Correio da Cidadania

Uma barriga monumental

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No último sábado (19/9), fez dois meses que a Folha de S. Paulo publicou, em edição de domingo e na primeira página, um dos maiores absurdos da história do jornalismo brasileiro, que pode ser conferido abaixo, na reprodução da capa daquele fatídico dia: "Gripe suína deve atingir pelo menos 35 milhões no país em dois meses", vaticinou o jornal.

 

 

Este observador já escreveu sobre o assunto (aqui e aqui), o próprio ombudsman do jornal repreendeu a Redação, mas é preciso voltar ao tema para que os leitores tenham a exata dimensão da barbaridade publicada pela Folha em 19 de julho. Se de fato 35 milhões de brasileiros tivessem sido contaminados pela gripe suína – Influenza A (H1N1), no nome científico –, pela estimativa de letalidade publicada na imprensa (0,6%, em média), 210 mil brasileiros já deveriam ter morrido da doença. Até domingo (20/9), porém, foram notificadas exatas 1.031 mortes em decorrência da gripe suína. A cada ano morrem, da gripe "normal", cerca de 4,5 mil brasileiros, especialmente no inverno.

 

Sem limites

 

A verdade é que a Folha cometeu terrorismo ao levar para primeira página um título irresponsável e jornalisticamente inaceitável, como deu a entender o ombudsman do jornal. Uma reportagem como a que saiu no jornal que se arvora o mais importante do país serve apenas para disseminar o pânico, deixar a população amedrontada.

 

Agora, dois meses após o vaticínio, terá a Folha a coragem necessária para reconhecer o erro? Ou será que vai tudo passar em brancas nuvens, sem maiores esclarecimentos. Os leitores do Correio e do jornal já sabem: a gripe suína nem de longe infectou 35 milhões de brasileiros. E nem vai infectar, até porque a vacina já está praticamente pronta para ser aplicada em larga escala no país. O mínimo que o leitor do jornal merecia, portanto, é uma reportagem explicando por que o jornal cometeu um erro de avaliação tão grotesco. Uma notinha escondida na coluna "Erramos" não é suficiente para reparar o que saiu na primeira página de uma edição dominical.

 

No fundo, a tal gripe suína foi mais uma grande cascata da imprensa, como o Ebola e certas "crises políticas" geradas no conforto das redações. A irresponsabilidade deveria ter limites. Na Folha, ao que parece, não há limites.

 

Luiz Antonio Magalhães é jornalista e Editor Executivo do Observatório da Imprensa, onde este texto foi originalmente publicado.

 

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Comentários   

0 #3 José Petronílio Lopes Cedraz 28-09-2009 19:05
Será que foi apenas uma \"barriga\"? Esta não é a primeira vez que se divulgam com estardalhaço epidemias (ou pandemias)e nada se ver de concreto, pelo menos nas proporções previstas. Houve uma tal de \"peste suina\", há alguns anos atrás, em que emissoras de TV mostraram porcos sendo sacrificados com indenização do Governo. Depois foram séries de reportagens sobre a \"gripe aviária\" e que por conta disso, agora fiquei sabendo, o governo brasileiro comprou furtuna do tal Tamiflu, e que não foi usado. Logo estará com prazo de validade vencido. Agora de novo é o Tamiflu o salvador. Houve também a divulgação do Antrás (acho que era isso) que amedrontou muita gente, com um pó branco sendo enviado pelo correio e o salvador era um tal de Cipro, fabricado por apenas um laboratório.
Portanto acho que pode não ser uma \"barriga\" mas muita gente enche a barriga.
Petronílio Cedraz
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0 #2 Nem tanto ao mar, nem tanto a terraRaymundo Araujo Filho 28-09-2009 14:41
É evidente que temos de denunciar a farsa da mídia corporativa. Mas, a meu ver, isso não deve servir para escondermos, omitirmos ou relevarmos as insuficiências demonstradas pelo Sistema Público de Saúde, incapaz de fazer um mínimo de atendimentos emergenciais, necessários nos locais de moradia principalmente, notadamente das áreas mais densamente povoadas nas e pobres, quando não miseráveis de nossos grandes centros urbanos e suas periferias.

Demorou-se muito para tudo. Os 22 pontos de fronteira seca entre a Argentina (grande emanadora de contágio) e o RS, só passarm a ser fiscalizados (são totalmente abertos), já com andamento de mais de duas dezena de mortes no Estado gaúcho.

No Rio, embora esteja em vigor ainda, aquele Ato Presidencial, considerando a Saúde da cidade do Rio em Intervenção Federal, foi o que se viu. Um descalabro, onde sequer aquelas lonas e mobilização dos profissionais de saúde Forças Armadas foram armadas, senão quando a histeria e desgastes com deslocamentos penosos, desnecessários e perigosos se faziam da periferia para os Centros de Referência, isto é, os Grandes Hospitais, estes combalidos, mas ao menos abertos, ao contrário da Rede de Atendimento Básico da periferia QUE SEQUER FUNCIONA.

Isso associado ao regime de terceirização dos plantões e atendimento médico deu no que deu. Médicos terceirizados, simplesmente não iam ao trabalho (pela exposição real a riscos pessoais, pelo caos formado) e simplesmente têm (ou não) seus contratos reincindidos, com a Cooperativa (empresa contratante, sem penalizações,.

A ENSP e a FioCRUZ (no Rio) e os Centros de Excelência das Universidades tiveram papel muito pequeno, senão nulo, na questão. Em Niterói, por exemplo, a discussão era se a emergência do principal hospital e tradicional da cidade, o Antônio Pedro (coitado do homenageado pelo nome) era se a emergência devia continuar fechada ou não...continua fechada.

A mentira governamental e de alguns tecnocratas da Saúde Pública Brasileira, de que esta gripe \\\"é como outra qualquer\\\", fez com que se demorasse a detectar que as grávidas e crianças de de pouca idade têm um índice de morbidade e mortalidade mais alto. Ceifaram-se muitas vidas, por esta estupideses.

E, para terminar, a incapacidade do Sistema em adotar o aconselhamento da População adotar medidas popularmente conhecida, como o uso da própolis, geléia real (esta para os ricos), guaco, agrião, acerola e cítricos em geral, suco de couve com cítricos, a popular banana, Capim limão (riquíssimos também em vit. C), e o ANIZ Estrelado (matéria prima do TAMIFLU - aniz este que a ROCHE compra 90% da produção mundial), ou o brasileirissimo e farta por aqui ERVA DOCE, como forma de manter PARTE da população mais protegida, o que em números estatísticos, ajudaria a diminuir os sinistros pessoais. Ao contrário, ouvi de muitos médicos \\\"doutores em academicismo da saúde pública\\\", mas pouco de saúde pública, que \\\"não recomendamos o que não é Cientificamente Comprovado\\\". É o que dá só ler as revistas dos laboratórios Internacionais...

E não é pouca coisa termos sido o quaro ou quinto país em mortes (em ralação a população) e o maior em mortes absolutas com a Gripe Suína.

Assim, reafirmando que devemos denunciar o besteirol reacionário da mídia, penso que não devemos perder de vista as análises REAIS do desenmpenho de um governo, o Federal que gasta MENOS de 5% do orçamento Público na saúde, enquanto Mais de 30% para o pagamento de uma Dívida Pública, a Rainha do pagode da Especulação Financeira.

Nem tanto ao mar....
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0 #1 Que Vergonha!!!Thiago Hilário 26-09-2009 08:02
Isso realmente é uma grande vergonha, e o pior é saber que conversando com alguns colegas assinantes Folha, fui obrigado a ouvir "eles cometeram um pequeno erro, o que tem de mais". A verdade é que a burrice brasileira está aumentando cada vez mais. Eu percebi que quando fala sobre números grandes, como milhares, bilhões, trilhões e etc. O povo fala "nossa"!?. E fica por isso mesmo. Se fosse dado uma noticia dizendo que morreram 10 ou 20, todos ficariam mais apreensivos, mas como se falam em mais de mil, o próprio cidadão Brasileiro ignora. Aqui em minha cidade tem o hospital das clinicas da unesp. Quando saiu a primeira notícia que tinha 4 casos de morte, mas, que os pacientes eram de fora, a população ficou tranqüila, como se nada estivesse acontecendo, quando disse em uma segunda reportagem que tinha um caso da cidade, era mascara para todos os lados. Incrível como o povo consegue combinar tão bem ignorância e burrice!
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