Correio da Cidadania

PIB explica o marasmo da opinião pública

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O Brasil deste começo de segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um país bastante diferente do que o presidente encontrou em 2003. Naquele ano, a inflação anual passava dos dois dígitos, o dólar estava perto de R$ 4 e o risco-país, na casa dos dois mil pontos. A economia desorganizada obrigou o novo governo a impor um "choque de credibilidade", que acabou por resultar em um primeiro ano de estagnação econômica. Hoje, tudo é muito diferente. A inflação está em 3% ao ano, o risco-país bate recorde a cada semana - felizmente, recorde positivo, isto é, está cada dia mais baixo - e, conforme os dados do PIB anunciados nesta semana, a economia segue em fase de crescimento.

 

O PIB diz respeito ao comportamento dos agentes econômicos, mas serve também para explicar muita coisa na esfera política. Basta fazer um gráfico com as taxas de crescimento da economia para observar, ao longo da história do Brasil, que os momentos de crise política mais agudas, que de fato resultaram em mudanças institucionais, em geral coincidem com períodos de recessão econômica. Foi assim, por exemplo, no final da ditadura militar (crise de 81/82), no ocaso do governo Sarney (1989) e no impeachment de Collor. Uma forma de entender este fenômeno é pensar que o povão acha todos os políticos um pouco corruptos e só se irrita de verdade quando sente que eles estão roubando e a sua própria situação está piorando. Se os políticos roubam, mas o país está indo bem, há empregos e a renda cresce, a população já não reage da mesma maneira, há um grau de tolerância maior.

 

Aparentemente, é o que acontece no governo Lula. As denúncias de corrupção pululam desde o escândalo do mensalão e não cessaram neste começo de segundo mandato, ao contrário, têm sido bastante divulgadas pela grande imprensa nacional, com destaque muitas vezes bem além do que seria desejável por critérios jornalísticos sérios.

 

Nada disso, porém, afeta a imagem pessoal do presidente Lula ou de seu governo. A oposição não consegue bancar o "Fora Lula" exatamente porque a economia vai muito bem e o povão, comparando a Era FHC com os primeiros anos de Lula, deve concluir que roubalheira por roubalheira, as ocorridas sob Lula estão sendo investigadas e ocorrem com o país melhorando bastante. Antes, havia corrupção, mas a economia só fazia piorar...

 

 

Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).

 

Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com

 

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