A solução de Lula para a Defesa
- Detalhes
- Luiz Antonio Magalhães
- 27/07/2007
Waldir Pires fez na semana que passou o que deveria ter feito já no ano passado: pegou o seu banquinho e saiu de mansinho. Um pouco tarde, é bem verdade. Quando caiu o avião da Gol, em setembro último, esta coluna recomendou vivamente a demissão do então ministro da Defesa. Waldir Pires é um homem honesto, honrado e competente, mas estava no lugar errado, no momento errado.
O presidente Lula tinha razões de sobra para evitar queimá-lo, jogando o experiente Waldir às feras da mídia e da opinião pública como uma espécie de bode expiatório da crise, e foi em boa medida pelo pudor de Lula que Waldir permaneceu no cargo.
Com o acidente de Congonhas, porém, a situação, que já era insustentável lá atrás, chegou a um ponto em que nenhuma outra ação fazia sentido. Vamos ser claros: Waldir não é o culpado pela crise, mas perdeu de tal forma a autoridade no ministério da Defesa que já não era mais um ministro de fato. Teria sido muito melhor se ele tivesse saído antes, mas Lula insistiu em preservá-lo e a situação só piorou.
Ou o presidente colocava no ministério alguém com capacidade de gerenciar uma crise, ou teria ele mesmo que agir neste sentido, o que, além de arriscado, é improdutivo, pois não é tarefa de presidente lidar com este tipo de questão. Era preciso alguém com saúde e disposição para enfrentar lobbies poderosos e moral para comandar as Forças Armadas, coisa que não se encontra facilmente na praça.
A escolha de Nelson Jobim para substituir Waldir Pires não chegou a surpreender e tem várias vantagens, do ponto de vista do governo Lula. Primeiro, Jobim é um homem com excelente trânsito no tucanato, especialmente com o governador de São Paulo, José Serra. Isto deve ajudar a serenar os ânimos e evitar a politização da crise aérea.
Jobim possuiu os requisitos básicos para assumir a Defesa: é experiente - já presidiu um ninho de cobras chamado Supremo Tribunal Federal e foi ministro da Justiça na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Com este perfil, portanto, não deve ter grandes dificuldades para impor o seu comando sobre as três Forças Armadas. Também terá, digamos assim, jogo de cintura suficiente para encarar os lobistas das companhias aéreas.
Além de todos esses fatores, Jobim é um homem ambicioso. O desafio da crise aérea é grande, mas se o ministro conseguir solucioná-lo, vai se tornar um candidato fortíssimo à sucessão de Lula, pelo PMDB. Não depende só dele, mas a verdade é que a faca e o queijo estão nas mãos de Jobim. Lula queria tê-lo como candidato a vice-presidente em sua chapa no ano passado, já pensando em 2010 (ou 2014...). Por caminhos diversos dos inicialmente imaginados, Jobim pode, sim, se tornar em uma alternativa negociada para a sucessão presidencial, contemplando o lulismo e uma parcela da oposição que a rigor em nada se diferencia do PT no poder...
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com
Para comentar este artigo, clique aqui.