A hora e a vez de Eduardo Azeredo
- Detalhes
- Luiz Antonio Magalhães
- 26/09/2007
O caso das
denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já começa a
esfriar na mídia e deve acabar sendo deixado de lado em breve, tão logo o
Procurador-Geral da República apresente a sua denúncia sobre o mensalão tucano,
esquema que teria como chefe o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
O maior problema do mensalão tucano é que as primeiras alegações dos próceres
do PSDB já começaram a fazer água. Quando estourou o esquema petista e o
empresário Marcos Valério foi apresentado ao distinto público, a denúncia sobre
o caixa dois da campanha de Azeredo também ganhou as páginas dos jornais, mas
acabou ficando em segundo plano em função da grande repercussão das falcatruas
envolvendo o PT, algo que pelo critério jornalístico era "mais
notícia", uma vez que falcatruas tucanas eram então consideradas
corriqueiras... De todo modo, o que disseram os líderes do PSDB à época foi que
o caso de Azeredo não se configurava como mensalão porque não havia dinheiro
público envolvido.
Pelo que se sabe agora, o Procurador-Geral vai demonstrar que houve, sim,
desvio de recursos públicos no mensalão tucano, desmoralizando a argumentação
inicial. Teve dinheiro da Cemig, do governo de Minas e outras autarquias.
Azeredo, é claro, nega tudo e reafirma que as peças publicitárias fictícias (e
que foram usadas para justificar o desvio) existiram.
Eduardo Azeredo é um homem de sorte porque o ministro Walfrido dos Mares Guia
(Articulação Política) está também ele envolvido no tal mensalão tucano. O PT
também não tem lá grande vontade de mexer no vespeiro do mensalão tucano porque
teme que alguns dos seus apareçam mal na fita, além, é claro, de Walfrido. De
fato, até agora a base governista vem ignorando solenemente o caso, justamente
para não deixar respingar no ministro. PSDB e DEM, por outro lado,
continuam dando sustentação ao mensaleiro Azeredo, mas já há vozes nos dois
partidos defendendo, sempre com muita discrição, que o senador
mineiro seja "queimado" para permitir que os dois partidos
continuem em sua pregação contra o "governo mais corrupto da
história". Sim, porque parece cada vez mais evidente que há uma
contradição em defender a tese de que os mensaleiros petistas são bandidos e,
ao mesmo tempo, preservar o "chefe da quadrilha" do mensalão tucano.
A situação de Eduardo Azeredo pode se complicar em seu próprio partido, mas é
claro que ele não é nenhum néscio e vai jogar o mesmíssimo jogo que o
presidente do Senado soube jogar tão bem: o tucano mineiro conhece histórias
cabeludas sobre os seus correligionários e aliados democratas. Pode
perfeitamente mandar vazar algumas, só para dar um pouco de frio na barriga nos
amigos. Não é certo que vá fazer isto, mas pode ameaçar este
movimento.
Mas não é mesmo uma escolha fácil para o PSDB entregar a cabeça de Azeredo para a opinião pública. Só que não parece haver alternativa razoável. A julgar pelo passado tucano, em algum momento os fatos vão atropelar o processo decisório do partido, sempre excessivamente cauteloso e moroso. A bola ainda está com o Procurador-Geral: todos aguardam o conteúdo da denúncia. Uma vez tornado público este material, o jogo começa de verdade...
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br). Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com
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