos e fez bonito nas eleições deste ano. Neste domingo, elegeu 8 prefeitos nas 30 cidades que estavam em disputa, sendo 4 deles em capitais importantes - Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre e Florianópolis. Empatou com o PT e vai governar 6 capitais. No primeiro turno, já havia vencido a eleição em 1195 municípios, assumindo a liderança isolada no ranking dos partidos. Nenhum outro conseguiu chegar a mil eleitos. A performance é ainda mais significativa quando se considera que em São Paulo, onde o DEM venceu com Gilberto Kassab, o PMDB indicou Alda Marco Antonio para vice, com grandes chances de assumir o cargo em 2010 se Kassab disputar o governo do estado, o que a esta altura do campeonato não deve ser considerado nem de longe improvável
O PT foi bem no segundo turno, venceu em 8 cidades, mas a derrota nas capitais manchou a performance do partido, que cresceu cerca de 40% neste ano se comparado com o desempenho de 2004, considerando o total de prefeitos eleitos. Além das 8 vitórias, o PT divide com PSB e PSDB os louros da eleição do socialista Márcio Lacerda em Belo Horizonte - na capital mineira o vice-prefeito inclusive é do partido de Lula. Em outras cidades, como Campina Grande, onde o PMDB saiu vitorioso, o PT estava na coligação. No Rio, o PT apoiava Paes contra Gabeira no segundo turno e também acabou colaborando na vitória do peemedebista
O PSDB teve uma performance muito discreta no segundo turno. Venceu em quatro cidades, duas delas capitais de Estado (Cuiabá e São Luis). Vai governar apenas quatro capitais (já havia conquistado Teresina e Curitiba no primeiro turno), o que é muito pouco para o partido que governou o Brasil nos oito anos que antecederam os mandatos do presidente Lula, ainda mais considerando a relevância dessas capitais - só Curitiba de fato tem peso político, e mesmo assim, limitado
O DEM levou apenas uma cidade, São Paulo. Esta é, no entanto, a mais cobiçada de todas. A reeleição de Gilberto Kassab sem dúvida mantém os democratas como partido relevante no cenário político, mas a verdade é que de todas as legendas, a que mais perdeu foi justamente o DEM. De pouco mais de mil municípios em 2004, conquistados pelo então PFL, o partido não conseguiu desta vez chegar a 800. Mesmo com a vitória em São Paulo, perdeu eleitores, em função, sobretudo, da derrota no Rio, onde a candidata de Cesar Maia acabou com ridículos 3%. Ademais, qualquer analista político sério atribuirá a vitória de Kassab em São Paulo muito mais ao peso jogado pelo PSDB na sua eleição do que propriamente ao DEM. Kassab é um "quase-tucano" e ninguém se espante se ele mudar de partido até 2010. Todas as ressalvas feitas, a vitória paulistana tem o ingrediente de manter os democratas como satélite do PSDB, já que Kassab é um grande entusiasta da candidatura de Serra à presidência. Se ele não trocar de partido, portanto, ou mesmo ainda que troque e mantenha alguma influência no partido, tudo leva a crer que o plano de Cesar Maia de candidatura própria em 2010 será definitivamente sepultado.
Os demais partidos de oposição tiveram uma performance simplesmente ridícula. PPS e PSOL não elegeram ninguém nas 77 maiores cidades do Brasil. O partido de Roberto Freire, é bem verdade, prefere se aliar ao PSDB e DEM em cidade onde não têm lideranças expressivas com chances de disputar uma eleição - ou seja, a maioria delas. Em São Paulo, lançou Soninha e o resultado foi pífio. É um partido que na humilde opinião deste colunista, tende à irrelevância e serve para que políticos cada vez mais reacionários apareçam com verniz esquerdista, sabe-se lá por que razão. Já o ridículo desempenho do PSOL se deve em parte ao fato de que a legenda ainda está em fase muito embrionária - não tem ainda nem uma década de funcionamento - e também a uma certa vergonha de se assumir como extrema-esquerda: é quase inacreditável que tenha passado a campanha sem nem sequer mencionar a crise financeira mundial, assunto que deveria obrigatoriamente estar na pauta de um partido como o PSOL.
Tudo somado, a eleição de 2008 acabou e a de 2010 já começou. Quem larga na frente? José Serra, obviamente, em função da eleição de Gilberto Kassab. Não só a vitória do aliado, aliás, mas a performance patética de Geraldo Alckmin também caiu como uma luva para Serra, que daqui para frente não precisará ser tão cordato com o correligionário. O PT tomou um belo susto ao perder tantas capitais importantes, mas está mais robusto para a disputa de 2010 do que estava em 2006. É bom não desprezar a ampliação do eleitorado e a obtenção de 40% mais prefeituras do que em 2004, pois isto ajuda bastante em eleições gerais, especialmente na logística da formação de palanques e financiamento das campanhas.
Mas a pergunta que não quer calar agora é sobre a posição do PMDB, grande vitorioso nas urnas neste ano. Afinal, como vai se comportar o PMDB? Hoje, a coluna tem certeza que os peemedebistas estão majoritariamente com Lula. Sérgio Cabral, padrinho de Eduardo Paes, adoraria ser vice em uma chapa PT-PMDB. Roberto Requião é Lula. O PMDB de Minas, comandado por Hélio Costa, é Lula. O PMDB da Bahia, de Geddel Vieira de Melo, apesar das rusgas surgidas na eleição atual, também é Lula. Até Pedro Simon agora resolveu ‘lular’ e deu declarações surpreendentes neste domingo, apoiando a idéia de o PMDB indicar o vice em uma chapa encabeçada por Dilma Rousseff. Isto no dia em que PMDB e PT travavam uma disputa dura pela prefeitura de Porto Alegre.
Até agora, a única voz de peso a contrariar o PMDB lulista é a de Orestes Quércia. O presidente da legenda em São Paulo já disse para quem quisesse ouvir que é favorável a uma aliança com José Serra. Em 2002, quando o PMDB estava com Serra, Quércia apoiou Lula, junto com Roberto Requião. E venceu. Agora, o experiente cacique de São Paulo prefere correr ao lado do PSDB e é até possível que em 2010 esteja com Serra, mesmo contra o apoio formal do partido. E também é possível que Quércia consiga mais aliados em seu partido para a causa que defende.
Por fim, não é prudente descartar, em uma situação de mais turbulência, de crise aguda na economia - que ninguém aqui deseja, obviamente, mas também não pode deixar de lado, até para o rigor da análise -, que o PMDB lance um candidato próprio. O grande problema é que não há hoje um nome capaz de unir a legenda. Sérgio Cabral talvez seja o mais forte, mas também sofre resistência. O nome que verdadeiramente uniria os peemedebistas está fora do partido: trata-se de Aécio Neves. Hoje no PSDB, o governador mineiro desmente a mudança de partido toda vez que alguém toca no assunto, mas sem muita veemência, como convém a um bom mineiro. Aécio no PMDB poderia disputar inclusive o apoio enrustido, digamos assim, do presidente Lula. Seria um nome respeitável e provavelmente agregaria mais apoios do que José Serra.
2010 está só começando. Algumas cartas já estão na mesa. Até lá, se o eleitor quiser acompanhar bem o jogo político, deve prestar atenção na economia. Os políticos estão todos de olho no desempenho da economia nacional e quem está com o governo hoje pode amanhã não estar, se a maré mudar. Lula sabe disto e é um arguto analista político, talvez o mais esperto de todos. Enquanto digere os resultados negativos de seu partido nas capitais, certamente não estará lamentando a má sorte de seus candidatos, mas pensando em como melhorar as coisas mais à frente. Para isto, todo o foco de seu governo está em evitar uma contaminação muito grande da crise mundial na economia brasileira. Se tiver sucesso, poderá eleger seu sucessor até com relativa facilidade (ou facilidade enorme, se o candidato for ele mesmo). Caso contrário, a eleição será bem disputada, com diversos candidatos. Talvez até lembre a de 1989, em que quase todos os partidos existentes lançaram algum nome para a presidência. O PMDB pode estar na cédula, com chances até de recuperar o poder que perdeu justamente em 89. Mas muita água vai rolar por debaixo da ponte até 2010. O problema todo é que às vezes a correnteza passa rápido. Rápido demais.
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa.
Blog do autor: http://www.blogentrelinhas.blogspot.com/
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