Serra em São Paulo: um governo à deriva?
- Detalhes
- Luiz Antonio Magalhães
- 18/05/2007
Quando
José Serra (PSDB) venceu a eleição para o
governo de São Paulo já no primeiro turno, no ano
passado, muita gente apostou que ele faria um governo de caráter
progressista, até para ocupar o espaço que o PT vem
abrindo à esquerda do espectro político. O próprio
Serra dizia que estava posicionado "à esquerda" do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não foram poucos
os que acreditaram na palavra do então candidato.
De
fato, nas universidades, por exemplo, já havia uma massa de
professores e estudantes desiludidos com o governo petista que, até
pelo passado de lutas de Serra, via no tucano uma possibilidade real
não de uma guinada radical à esquerda, porque aí
já seria outra desilusão, mas de um governo um pouco
mais atrevido, menos pragmático e menos subserviente ao
mercado financeiro do que o de Lula.
Quase seis meses após
a posse de Serra no Bandeirantes, porém, o que se vê é
um filme estranho, com roteiro quase incompreensível. Claro
que é muito cedo para julgar, mas o que tem acontecido até
agora é desanimador. Nos principais setores do serviço
público, São Paulo está em estado de greve: na
Educação, o governo tucano está às turras
com a Apeoesp; no ensino superior, a reitoria da principal
Universidade do país, a USP, está ocupada por
estudantes que protestam, dizem até que com o aval da própria
reitora, contra a política implantada pelo novo governo; na
Saúde, há uma greve armada que deve começar nos
próximos dias; os policiais militares e civis protestam
contra o novo sistema de Previdência que o governador pretende
implantar; e nos Transportes, para não falar da tragédida
da rua Capri, são os metroviários que ameaçam
com paralisação.
Além dos problemas com
os servidores, Serra está sentado em um barril de pólvora
chamado PSDB paulista. Nos bastidores tucanos, há quem afirme,
naturalmente em off, que o governador trata muito melhor os "inimigos
petistas" do que os amigos de seu antecessor Geraldo Alckmin,
também tucano. De fato, Serra iniciou seu governo fazendo um
verdadeiro "choque de gestão" e escanteando os
colaboradores do ex-governador, alguns dos quais de maneira, digamos
assim, um tanto rude para o padrão tucano de relações
pessoais. Evidentemente, isto não é boa política
para quem almeja seguir em frente e chegar à presidência
da República. Afinal, se Alckmin não for para a briga
da candidatura, será um eleitor poderoso na disputa entre os
pré-candidatos.
Mas se os problemas com os alquimistas
já eram até de certa forma esperados, tendo em vista a
maneira também bruta pela qual Alckmin tirou Serra da eleição
presidencial do ano passado, o que ninguém podia esperar era,
em tão pouco tempo, as disputas internas no PSDB "serrista".
Há briga em todos os cantos e Serra até agora não
mostrou muita vontade em arbitrar as disputas. Um exemplo simples é
o do Instituto Doutor Arnaldo, novo nome do Instituto da Mulher, que
deverá ser inaugurado em julho. Em tese, o instituto faz parte
do complexo do Hospital das Clínicas, mas o secretário
do Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, quer transferir o
instituto para a Unicamp, a fim de controlar ele mesmo o orçamento
de R$ 100 milhões ao ano, que de outra forma ficaria a cargo
da secretaria da Saúde. Este é um dos casos que já
se tornou público, mas há muitos outros, como a própria
disputa em torno do controle do orçamento das universidades
paulistas, tipicamente uma briga de tucanos. Na secretaria da
Cultura, o confronto é entre serristas e
fernando-henriquistas, tendo os últimos trabalhado com sucesso
para manter o maestro John Neschling no comando da Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
Se o
governo estivesse caminhando bem, no entanto, todas essas polêmicas
ficariam para o segundo plano. Mas não está. Goste-se
ou não, o governo Lula, para efeito de comparação,
tem um norte: aposta na fórmula da política econômica
ortodoxa para manter a estabilidade, na eficácia dos programas
sociais para os mais pobres, e na dinâmica de uma economia em
crescimento por causa da bonança do cenário externo.
Podem apostar: Lula fará um segundo mandato parecido com o
primeiro, talvez com um pouco mais de arrojo nos incentivos à
economia real (juros mais baixos, desoneração
tributária, crédito à produção
etc). Já o governador Serra simplesmente não imprimiu
norte algum à sua gestão em São Paulo, pelo
menos não até o momento. Não existe uma "marca"
do governo Serra, coisa que até Geraldo Alckmin conseguiu
fazer com certa celeridade.
Afinal, qual é o plano de
Serra para São Paulo? Até agora, ninguém sabe. O
governador diz que o Metrô e o Rodoanel são suas
prioridades absolutas, mas essas são obras já em
andamento e que ele inclusive não vai inaugurar. Que
iniciativas estão sendo tomadas nos campos da Educação,
Saúde, Agricultura, fomento ao Desenvolvimento? Ninguém
sabe. É cedo? Sim, é cedo, mas algumas coisas já
deveriam estar acontecendo e não estão, provavelmente
em parte pelas disputas internas do governo, mas também pela
inação do governador.
Há pouco tempo,
tudo levava a crer que José Serra iria montar no cavalo selado
que ia passando pelo caminho para levá-lo à presidência
da República. Hoje, as coisas não parecem mais tão
simples assim. O PSDB dividido e com problemas em sua maior vitrine
eleitoral pode ser uma mão na roda para o lulismo continuar no
Poder, com Lula ou sem ele.
Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com
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