Combatendo moinhos de vento
- Detalhes
- Luiz Antonio Magalhães
- 09/04/2007
Em {ln:a troca de ministros 'artigo neste Correio},
Waldemar Rossi comentou a troca dos ministros do Trabalho e Previdência e
vocalizou uma tese corrente nos partidos de esquerda (PSOL e PSTU): o governo
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai promover mais uma rodada de reformas
de caráter neoliberal. O colunista também informa, no texto, a criação do
“Fórum Nacional de Mobilização Contra as Reformas Neoliberais” e a
realização de protestos entre os dias 22 e 25 de maio.
Esta coluna discorda da visão dos dois partidos de esquerda sobre o que está em
curso neste início de segundo mandato do presidente Lula. A nomeação do
jornaleiro brizolista Carlos Lupi para o ministério do Trabalho e as primeiras
declarações do novo ministro indicam que não será no governo Lula que a CLT sofrerá
mudanças.
Na verdade, para que uma reforma trabalhista de caráter neoliberal ocorra, será
preciso trocar o ministro. Lupi não vai trair a sua própria biografia nem o
legado de Leonel Brizola e, embora esteja de fato politicamente próximo da
Força Sindical, como lembra Waldemar Rossi, tem posições próprias a respeito do
que fazer no ministério. Em suas primeiras entrevistas, garantiu que seu foco
será a geração de emprego e deu a entender que não há uma única vírgula que
mereça ser mexida na CLT.
Waldemar Rossi não menciona, mas vale a pena lembrar que, além da nomeação de
Lupi, o presidente Lula também sinalizou, ao vetar a Emenda 3 do projeto que
criou a Super Receita, que não está disposto a ser tolerante com a
flexibilização disfarçada dos direitos trabalhistas – um processo que ocorre em
alguns setores econômicos desde o governo Fernando Henrique, mas que vem sendo
em parte revertido com a intensificação da fiscalização pelas Delegacias
Regionais do Trabalho, atualmente comandadas por integrantes da CUT. O
Conlutas, é bom frisar, reconhece o acerto do veto à Emenda 3, embora se
manifeste também contra a criação da Super Receita. Não deixa de ser um pouco
irônico o fato de a esquerda radical estar em pleno acordo com os empresários
sonegadores na luta contra o aumento da fiscalização que a Super Receita no
fundo representa.
Se no ministério do Trabalho as coisas parecem estar caminhando para a
permanência da atual legislação, na Previdência, o próprio presidente Lula já
avisou que pretende discutir uma segunda reforma. Esta coluna aposta que Lula
vai dar ao ministro Luiz Marinho a tarefa de montar um bom grupo de trabalho
para discutir, discutir e discutir mais um pouco as tais mudanças na
Previdência. A gestão de Nelson Machado, elogiada por economistas da esquerda
mais radical, impediu qualquer tipo de ação "neoliberal" no
ministério da Previdência. Ao contrário, o que o ministro conseguiu foi grande
avanço ao retirar os trabalhadores rurais aposentados da conta da Previdência,
reconhecendo que os benefícios a eles destinados fazem parte da política social
do governo e deverão ser bancados diretamente pelo Tesouro Nacional. Waldemar
Rossi peca ao imaginar que Luiz Marinho, um sindicalista com ambições políticas
imediatas – será candidato a prefeito de São Bernardo do Campo em 2008 –, vai
tomar medidas antipopulares em sua curta gestão na Previdência. Também aqui,
para haver uma reforma "de caráter neoliberal", será preciso antes
trocar o ministro.
Tudo somado, os dois partidos de esquerda estão correndo um sério risco de
lutar contra moinhos de vento. De fato, vai soar um pouco ridículo levantar
frases de efeito contra medidas que o presidente Lula simplesmente não vai
tomar. Tal situação lembra um pouco a de 1994, quando Lula e Brizola
condenaram o Plano Real e desdenharam a derrubada da inflação. Como se sabe,
quebraram a cara, porque o povão imediatamente sentiu – inclusive no bolso – os
benefícios do fim da espiral inflacionária e elegeu, já no primeiro turno, o
tucano Fernando Henrique Cardoso.
Se a esquerda não arrumar uma agenda mais propositiva e continuar gritando
contra reformas que o governo não está com muita vontade de realizar, não
conseguirá ocupar um novo espaço político e vai deixar o PT nadar de braçada no
espectro de esquerda do eleitorado, como ocorreu na eleição presidencial
do ano passado. Em síntese: dizer que Lula é neoliberal pode fazer sucesso
entre os atuais militantes do PSTU e PSOL, mas, sem bons argumentos, que provem
a acusação, a população não vai se convencer de tal conversão do ex-operário
que governa o Brasil.
Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com
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