Um pouco além do "toma lá dá cá"
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- Luiz Antônio Magalhães
- 26/03/2007
A reforma ministerial do presidente Lula está quase completa – agora faltam apenas a confirmação de Carlos Luppi (PDT) na Prevdiência e a indicação do substituto de Waldir Pires na Defesa - provavelmente o comunista Aldo Rebelo.
A esta altura do campeonato, já é possível perceber o sentido geral das mudanças realizadas pelo presidente para o segundo mandato. Em primeiro lugar, Lula ampliou consideravelmente a participação do PMDB em seu governo – um movimento que lhe havia sido recomendado pelo então ministro José Dirceu em 2003, antes da crise do mensalão. Boa parte dos colunistas políticos adora dizer que o PMDB é um partido dividido e que governante algum consegue obter o apoio integral da legenda. De fato, o PMDB realmente é um grande condomínio, o maior da política nacional, mas o raciocínio de que toda negociação com os peemedebistas acaba mal não leva em consideração a alternativa que sobra: deixar o partido de fora da coalizão governista. Ora, neste caso, governo algum consegue tranqüilidade para aprovar as matérias de seu interesse no Congresso e acaba tendo de tocar a administração do país com minoria parlamentar. Isto é possível? Pode até ser – era esta a tese de Heloísa Helena e do pessoal do PSTU –, mas nunca foi tentado no Brasil pós-redemocratização.
PMDB à parte, o presidente decidiu também manter em postos de expressão o PP (Cidades) e o PR (Transportes), incorporando o PDT (Previdência) e diminuindo ligeiramente o espaço do PT (até agora, os petistas ficaram com 14 das 35 pastas, mas ainda correm o risco de perder a Defesa). Mudança significativa também foi o deslocamento do ministro Walfrido dos Mares Guia (PTB) para a secretaria das Relações Institucionais, que tem status de ministério e cujo titular é responsável por toda a articulação política do governo federal. Com este movimento, Lula sinaliza que pretende tentar desanuviar o ambiente e conversar mais, inclusive com a oposição – nos bastidores há quem garanta que essas conversas já estão ocorrendo. A nomeação do jornalista Miguel Jorge para a vaga de Luiz Fernando Furlan tem este mesmo sentido: Jorge é um hábil negociador e será capaz de estabelecer novas pontes para setores onde Lula ainda conta com grande sustentação política, como a mídia conservadora (Jorge é integrante do Conselho Editorial do Estadão, jornal no qual trabalhou como Diretor de Redação por 10 anos) e parte do sistema financeiro.
O sonho do presidente é uma "trégua" até pelo menos 2008, facilitando assim os trabalhos no Congresso. Aliás, a confirmação de Reinhold Stephanes, um político egresso da Arena, com passagem no PDS e PFL, ex-ministro da ditadura militar e do governo Fernando Henrique Cardoso, não deixa de ser também uma demonstração do presidente de que o rumo de seu governo é o centro, e não a esquerda, como temem alguns paranóicos colunistas e gritam em certas manchetes dos grandes jornais brasileiros. Se há "chavismo" em Lula, deve estar guardado a sete chaves, porque nesta reforma não há o menor sinal de esquerdismo, salvo talvez a nomeação de um ministro radicalmente contrário à reforma previdenciária justamente para a pasta da Previdência.
No fundo, Lula é um negociador e está apostando as suas fichas na conciliação de interesses no segundo mandato. Pode funcionar, porque no consórcio tucano-pefelista, bastante rachado no momento, existe a expectativa de retomada do poder em 2010, caso Lula realmente não possa concorrer a mais um mandato. Desta forma, não interessa aos governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), por exemplo, uma crise institucional ou econômica nos próximos anos, uma vez que isto poderia alterar a atual correlação de forças que, imaginam, lhes é favorável e acabar abrindo espaço para uma solução populista no próximo pleito. Tudo que Serra e Aécio não querem, em suma, é marola.
Do ponto de vista do PT e de Lula, a equação está aberta e há dois cenários possíveis: o atual, em que Lula não pode concorrer à reeleição, e o de um grande sucesso na política governamental de acelerar o crescimento econômico, que poderia abrir caminho para a mudança constitucional que permita a Lula o terceiro mandato. Para que a segunda hipótese se concretize, o ideal é costurar agora um grande acordo político que permita, nos próximos dois anos, a aceleração dos trabalhos parlamentares e também do Executivo. É nisto que Lula trabalha, embora ninguém saiba ao certo se ele realmente deseja concorrer mais uma vez em 2010. Se nada mudar, porém, algumas cartas já foram colocadas na mesa: a ministra Marta Suplicy e o governador Jaques Wagner são no momento as apostas mais fortes do PT. Ainda é cedo, mas o jogo começou.
Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).